Meio século depois do início da grande vaga de emigração para o Luxemburgo, a comunidade portuguesa continua pouco escolarizada, sem qualificações e sem perspetivas de mobilidade social, defende o investigador António de Vasconcelos Nogueira.
'As primeiras gerações eram mão-de-obra pouco qualificada e pouco escolarizada, as outras, reproduzem o mesmo padrão[...]Ao longo de 50 anos esta mão-de-obra mantém-se pouco escolarizada, não qualificada, sem mobilidade social', disse António de Vasconcelos Nogueira em entrevista escrita à agência Lusa.
O filósofo e investigador em ciências sociais, que vive naquele país, acaba de lançar 'Os Portugueses no Luxemburgo. Contribuição para a história das migrações', uma obra que resulta de cinco anos de pesquisa sobre os 50 anos da emigração portuguesa para o Grão-Ducado e as relações históricas entre o Luxemburgo e Portugal.
António de Vasconcelos Nogueira admite que 'entre a comunidade portuguesa estabelecida no Grão-Ducado há casos individuais que podem personificar o êxito', ressalvando, porém, que nem todos esses 'casos de relativa integração e mobilidade social[...] dizem respeito aos emigrantes enquanto tal'.
O investigador fala dos trabalhos duros e precários, dos riscos de acidentes laborais, do baixo índice de remuneração da mão-de-obra não qualificada, do insucesso escolar, do desemprego e de situações de pobreza como debilidades de uma comunidade estimada em 100 mil pessoas para uma população residente de 500 mil habitantes.
António de Vasconcelos Nogueira considera que as relações históricas entre os dois países pouco têm a ver com a atração atual dos portugueses pelo Luxemburgo.
'As pessoas emigram por que existem oportunidades, mercados, uma rede e estruturas, políticas e conjunturas económicas, consideradas como fatores atrativos e dinamizadores do fenómeno migratório. As pessoas emigram porque em torno da migração há, para além da economia de mercado, e de histórias de vida, o negócio, o mito, a imagem e a representação do novo-rico', defendeu
Para o investigador, o mito em torno deste novo-rico origina 'ambivalência de comportamentos'.
'Aos olhos dos portugueses, nas suas terras de origem, estes emigrantes deixaram de o ser tornaram-se o emigrante 'là-bas. Aos olhos dos luxemburgueses [...] tais portugueses nunca foram, não são, nem serão luxemburgueses, mas apenas mão-de-obra descartável, o 'imigrante-ici'', considerou.
'Em síntese, o grão-ducado do Luxemburgo e os luxemburgueses acolhem o emigrante, não a sua pessoa', acrescentou.
O investigador lamenta que as relações entre os dois países tenham sido 'configuradas em termos de mão-de-obra indiferenciada e trocas comerciais sem expressão' quando o Luxemburgo, parceiro de Portugal na União Europeia, é uma das principais praças financeiras mundiais e acolhe as instituições mais importantes da UE.
'Os emigrantes portugueses representam um valor de mercado e um número nas estatísticas, mais do que nas políticas, porque a sua imagem e a do seu país de origem, Portugal, pouco contam', concluiu António Vasconcelos Nogueira.
Correio do Minho, aqui.