Para Carlos Morais, director do evento, todas as pessoas, independentemente de idade, profissão ou estatuto podem contribuir para que no futuro a língua portuguesa traduza a sua dimensão em negócios, por forma a que o empreendedorismo, a inovação, o comércio bilateral e o investimento em Portugal ou além fronteiras possa ser devidamente quantificado e documentado com alguns casos concretos.
E surpreenderão muitos de nós pela sua dimensão e envolvência universalista onde diariamente se realizam, ou influenciam. Basta pensar que os maiores impérios da distribuição alimentar no Brasil, na Venezuela ou em alguns países africanos são de origem portuguesa, acontecendo o mesmo em áreas como os cimentos, literatura, turismo, transporte terrestre, indústria metalomecânica e muitas outras áreas. É preciso que os deixem de chamar de meros "emigrantes" ou meros "cidadãos portugueses a residir no estrangeiro" para serem finalmente desejados, esperados, bem vindos e acarinhados como nos últimos 30 anos se tem feito com o investimento de estrangeiros.
Neste fórum vamos criar um espaço para que seja finalmente dito e assumido que somos 16 milhões de pessoas, dos quais mais de 5,5 milhões já vivem no estrangeiro, número que aumenta constantemente e que por isso podem alavancar tudo o que seja de origem portuguesa. O grande desafio neste momento é que esta realidade funcione, pois este número pode ser complementado pelos 230 milhões de falantes da língua portuguesa (mundo lusófono). Lamentavelmente a sociedade portuguesa ainda rejeita esta realidade porque não entende ou porque está muito mal esclarecida pela comunicação social e pelos responsáveis das entidades oficiais que não pretenderam até hoje esse esclarecimento.
Vejamos alguns exemplos: É agora assunto recorrente equacionar as declarações de vários membros do governo que incentivam ou aconselham as pessoas a emigrar, nomeadamente professores e outros sectores profissionais mais atingidos pela crise, mas que infelizmente está bastante mal explicado. O que as pessoas deviam entender é que os portugueses são dos povos com maior capacidade histórica para poder circular de país para país há mais de 500 anos. Todo este movimento entre países e continentes, começou por se chamar cruzadas, depois descobrimentos, a seguir fixação da população portuguesa no Brasil e em África e finalmente "emigração" que é uma realidade aplicada a este movimento apenas entre 1960 e 1980.
Ora nós estamos em 2011 e portanto esse conceito morreu há 30 anos! No entanto, e por incrível que pareça, a sociedade moderna parou no tempo porque ainda fala de uma terminologia que morreu nos anos 80 por altura da adesão à CEE quando passamos a ser cidadãos de pleno direito em toda a Europa. A partir daí não mais se pode falar em emigração. Pura e simplesmente circulamos dentro da Europa entre qualquer país sem qualquer limitação e felizmente muito bem aceites para muitos dos principais países do continente americano, africano e asiático onde não precisamos de vistos para movimentos turísticos ou de uma primeira análise e conhecimento destes países! Temos a tendência de fazer construir à partida algo muito mais difícil do que na realidade é.
Repare-se no caso dos Estados Unidos onde é muito raro um americano nascer, viver e morrer no seu Estado de origem, sendo perfeitamente normal viver em diversos estados no decurso da sua vida útil. Naquele país fomenta-se e enaltece-se permanentemente aqueles que são de origem diferente do estado onde se está, chegando ao ponto de identificar sempre as pessoas a seguir ao nome pelo estado de origem, fazendo dessa diversidade a sua riqueza cultural. Nós temos de ser capazes de entender esta realidade e senti-la como ela é, e não erradamente como nós pensamos que é. Ora para que isto aconteça é forçoso que estes portugueses que foram para o estrangeiro comecem a vir contar as suas experiências as suas histórias e testemunhos das suas experiências.
Quer dizer que este congresso é para os portugueses de lá e para os de cá...
E acima de tudo fazer com que os de lá contribuam neste debate para que os portugueses que residem em Portugal entendam que há muito mundo para além do seu, muito para além da sua zona de conforto.
O Congresso ao falar de comunidades e lusofonia pretende abrir espaços alternativos à própria Europa?
De que nos vale ter em Portugal tantos organismos para captação de investimento estrangeiro e depois metemos na cabeça que esse investimento estrangeiro só vem de estrangeiros que não sejam portugueses, ou que não têm origem portuguesa. Puro engano!
