Lisboa, 14 jan 2011 (Ecclesia) - É cada vez mais difícil encontrar emprego na Europa, os salários baixam e os contratos são precários, mas continua a haver portugueses decididos a emigrar, ainda que alguns não tenham que comer nem encontrem onde dormir.
Há emigrantes lusos que diariamente "têm batido à porta das missões católicas em busca de alimentação e dormida", afirmou à Agência ECCLESIA o coordenador nacional da Pastoral das Missões da Igreja na Suíça, acrescentando que no último ano entraram no país cerca de 11 mil portugueses.
O padre Aloísio Araújo relatou que a maioria dos emigrantes encontra "grandes dificuldades" no país helvético devido a um mercado de trabalho "saturado" e cada vez mais competitivo.
"Chegam não só portugueses mas também pessoas dos países de Leste ou do norte da Europa, que procuram emprego mas não o encontram ou trabalham precariamente porque o mercado está saturado e os salários também desceram", disse.
Esta realidade não muda os planos de João Carita, 23 anos, que vai para a Suíça com a namorada na esperança de encontrar melhores condições de vida.
O jornalista recusa a ideia de pertencer à "geração dos 30 anos que ainda está na casa dos pais" e por isso desistiu de procurar emprego em Portugal, o mesmo acontecendo com a namorada, enfermeira.
"Da parte dela é quase impossível porque não há abertura de vagas para os hospitais. Em relação a mim, embora tenha uma vasta experiência, esta acaba por me condicionar. Não me sujeito a tudo aquilo a que recém-licenciados se sujeitam", frisou.
A esperança de encontrar emprego depois de concluído o curso desvaneceu-se: "Assim que saí da faculdade a primeira ideia era entrar no mercado do trabalho, no meio do jornalismo, e experimentei estágios não remunerados. Fiz disso para começar a ganhar o meu espaço, mas acabo por não ter nenhum espaço garantido".
O antigo diretor do Serviço da Pastoral dos Migrantes da Conferência Episcopal Francesa lamenta os apelos à emigração feitos pelo Governo de Pedro Passos Coelho: "Já se empurram as pessoas portas fora: desempregados, diplomados e indiferenciados, salvem-se enquanto podem!".
A viver em Orléans, 150 km a sul de Paris, o português José Coutinho da Silva descreveu a atual emigração lusa: "São jovens - 18/35 anos, chegam com filhos muito pequenos, primeiro através de empresas de recrutamento, agora e cada vez mais pelas redes familiares ou de vizinhança que os acolhem em casa, ajudam-nos a encontrar trabalho essencialmente na construção civil, nos serviços domésticos e de limpeza industrial".
Os 30 mil emigrantes que, segundo as estimativas, chegam anualmente a França, "beneficiam da imagem de bons trabalhadores da imigração portuguesa" mas têm de enfrentar "a concorrência desenfreada no mercado do trabalho", o que implica baixar o salário e trabalhar sem estar registado, assinala o responsável em artigo publicado na edição mais recente do semanário Agência ECCLESIA.
João Carita sublinhou que a maior parte dos amigos assimilou a inevitabilidade da emigração: "Se em Portugal não dá, temos de procurar o nosso lugar noutro sítio do mundo. Isto não é rejeitar o nosso país e aquilo que temos de bom, mas é tentar encontrar o nosso espaço e depois, eventualmente, voltar".
A Igreja Católica assinala este domingo o Dia Mundial do Migrante e Refugiado de 2012, ano em que a Obra Católica Portuguesa das Migrações assinala o seu cinquentenário.
JCP/LFS/RJM
Agência Ecclesia, aqui.