Num domingo de sol, Aníbal Cavaco Silva chegou por volta das 17 horas (1 da manhã em Lisboa) àquela igreja, construída há 99 anos pelos portugueses e foi recebido ao som de palmas e com vivas ao presidente, a Portugal e até ao Benfica.
Minutos antes da chegada, Brittni e Breana Vargas, de 17 e 16 anos, aguardavam já a postos o alinhamento da banda filarmónica Recreio do Emigrante de Nework, fundada em 1978 por portugueses. Num português perfeito, aprendido na escola de Nework, as luso-americanas, filhas de portugueses dos Açores, mostravam a ansiedade pelo momento de actuarem.
Ao lado, Manuel Fonte, dizia à jornalista que se não for a juventude luso-descendente, "vão-se embora a cultura e tradição portuguesas", já que a emigração portuguesa para os Estados Unidos está praticamente parada. Para contrariar a situação, Manuel e a mulher pagam as aulas de língua e cultura portuguesa às duas netas mais velhas, um caminho que a terceira neta devera seguir também. E por causa do esforço dos avós. "Os pais não puxam por elas e eu sempre quis lhes ensinas a minha língua", disse, orgulhoso por as netas saberem comunicar na sua língua.
Para este açoriano do Faial, há 43 anos nos Estados Unidos, a presença do Chefe de Estado português, foi "um privilégio" e um momento que ainda não tinha vivido.
Três vivas...
Cavaco Silva chegou e ouviu os hinos dos Estados Unidos e de Portugal tocados por duas das várias bandas filarmónicas ali presentes. "Viva Portugal", "viva o Dr. Cavaco Silva", "viva o Benfica", foi a saudação ouvida pela multidão e que arrancou risos a quem estava a assistir.
Conceição Homem não escondia a emoção ao ouvir o hino nacional. "Isto é a saudade, emociono-me sempre", disse a O Emigrante/Mundo Português. Natural da Graciosa, Açores, e radicada nos Estados Unidos desde os 11 anos, é tesoureira da Banda Filarmónica de S. Leandro, uma das que se apresentou perante o Presidente de Portugal.
Depois, durante mais de uma hora, o Chefe de Estado e a sua comitiva assistiram a uma missa bilingue co-presidida pelo padre Manuel de Sousa, da paróquia N. Senhora da Assunção Portuguesa de Turlock, e celebrada nas duas línguas.
À saída da igreja, disse aos jornalistas que fez questão "de estar hoje aqui com a comunidade portuguesa nesta celebração", a quem quis passar "uma mensagem de ligação a Portugal". "A comunidade de origem portuguesa da Califórnia é a maior de todos os Estados Unidos e é uma comunidade com um grande fervor religioso, com grande poder económico, poder político e com uma forte actividade social", afirmou.
Lembrando que "o Presidente da República é o símbolo da união da Nação portuguesa", destacou que estava naquela região a "reparar uma falta que já se arrasta há mais de 21 anos". Cavaco Silva, que já se tinha deslocado à Califórnia enquanto primeiro-ministro, em 1990.
Jantar com a comunidade
Pouco depois, Cavaco Silva voltava a juntar-se a membros da comunidade portuguesa da Califórnia que participaram num jantar que teve lugar num hotel em San José.
Perante 830 pessoas que enchiam por completo o espaço, Cavaco Silva começou por falar na "emoção muito especial" que sentiu ao retornar àquele estado da costa Oeste dos Estados Unidos e ao convívio com os seus compatriotas.
Falando na nova geração de emigrantes "que tem rumado à Califórnia"", disse ser constituída na sua maioria "por jovens empreendedores, investigadores e cientistas talentosos, que se destacam pelas suas qualificações e pela excelência das suas aptidões nos domínios da ciência e da tecnologia".
Uma geração que segundo o Chefe de Estado, já compreendeu que "tinha muito a beneficiar da experiência e do prestígio que os portugueses aqui haviam acumulado". "Por outro lado, os que se haviam instalado há mais anos nesta costa, acolheram com entusiasmo e generosidade os jovens que vieram trabalhar em universidades de reputação mundial e em centros de investigação que se distinguem pela excelência e exigência", acrescentou.
Perante as mais de oito centenas de pessoas na sala, Cavaco Silva voltou a apelar ao apoio de todos a Portugal "que mais do que nunca precisa de todos para construir o seu futuro".
"O nosso país está a desenvolver um esforço muito sério e consistente de promoção das suas exportações e de atracção de investimento", afirmou o Presidente, defendendo que àqueles que queiram investir em Portugal "deve ser dada a possibilidade de o fazerem sem entraves burocráticos ou constrangimentos administrativos.
Por fim, sublinhou que Portugal é uma terra de oportunidades "para quem as saiba aproveitar no momento certo". "Esse momento é hoje, é agora", lembrou.
De acordo com dados do consulado português em São Francisco, residem na Califórnia cerca de 350 mil portugueses e luso-descendentes. São também da Califórnia os únicos três congressistas luso-descendentes nos Estados Unidos - os democratas Dennis Cardoza e Jim Costa e o republicano Devin Nunes.
Ana Grácio Pinto - Em San José (Califórnia)
apinto@mundoportugues.org
Mundo Português, aqui.