Temos de mudar as terminologias e os entendimentos dos muitos organismos actualmente existentes. Não faz sentido ter um organismo de apoio ao investimento estrangeiro em Portugal, se um português residente no estrangeiro ou luso descendente pretender investir e não seja tratado da mesma maneira do que um alemão, ou um qualquer outro estrangeiro de qualquer país. Mas neste caso, só por ser português ou de origem portuguesa, ele enfrenta dificuldades acrescidas em vencer, quando devia na realidade ser mais acarinhado. A sociedade portuguesa não quer entender esta realidade. Como recentemente disse Durão Barroso "há muitos interesses instalados que vão resistindo à mudança que são um factor de atraso económico português, porque beneficiam o acesso especial ao Estado e de garantias dadas por uma legislação de protecção, impedindo a modernização e uma concorrência mais leal". São em muitos casos as associações, as empresas monopolistas e o corporativismo que alteram por completo a realidade por interpretarem a legislação à sua maneira. Daí querermos que as pessoas venham falar de viva voz, falando por si próprias, dizendo o que devemos mudar neste nosso comportamento.
Pretende dar o primado à pessoa e não ao associativismo?
Acima de tudo temos de mudar nesse sentido. E este governo está a fazê-lo e este projecto vai precisamente na senda de tudo isto. Os portugueses que foram lá para fora fizeram-no individualmente e foi assim que conseguiram e tiveram sucesso. Acima de tudo o que pretendemos é abrir uma janela para que a sociedade portuguesa esteja disponível para ouvir e promover a sua própria abertura para perceber o sucesso que têm os portugueses lá fora nos mais varados sectores.
Há em todo o mundo portugueses que querem ajudar a fazer de Portugal um país melhor, mas têm os seus projectos individuais não querem ser reduzidos a grupos e a números, querem ser tratados de igual para igual e querem que lhe sejam dadas as condições iguais para quem estiver em Lisboa, Beja, na Austrália, Alemanha, Estados Unidos ou qualquer outro país do mundo.
Mas estes empresários, investidores, ou tão só portugueses, querem continuar a acompanhar os seus investimentos sem qualquer intermediação, pretendendo aceder à informação das diversas instituições via sistema informático e ficar a saber o andamento do seu projecto, conhecer os seus direitos reconhecendo assim um país que os defende independentemente de onde residam. Não querem ter de passar por Confederações, Câmaras de Comércio, Associações ou outras formas mais ou menos encapotadas de controle da iniciativa privada tal como reconheceu o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso ainda recentemente.
Existe aqui uma vontade de modernização da administração pública, tornando-a mais eficaz e transparente...
Temos a certeza que já existe da parte das entidades oficiais um espaço para dar a conhecer esta reforma administrativa a nível do investimento patrimonial em Portugal, para que em todo o mundo se possa aceder a essa informação. Este evento já nasce com a chancela e o apoio da presidência do conselho de ministros e o Alto Patrocínio do Presidente da República, o que mostra bem a importância que as mais altas entidades oficiais dão a esta temática e a oportunidade do debate.
Que outras temáticas vão ser abordadas?
A saúde por exemplo. Existem no Brasil hospitais com mais de mil enfermeiros e médicos suportados apenas pelas contribuições de portugueses. Ora em Portugal os hospitais são invariavelmente públicos ou de instituições financeiras, e porque não também de portugueses privados?
Há aqui um grande desafio aos cinco milhões de portugueses que estão no estrangeiro e que há trinta anos ganham uma média de três a quatro vezes mais do que em Portugal, levando a cabo o desenvolvimento e o nascimento de grandes projectos, que sejam finalmente apresentados à sociedade portuguesa para se saber como pensam, e o que este novo governo lhes possa transmitir o que têm para apresentar e onde estes possam participar com total liberdade e pleno acesso à informação a todas as iniciativas.
Os participantes que vierem vão ter então um espaço próprio para falar do seu percurso de vida lá fora.
O que está a acontecer neste momento lá fora é que há um sem número de forças vivas no estrangeiro que querem elas próprias ajudar a dinamizar esta vinda a Portugal há inúmeras pessoas que querem contribuir para que este projecto se torne realidade e que não se torne mais uma propriedade do governo, ou refém de nenhuma confederação, câmara de comércio ou associação que venha a ser privilegiada em detrimento das empresas dos empresários e investidores representados por eles próprios, pois se assim não acontecer e se for Mantido o modelo actual levará inevitavelmente à corrupção, tráfico de influências etc...
Aqui ninguém representa ninguém e todos falam de viva voz, porque temos de dar o primado à pessoa, depois à família, depois às empresas, a região, o associativismo e só depois o estado.
