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«Um ano em Telavive» - Aventuras de uma portuguesa em Israel..
2011-07-11
Escrito entre dois Verões, de Agosto de 2007 a Junho de 2008, «Um Ano em Telavive – Crónicas de uma portuguesa em Israel» revela o país pelos olhos de uma estrangeira. Natural de Lisboa e residente na Alemanha, Cristina Vogt-da Silva viveu em Israel durante três anos e meio e reúne neste primeiro livro as impressões causadas por um país muito diferente tanto daquele em que nasceu, como do outro, em que vive. Do choque cultural inicial ao conhecimento mais profundo da sociedade israelita, o livro relata na primeira pessoa, os primeiros 12 meses ali vividos pela autora...

Cristina Vogt-da Silva apresenta Israel pelos olhos de uma expatriada que acompanhou o marido durante os três anos e meio que um projecto de trabalho os fez viver naquele país. A escritora portuguesa transmite as suas impressões de uma forma viva e humorada à medida que vai conhecendo o país. Na apresentação de »Um Ano em Telavive», lançado em Portugal pela Papiro Editora, explica que pretendeu, com as crónicas ali publicadas, "aproximar o país real do leitor português", tal como o vivenciou e sentiu no primeiro ano em que passou em Telavive.
Em entrevista a O Emigrante/Mundo Português, confessa que o período vivido em Israel trouxe-lhe "mais profundidade em relação ao Médio Oriente". "Visto da Europa, é quase só desertos e ruínas antigas. Mas à medida que se vai conhecendo, percebe-se que aquela região de areia e com um calor insuportável é extremamente rica, diversificada, as pessoas têm uma filosofia de vida muito diferente da Europa e uma vida muito mais precária. É um «poço sem fundo», sinto sempre que tem que se continuar a aprofundar, porque as nossas raízes estão naquela parte do mundo, até as nossas raízes religiosas", explicou. De volta a Berlim, desde Janeiro deste ano, Cristina desfruta agora de um dia-a-dia (mais) tranquilo. Continua a escrever e está a trabalhar no segundo livro, que diz ser "o outro lado da história": as impressões vividas na Cijordânia e nas visitas às aldeias palestinianas que existem em Israel.

Como surge Telavive ?
O meu marido foi em trabalho para Telavive. Chegamos a 3 de Agosto de 2007, no pino do Verão, e um ano depois da guerra no Líbano. Eles têm um clima quente, que aumenta ao fim da tarde, parece que se está num banho turco. Nunca tinha lá estado, só conhecia Israel dos relatos dos meus pais que tinham visitado Telavive em 1992.
Estranhamos muito ter chegado ao Médio Oriente e não termos visto nada de oriental em Telavive. Observávamos as pessoas e havia cenas incríveis: às duas da tarde, com muito calor, andavam a fazer jogging, ciclismo, devidamente «fardados» e sem desistir de um estilo de vida ocidental. Tinha uma ideia muito diferente da cidade, embora o meu marido já tivesse dito que era relativamente segura. Ao princípio, nos restaurantes, sentávamos ao fundo porque quando há um ataque suicida, geralmente é na parta da frente que atacam. Mas depois, passaram esses medos e passamos a sentar-nos nas esplanadas.

Inseriram-se no modo de vida da cidade?
Sim, como estrangeiros. Deixamos de ter medo e passamos a fazer tudo o que as pessoas lá fazem normalmente: sentar numa esplanada e beber um café, passear no parque, ir a um restaurante, ao teatro e ao cinema, passear nos lugares expostos.

O que mais a impressionou quando chegou?
Foi o choque cultural. Quando se pensa em Médio estava no hotel quando me inscrevi no curso de hebraico. Eles têm escolas para as pessoas que fazem a aliyah, a emigração para o Estado de Israel, e decidi frequentar uma dessas escolas. Eu era a única aluna sem antepassados judeus. Que eu saiba, mas como a família da minha mãe é de Castelo Branco, nunca se sabe. Nessas escolas não se aprende apenas a língua, mas também a cultura. Faz parte da integração na sociedade, quando se faz a aliyah, saber como o país foi criado, quais são os feriados nacionais e o seu significado, o que se celebra: a fundação do Estado de Israel, a fundação de Telavive, a guerra do Yong Kipur (a 6 de Outubro de 1973, no feriado do Yom Kipur, o Egipto e a Síria atacaram Israel), a guerra do Sinai (ou guerra dos Seis Dias, ocorreu entre 5 e 10 de Junho de 1967 e opôs Israel a uma frente de países árabes composta pelo Egipto, Síria e Jordânia, apoiados pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão). São todos celebrados.
Aquele é um país novo, tem que se «agarrar» a estes símbolos para tentar manter a unidade entre todos os seus habitantes.

