"Há portugueses com padarias, supermercados, restaurantes, lojas de venda de bebidas, quiosques e até há taxistas, para citar só alguns exemplos. Estas profissões são de risco, estão expostos a assaltos e até a tentativas de sequestro porque manejam dinheiro", disse a mesma fonte.
Segundo este elemento da polícia nacional, "o português atreve-se inclusive a montar o negócio, um pequeno 'abastico' (mercearia) nos 'cerros' (bairros populares) que por si só já são perigosos durante a semana e aos fins de semana ainda mais e essa exposição aumenta o risco".
Sem hipótese de defesa
Por seu lado, o mediador de seguros Raimundo Molina explica que o risco que correm os cidadãos "é tão elevado que o Governo se vê impossibilitado de combater" as ações da "hampa" (delinquência).
"O problema é que têm locais comerciais no rés-do-chão, que estão abertos ao público, lidam com o público e muitos deles terminam (encerram) a horas tardias, tendo um risco muito maior que aqueles que trabalhamos em escritórios ou em pisos superiores", disse.
No setor segurador desde 1969 o responsável explicou que as últimas horas da tarde são mais perigosas estatisticamente e que é importante que "todas as forças do país se unam, que cada quem carregue um grão de areia para combater a insegurança, porque se isso não acontecer só Deus sabe como o país vai parar".
Liberdade foi-se
"Nestes momentos não há diferença por setores (geográficos), cada um deles converteu-se em muito perigoso. Todas as liberdades que tínhamos quando jovens, hoje lamentavelmente não podemos dar aos nossos filhos com medo de não saber se regressarão quando saírem com os amigos", frisou.
O mediador explicou que usualmente os portugueses contratam seguros com cobertura ampla, que cobre vários tipos de riscos, entre os quais incêndio, roubo, roubos perpetrados por trabalhadores, danos e subtração de equipamento eletrónico, assim como responsabilidade civil e transportes.
Ninguém se entende quanto a números
A insegurança na Venezuela tornou-se numa constante da rotina da população, mas, apesar de uma perceção generalizada de medo, não há estatísticas fiáveis conhecidas e o assunto divide Governo e oposição. O Governo tem usado vários programas, colocado militares nas ruas das principais cidades, mas a insegurança persiste. A oposição crítica frequentemente o executivo, politizando um tema que segundo vários analistas é a principal preocupação dos cidadãos.
Dados da organização não governamental Observatório Venezuelano de Violência (OVV) dão conta de que o número de assassínios aumentou consideravelmente em onze anos, passando de 5.868 em 1999 para 17.600 em 2010.
Venezuela passou para o primeiro lugar
Segundo o advogado e criminalista Fermín Mármol Garcia, em 2009 a Venezuela passou a ocupar o primeiro lugar em assassínios no continente americano, ao registar 60 vítimas por cada 100 mil habitantes, em contraste com países considerados violentos como o México, que regista uma taxa de 14 mortos por cada 100 mil habitantes, apesar da existência de cartéis de drogas em várias cidades.
Com um conflito interno de mais de 50 anos de luta armada de grupos irregulares, paramilitares e guerrilheiros, a vizinha Colômbia registou nesse mesmo ano uma taxa de 36 assassínios por cada 100 mil cidadãos.
Comunidade espera apoio de ministro Portas
A comunidade portuguesa na Venezuela espera que a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros a Caracas, a partir de hoje, sirva para envolver os emigrantes nas relações bilaterais e também para sensibilizar as autoridades venezuelanas para a insegurança crescente no país.
"Tenho a expetativa que venha reforçar, reiterar e reafirmar todos os convénios comerciais que foram assinados desde o Governo de José Sócrates", disse à o presidente do Centro Português de Caracas.
"Que o Governo português entenda que devemos aproveitar força e poder económico, para que realmente (os portugueses) participem nos negócios entre ambos países", expressou Fernando Campos.
"Até agora os acordos beneficiaram amplamente as empresas que vieram de Portugal para cá mas as dos emigrantes que estão aqui ainda tem uma participação pequena", sendo por outro lado importante prestar atenção aos emigrantes carenciados, lembrou o responsável.
Agência Lusa e Jornal da Madeira, aqui.