Isto tem de ser uma pedrada no charco porque todos os dias a imprensa fornece elementos errados como se ouve por exemplo dizer que actualmente a emigração actual tem reduzido o volume de remessas. Ora isto é uma mentira descabida porque não se sabe interpretar a estatística do Banco de Portugal que apenas considera remessas os depósitos efectuados nas contas pessoais. Ora isso já não existe, porque actualmente é lá de fora que se pagam as mais diversas despesas e investimentos feitos, que desta forma não são contabilizadas como remessas, mas sim como pagamento de serviços, de responsabilidades de crédito de investimentos e outros produtos estruturados criados pelo sistema financeiro nos últimos anos como forma de consolidação e alargamento destes importantes movimentos financeiros que permitiram captar muito mais fluxos financeiros, tal a sua diversidade. Obviamente que todos estes movimentos dos novos produtos financeiros também são remessas embora estatisticamente não possam ser contabilizados como tal.
Mas porque são tão diferentes os portugueses que ficaram dos que partiram?
Nos últimos trinta anos Portugal recebeu dinheiro demasiado fácil. Após a revolução de Abril, endividou-se o país a níveis nunca pensados, nos últimos governos de Cavaco Silva acedeu-se massivamente ao crédito, depois entrou o dinheiro da CEE e finalmente o da emigração e os fundos comunitários. Assim nunca teve de se trabalhar a sério, com objectivos definidos, viveu-se sempre com o apoio destes "paninhos quentes".
Hoje vivemos num mundo onde as pessoas querem tudo, não se apercebendo que esse tudo tem um custo e uma responsabilidade a que os portugueses que foram lá para fora se habituaram desde sempre, sabendo que era assim que as coisas funcionavam. Os que quiseram ganhar mais tiveram de trabalhar mais, trabalhar melhor e sobretudo melhor do que os naturais desses países, muitas vezes não dominando a língua nem tendo uma estrutura familiar de apoio.
Recorde-se que ao mesmo tempo que sabiam que tudo o que se quer tem inevitavelmente associado o encargo e a responsabilidade decorrentes desse investimento ou usufruto. Em Portugal infelizmente as pessoas habituaram-se apenas a querer usufruir dos bens e serviços que a todo o momento desejaram ter, recusando pagar o esforço da opção tendo para isso o estado e o sistema financeiro disponibilizado ficticiamente a custo zero apoios, subsídios, créditos, acesso a créditos bonificados e tantos outros instrumentos para assim beneficiar uma sociedade de um bem estar artificial porque não era uma tradução de um esforço e de trabalho mas sim um usufruto e um património adquirido por formas não sustentadas no mundo moderno como se veio a constatar.
Como poderão estes empresários ajudar Portugal?
Este é um evento dedicado ao mérito, à inovação ao empreendedorismo e à capacidade de sobrevivência e persistência nas mais diversas situações. Por isto nasce com este evento a designação de «Portugal País de Excelência» que vai acolher as sugestões dos milhares de empresários portugueses que residem no estrangeiro.
Depois disto a bola fica do lado das pessoas do estado e das instituições. Deixem estes empresários trabalhar por Portugal, mas informem-nos das oportunidades de negócio, das casas que estão à venda e de tudo mesmo daqueles bens que estão com preços muito baixos, deixando-os participar de facto na vida económica do país igual a qualquer outro que resida em Portugal, podendo eles adquirir também bens e serviços a preços de saldo, o que até hoje lhes foi sempre recusado.
Estes empresários podem dar o contributo fundamental para este país, não podem é ser condicionados nem representados por ninguém que não eles próprios porque foi pela sua independência, individualidade e diversidade que adveio sua riqueza o poder e o sucesso nas iniciativas que nenhum outro grupo social quis ou soube desenvolver. É fundamental que seja a sua capacidade criativa a aparecer sempre e sobretudo a propor modelos de desenvolvimento que conhecem dos seus países de acolhimento.
É importante que as pessoas que estão lá fora vejam Portugal como um país alternativo e de oportunidades não apenas como um refúgio. É preciso que quando se pense em Portugal se pense num local que tem de se visitar diversas vezes porque também se fazem bons negócios.
O "Portugal País de Excelência" é um conceito, um modo de vida que se pretende transmitir a este universo de pessoas mostrando que todos podem ser como o Cristiano Ronaldo ou como o José Mourinho assim lhe sejam dadas as mesmas oportunidades que aos demais.
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