Em Israel é forte a noção de país?
Acho que não há bem uma noção de país como em Portugal, mas mais uma relação de pertença a uma etnia, a um povo muito antigo que é o povo judeu. Essa é a grande relação entre eles. Foi o que os manteve ligados na Diáspora e o que os fez voltar. Esse grande elo de ligação que têm entre eles, apesar de serem todos diferentes. Aliás, há quem preveja uma guerra entre eles quando o conflito com os palestinianos tiver sito resolvido. Os israelitas que vieram dos países árabes, foram muito discriminados no início, eram considerados inferiores em relação aos que vieram da Ásia e da Europa Central.

O livro foi escrito enquanto lá viveu?
Sim, a escrita é muito directa. Comecei a escrever cartas aos amigos que as acharam interessantes e disseram que devia escrever um livro. E decidi escrever sobre as minhas primeiras impressões e limitá-las a um ano: é uma viagem relativamente longa para se aprender muito, e ao mesmo tempo passar as impressões de uma forma leve, mas aprofundada. 

O que retrata neste livro?
Iniciei cada um dos capítulos com dois cabeçalhos em inglês, retirados de notícias de jornais de ideologias opostas: o conflito visto pelo lado israelita e pelo lado muçulmano. O livro tem 53 fotografias, como uma do autocarro dos ultra-ortodoxos, onde os homens viajam à frente e as mulheres atrás. Escolhi o formato de 12 capítulos, um para cada mês do ano. Segui o calendário judaico, visto ser a religião maioritária do país. Há 20 por cento de árabes - desses, 20 por cento são cristãos e 80 por cento muçulmanos. 
Decidi também fazer um glossário, porque achei que poderia ser útil aos leitores. Tem na maioria palavras hebraicas, mas também algumas árabes e turcas.
O título «Telavive» é um pretexto, porque na verdade é um livro sobre Israel. Tem sobretudo muita informação sobre a região, a sua história recente, sobre o judaísmo e o Islão. Foca também bastante Jerusalém e outros sítios em Israel que no fundo definiram a história do país.
Acho que é um bom livro que façam viagens curtas e que vão em deslocação para Israel. É uma boa introdução à história, aos costumes, ao povo, à língua, à geografia, aos vinhos de Israel. Mas não é um guia. Por exemplo, refiro uma coisa engraçada, que são as pequenas cidades palestinianas, onde há sempre a torre da mesquita e a torre da igreja. Em Jaffa e Ramallah, começam a tocar os sinos e depois ouve-se o muezim a chamar para a reza. É muito bonito, é como um concerto ecuménico. 

Quando o começou a escrever?
Foi escrita imediata, comecei a assim que cheguei. Mas o livro «cresce» à medida que o tempo passa. Eu começo a escrever sem o conhecimento do país, como pura observadora. A pouco e pouco começo a aprender e a conhecer o país e termino os 12 meses sabendo muito mais sobre Israel. Agora sei ainda mais do que nesse primeiro ano, noutra perspectiva, mas isso é outra história...

Encontrou portugueses?
Praticamente nenhuns, mas na embaixada contaram-me uma história muito engraçada. Construíram uma central nuclear em Israel e a maior parte dos trabalhadores eram portugueses, que se amigaram a israelitas. Tiveram lá filhos e vieram-se embora. Passados 17, 20 anos, esses jovens começaram a ir à secção consular da Embaixada para dizer que o pai era português e que queriam também ser. Porque em Israel é muito importante ter dois passaportes, o israelita e um estrangeiro. E em muitos casos, como os pais tinham reconhecido a paternidade, tinham direito à nacionalidade portuguesa.
A nível de emigração, só encontrei alguns a trabalhar num projecto desenvolvido por uma empresa portuguesa. Éramos muito poucos, uns oito.

Em Israel sabem que escreveu este livro?
Sabem. No country club que frequentei ficaram muito interessados, ajudaram-me imenso quando lhes disse que estava a escrevê-lo e que o interesse era dar a conhecer o Israel do quotidiano. Penso que para os israelitas o livro será demasiado superficial, porque eles sabem muito mais sobre o seu próprio país do que eu. Mas disseram-me que gostariam muito de o ver publicado em hebraico, porque gostariam de saber o que uma pessoa como eu pensa deles, do seu país e como me senti lá. Pessoalmente - e a opinião das pessoas que o leram é a mesma - acho que o livro é interessante para alguém que vá a Israel numa curta viagem e queira saber um pouco mais sobre o país ou para pessoas que sejam lá colocadas, por um período de tempo, e queiram ter uma introdução ao país e não se «perderem» tanto. Até porque dou algumas sugestões que podem ser interessantes e ajudam a poupar tempo.. 

