Por Andrea Ornelas, swissinfo.ch
Em 2008, o think tank Avenir Suisse já alertava para o crescimento da imigração de trabalhadores na Suíça.
"A
nova política de imigração, que permite a livre circulação de pessoas, e
a nova Lei de Estrangeiros vão acelerar a entrada dos trabalhadores,
especialmente os altamente qualificados. Eles cobrirão o déficit de mão
de obra que existe no mercado de trabalho suíço e contribuirão
decisivamente para o crescimento econômico."
Isto é o que o então
Avenir Suisse dizia no livro "A nova imigração", que contou com a
participação dos pesquisadores e Werner Haug e Daniel Müller-Jentsch. Os
números da Secretaria Federal de Estatística (OFS, na sigla em francês)
dos três últimos anos confirmam essa previsão.
Entre 2008 e
2011, a população estrangeira na Suíça aumentou em 144.300 pessoas, uma
parcela significativa vinda da Europa Oriental, mas também dos países do
sul da União Europeia (UE), como Portugal e Espanha.
Cláusula de salvaguarda
Há
algumas semanas, a Suíça anunciou sua intenção de ativar a cláusula de
salvaguarda negociada com Bruxelas para assinar o acordo sobre livre
circulação de pessoas. Uma cláusula que lhe permite parar a imigração de
trabalhadores europeus se o número de imigrantes torna-se preocupante
para o mercado de trabalho suíço.
Especificamente,
o governo suíço começou a limitar, desde primeiro de maio, a entrada ao
país de trabalhadores da Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia,
Eslováquia, Eslovênia e República Tcheca.
A decisão foi baseada
em um argumento técnico da Secretaria Federal de Migração (OFM, na sigla
em francês): a cláusula de salvaguarda pode ser aplicada se o número de
vistos de curta ou longa duração para os trabalhadores dos oito países
membros da UE for maior do que 10% da média anual dos vistos concedidos
nos três anos anteriores.
"Esta medida envia um sinal claro para
mostrar a que ponto chegou o fenômeno migratório nos últimos anos,
particularmente em 2011", disse à swissinfo.ch o embaixador da Suíça
para a Espanha e Andorra, Urs Ziswiler.
"A Suíça não usou a
cláusula há dois anos com relação aos 15 países da UE, porque considerou
que não era necessário", acrescenta.
Urs Schüpbach, diretor
geral da agência de emprego Manpower Suíça, observa que "esta decisão
permitirá à Suíça controlar o número de trabalhadores provenientes
destes oito países apenas no período de 1° de maio de 2012 a 2014, no
máximo".
Segundo
Schüpbach, o mercado de trabalho suíço não será significativamente
afetado, entre outras razões porque "o número de trabalhadores oriundos
destes países (Europa Oriental) é baixo quando comparado ao mercado de
trabalho suíço geral", disse.
Mais portugueses, mais espanhóis
As
finanças públicas de Portugal e Espanha estão imersas em programas de
austeridade rígidos e as taxas de desemprego dessas economias têm
alcançado níveis recordes: 14% e 23% respectivamente.
De acordo com dados publicados no jornal Le Temps,
os quatro países que mais enviaram trabalhadores à Suíça em 2011 foram a
Alemanha (12.601), Portugal (11.018), Itália (5.318) e Espanha (2.586).
Com
relação à Espanha, o embaixador Ziswiler disse que "a crise não acabou"
e que o país "ainda tem pela frente alguns anos de adaptação, onde o
desemprego continuará alto e a competitividade deverá melhorar".
Portanto, o espanhol continuará procurando novos caminhos no exterior.
Em
Portugal, a Secretaria Federal de Economia da Suíça (Seco) estima em
suas "Tendências conjunturais para 2012" que a migração deve continuar,
empurrada pela crise geral na zona do euro e a rigidez do mercado de
trabalho português.
Mais oportunidades
Que impacto a decisão de limitar a entrada na Suíça dos cidadãos da Europa do Leste vai ter para Espanha e Portugal?
"Pode
facilitar a entrada dos trabalhadores espanhóis na Suíça, porque haverá
mais oportunidades de emprego para eles. A livre circulação de pessoas
consiste precisamente na existência de um acordo entre duas partes, um
contrato de trabalho e, consequentemente, o direito dos cidadãos da UE
de residir legalmente na Suíça", diz Urs Ziswiler.
"Com
uma taxa de desemprego que afeta 23% da população economicamente ativa,
na Espanha há hoje muita gente procurando trabalho. No passado, a Suíça
precisava de mão de obra para a construção e pessoal para a hotelaria.
Mas hoje o país precisa principalmente de pessoas qualificadas", diz o
diplomata.
"Os
espanhóis, em particular, são bem qualificados. E há grandes
engenheiros, programadores e arquitetos que podem desfrutar de boas
oportunidades de carreira, só precisam ter conhecimento de outras
línguas. Acho que este é um dos principais pontos fracos no campo
profissional", acrescenta.
Enquanto
isso, Urs Schüpbach, o diretor da Manpower Suíça, confirma que no setor
da construção, há também uma forte presença de trabalhadores
portugueses e espanhóis que deve continuar.
Andrea Ornelas, swissinfo.ch
Adaptação: Fernando Hirschy
Swissinfo.ch, aqui.