A 16 de dezembro último, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas revelava que Portugal iria criar um Consulado Honorário em Andorra. Foi a alternativa encontrada para o encerramento da Embaixada e do Consulado de Portugal no Principado, uma decisão que gerou muitos protestos da vasta comunidade portuguesa. A 9 de maio foi publicada em Diário da República, a nomeação de José Manuel Silva para o cargo de cônsul honorário. Mas até ao fecho desta edição, o empresário e ex-conselheiro das Comunidades Portuguesas estava a aguardar instruções do Governo português sobre o início da sua entrada em funções, como explicou em entrevista a este jornal.
O que o motivou a aceitar o cargo?
A vontade de ajudar, de fazer algo pela comunidade portuguesa. A experiência destes últimos quatro anos como conselheiro das Comunidades Portuguesas em Andorra, ajudou-me a decidir aceitar o convite do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Também o meu trabalho faz-me estar todos os dias em contato com os portugueses aqui. Foi algo que me deu forças para aceitar este cargo e frente e ajudar no que for preciso.
O cargo de conselheiro permitiu-lhe estabelecer uma relação com as autoridades andorranas ...
A relação que tenho com o primeiro-ministro e alguns ministros e presidentes de câmara é boa, já nos conhecemos há bastante tempo. Nunca tive problemas em fazer chegar a esses governantes qualquer problema que afetasse os portugueses. Neste momento, há uma relação muito boa entre Andorra e Portugal.
Que opinião têm as autoridades andorranas, da comunidade portuguesa?
Eu diria que nos últimos dez anos - desde que tem havido um conselheiro das comunidades portuguesas e desde a abertura da embaixada de Portugal - ela tem-se tornado mais visível. A abertura da embaixada e do consulado há 11 anos trouxe-nos prestígio junto das autoridades andorranas. Penso que a comunidade portuguesa é respeitada e bem acolhida em Andorra. E há aqui muitos empresários portugueses, com prestígio.
A abertura do consulado-honorário seria uma boa forma de se comemorar o 10 de Junho em Andorra...
Da minha parte, digo que seria fantástico. Até se pudesse, ser já no dia 1 de Junho, para que os portugueses não tivessem que continuar a deslocar-se ao consulado geral em Barcelona (Espanha) para tratar de documentação. Faz realmente falta, depois de tantos meses sem nenhuma representação consular. Desde 10 de janeiro, quando a embaixada foi fechada, os portugueses que vivem em Andorra têm que deslocar-se cerca de 300 quilómetros até Barcelona, e outros 300 de volta, para tratarem de qualquer assunto.
Quais os principais objetivos que leva para estas novas funções?
Objetivos, tenho muitos e, sinceramente, espero fazer o meu melhor. Mas estou ainda à espera de saber exatamente quais serão as funções deste consulado, que competências terei em Andorra. A nomeação foi publicada há pouco tempo, a 9 de maio. Mas em princípio, serão praticamente todas, entre as quais a emissão e passaportes e do cartão do cidadão. O consulado honorário terá dois funcionários: a Sofia Borges e o António Costa, que já estão cá e muito motivados para trabalhar e ajudar a comunidade portuguesa. Espero estar altura do cargo e da minha parte, vou dar o meu melhor para representar bem o nosso país em Andorra.
Em 2010, afirmou a este jornal que o grande problema dos portugueses em Andorra era a falta de trabalho. Ainda é o grande problema?
Esse é atualmente, o grane problema de Andorra em geral. Pela primeira vez no país o fundo de desemprego superou as mil pessoas. Aqui, até há pouco, nem se falava em fundo de desemprego. Há muita gente sem trabalho. A comunidade portuguesa, que era formada por 13.800 pessoas, segundo os dados mais recentes tem vindo a baixar. Andorra tinha cerca de 85 mil habitantes e agora não terá mais do que 75 mil. Houve muita gente a deixar este país que não escapou da crise que afeta a Europa. A maior preocupação vivida neste momento pelos portugueses em Andorra é levantarem-se de manhã e terem um posto de trabalho para onde ir.
A construção civil, onde trabalham muitos portugueses, foi um setor fortemente atingido?
Foi o mais atingido com a crise em Andorra.
Deixou o Conselho das Comunidades Portuguesas...
Renunciei ao cargo de conselheiro das comunidades quando aceitei assumir as funções de cônsul-honorário. Mas espero que, quando houver novas eleições para o CCP, haja candidatos de Andorra. A figura do conselheiro é muito importante aqui e ele poderá fazer um bom trabalho. Eu estou contente com o trabalho que fiz, mesmo sabendo que nem toda a gente terá gostado.
Foram quatro anos de bastante trabalho?
Foram complicados. A questão do aumento do valor do IMI cobrado aos emigrantes de Andorra pelo Ministério das Finanças de Portugal, foi a mais recente. Mas houve a polémica do encerramento da embaixada e do consulado, o acidente na construção do túnel de Dos Valires, onde morreram cinco portugueses. Esse, aliás, foi o momento mais difícil que passei como conselheiro. Mas houve momentos muito bons, como o colóquio sobre a integração da comunidade portuguesa e houve ótimas celebrações do Dia de Portugal. Houve ainda um bom trabalho com o movimento associativo. Conseguimos - com o apoio do embaixador e dos funcionários do consulado - que as associações organizassem festas e trabalhassem em conjunto, com espírito de união. Por tudo isso é que vou com confiança assumir estas novas funções, sempre com o intuito de dar o meu melhor, num espírito de cordialidade. Espero que, com a ajuda de todos, este consulado-honorário possa continuar o trabalho realizado anteriormente pela embaixada e pelo consulado.
Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org
Consultado em 28 de Maio de 2012, aqui.