Se é verdade que a emigração portuguesa teve o seu início na época dos descobrimentos, a Venezuela é bem um desses exemplos já que há registos de portugueses no território desde 1492. Há historiadores que sustentam também que, em 1496, quando o rei D. Manuel I expulsou de Portugal os judeus que não queriam converter-se ao cristianismo, muitos deles procuraram refúgio na Holanda, tendo partido daqui para as Antilhas Holandesas, nas Caraíbas. A proximidade geográfica determinou a passagem de mais alguns portugueses de Curaçao para a Venezuela.
Apesar de a presença dos portugueses no território só se tornar efetiva no século XVI, alguns historiadores afirmam que a primeira comunidade de portugueses se fixou na região só no princípio do século XVII, já que no ano de 1601 Filipe II de Espanha permitiu que os portugueses circulassem livremente e se estabelecessem nas suas colónias da América - incluindo a Venezuela - com a missão, entre outras, de evangelizar os povos.
Mais tarde, no século das independências latino-americanas, temos o registo de que alguns portugueses lutaram ao lado de Simón Bolívar pela libertação da América Hispana.
Entre outros, o nome de José Inácio de Abreu e Lima, nascido no Brasil em 1794, consta no monumento «La Nación a sus Próceres», localizado numa das principais avenidas de Caracas.
A grande emigração
Depois de uma época marcada pelas lutas políticas internas, António Gusmán Blanco viria a assumir o poder na Venezuela em 1870. Promoveu a imigração europeia, facilitando sobretudo a entrada de pessoas oriundas destas
ilhas para terras venezuelanas. Junto foram alguns portugueses.
Já no século XX, a comercialização do primeiro poço petrolífero da Venezuela pela Caribbean Petroleum Company, em 1914, e o processo de industrialização que se segue, estimularam a chegada de mais uma importante vaga migratória proveniente da Europa, especialmente espanhóis, italianos e portugueses. A partir da década de 1920, foram, uma vez mais, as atraentes condições de emprego na Venezuela que estimularam a chegada de um contingente de trabalhadores portugueses que tinham partido do porto do Funchal, para ir trabalhar nas refinarias de petróleo instaladas na ilha de Curação.
Com a política de imigração do general Eleazar López Contreras, Presidente entre 1836 e 1941, foi aplicado um Plano Global de Modernização Económica que implicava a entrada de trabalhadores estrangeiros provenientes principalmente da Europa, com o fim de responder à procura nos setores da agricultura e da construção com mão-de-obra especializada e com experiência nestas áreas. Mas é entre 1947 e 1957 que podemos falar de um verdadeiro "boom" de imigrantes. Há registo de que durante este período entraram na Venezuela perto de 800 mil imigrantes.
Duas razões são apontadas: as difíceis condições de vida na Europa do pós-guerra e a política, uma vez mais favorável à imigração europeia, do novo Governo do general Marcos Pérez Jimenes, que governou o país entre 1952 e 1958. Neste ano termina a política de «portas abertas». Razões de índole política mas sobretudo de índole económica levaram o Governo de Rómulo Betancourt a fechar as fronteiras aos imigrantes, principalmente aos europeus cuja mão-de-obra exercia grande pressão sobre o mercado de trabalho interno. De facto, a recessão que se viveu na Venezuela a seguir a 1958 viria a provocar uma taxa de desemprego generalizada no país. Como consequência da nova política de imigração adotada pelo Governo democrático e até 1973, a média relativa à imigração estagna em 13 mil estrangeiros por ano.
No entanto a partir do biénio 1973-1974, e graças ao "boom" petrolífero que ocorreu na Venezuela, o movimento migratório que tinha começado a estagnar a partir de 1958, revigora-se.
A grande maioria é de origem latino-americana mas junto vêm também muitos portugueses também. De facto, com a crise europeia que deriva principalmente do aumento do preço do petróleo, a Venezuela volta a ser um dos destinos preferidos para a emigração portuguesa. Por outro lado, e depois do 25 de Abril de 1974, sabemos que Portugal viveu momentos difíceis em termos institucionais, económicos e políticos. O aumento do desemprego e a desvalorização da moeda, entre outras, são razões apontadas para explicar nesta conjuntura a saída de muitos portugueses.
Novos Tempos
O aumento da despesa pública interna e por consequência do excessivo endividamento levam no principio dos anos 90 a uma deterioração económica e social na Venezuela, registando até revoltas populares de protesto pelo enorme aumento dos impostos decretados na segunda presidência de Carlos Andrés Pérez (1989-1993). E com a crise instala-se uma tal instabilidade que permitiu o golpe de Estado encabeçada em 1992 pelo coronel Hugo Chávez Frias, com a consequente destituição do Presidente Carlos Andrés Pérez em 1993, acusado de corrupção.
Com a entrada em vigor da nova Constituição da Venezuela em 1999 é reconhecido aos estrangeiros com mais de dez anos de residência no país, o direito ao estatuto da dupla nacionalidade.
Os hábitos alteram-se e nomes como Teixeira, Silva, Oliveira, Pereira, Mendes, Castro, Machado, Costa, Pinho, entre tantos outros, são já nomes comuns na Venezuela. A inserção dos portugueses na sociedade venezuelana manifesta-se também claramente na elevada afluência e participação dos lusodescendentes nas diferentes escolas e universidades do país; na divulgação permanente dos nomes de Luís de Camões e de Fernando Pessoa; na troca gastronómica que fez dos portugueses adeptos entusiastas da arepa, da empanada de cazón, do pabellón criollo, da chicha. Em contrapartida, os venezuelanos aprenderam a comer bacalhau com azeite e a beber vinho tinto, de preferência um bom vinho português. Alguns historiadores afirmam que foram os portugueses que introduziram os hábitos do pão e da salada, hoje generalizados.
No campo religioso, vale a pena referir que, num país maioritariamente católico, a fé em Nossa Senhora de Fátima contagia desde há muito o povo venezuelano. Isto torna-se evidente se considerarmos as inúmeras procissões que se realizam no dia 13 de Maio, um pouco por todo o país.
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