Teve pena de deixar Telavive?
Quando saí, em Janeiro de 2011, senti que aquele período tinha chegado ao fim. Depois de ter escrito este livro e ter feito a apresentação (em Dezembro e 2009), continuei a viver em Israel e a informar-me sobre o país. Passado um ano comecei a ir à Cijordânia - descobri na internet grupos «alternativos» de viagens àquele território, tirei muitas fotografias. Fomos visitar vários locais, em grupos de seis, atravessamos muros e portões, passamos por soldados e fomos a Belém, a Hebron, estivemos em campos de refugiados. Com uma amiga alemã fui até Jericó. As pessoas foram sempre muito simpáticas do «outro lado» e sobretudo vinham ter connosco a contar-nos como viviam.

Vem aí um segundo livro sobre a região?
Sim, estou a escrevê-lo. Tenho as conversas com as pessoas, as fotografias, as minhas impressões. O novo livro é o outro lado da história, mas também em Israel, não só na Cijordânia. Porque dentro de Israel também há aldeias palestinianas, onde vivem em condições muito diferentes das aldeias israelitas. Mas o livro não vai ser político, volta a seguir a estrutura da literatura de viagem, mas com um formato diferente do primeiro. Vou novamente tentar ser o mais imparcial possível e deixar o leitor interpretará como quiser.

Oriente imagina-se o deserto, camelos, aldeias e cidades típicas da região ou nos arranha-céus do Dubai ou do Quatar. 
E Telavive é muito diferente. É muito jovem, foi fundada há 102 anos, sobre dunas e num estilo importado da Alemanha, o bauhaus, adaptado às condições mediterrânicas. A adaptação não foi total porque não previram a interferência do clima extremamente húmido e quente, o factor de erosão, as tempestades do deserto que trazem areia para a cidade, o ar carregado de sal que corrói os alicerces. A cidade tem partes não restauradas, que são bastantes, e um ar decadente e ao mesmo tempo moderno.

Qual foi a sua impressão inicial?
Tem que se fazer uma distinção em relação aos árabes muçulmanos e aos árabes cristãos. Os israelitas são muito imediatos, têm pouco tempo a perder, a vida é muito precária porque a guerra pode começar a qualquer momento e o conflito está sempre presente. As relações entre as pessoas são muito rápidas, mas não se fazendo parte do mundo do judaísmo, aquela hospitalidade fica a um nível muito superficial. É engraçado sair à rua e ser-se cumprimentada, fazerem perguntas indiscretas. São muito curiosos, querem saber porque um estrangeiro não judeu está lá, o que está lá a fazer e a primeira pergunta é: "Então, gosta de nós?"
Mas temos que ter uma mentalidade aberta e compreender em que condições aquele país surgiu, porque as pessoas têm todos aqueles medos e protegem tanto a «família» judaica dos estranhos - até hoje, os estranhos foram-lhes sempre nefastos. Mas naquela terra há muitos «fantasmas»: as ruínas das casas palestinianas das pessoas que, entre aspas, fugiram. Os «fantasmas» notam-se, quase que se ouvem. 

Como foi a sua adaptação?
Tínhamos que fazer um esforço para entrar na sociedade israelita e tentar compreender como tudo funciona. E foi esse o esforço que fiz. Entrei para um country club israelita em Telavive, e como as pessoas são muito simpáticas e imediatas conheci muita gente, desde antigos oficiais militares a pessoas que faziam parte dos movimentos sionistas. Foi muito interessante, porque falavam de uma forma muito aberta, como tinha surgido o movimento dos kibutz, um pouco antes do Holocausto. Houve judeus que conseguiram sair da Polónia e da Alemanha antes do Hitler começar com a «Solução Final» e fundaram o kibutz, baseado no princípio da sociedade perfeita, igualitária.
Esse clube foi a minha porta de entrada para a sociedade e a cultura israelitas. E ainda estava no hotel quando me inscrevi no curso de hebraico. Eles têm escolas para as pessoas que fazem a aliyah, a emigração para o Estado de Israel, e decidi frequentar uma dessas escolas. Era a única aluna sem antepassados judeus. 
Nessas escolas não se aprende apenas a língua, mas também a cultura. Faz parte da integração na sociedade, quando se faz a aliyah, saber como o país foi criado, quais são os feriados nacionais e o seu significado, o que se celebra: a fundação do Estado de Israel, a fundação de Telavive, a guerra do Yong Kipur, a guerra do Sinai. São todos celebrados. Aquele é um país novo, tem que se «agarrar» a estes símbolos para tentar manter a unidade entre todos os seus habitantes.

Em Israel é forte a noção de país?
Acho que não há bem uma noção de país como em Portugal, mas mais uma relação de pertença a uma etnia, a um povo muito antigo que é o povo judeu. Essa é a grande relação entre eles. Foi o que os manteve ligados na Diáspora e o que os fez voltar. Esse grande elo de ligação que têm entre eles, apesar de serem todos diferentes. Aliás, há quem preveja uma guerra entre eles quando o conflito com os palestinianos tiver sito resolvido. Os israelitas que vieram dos países árabes, foram muito discriminados no início, eram considerados inferiores em relação aos que vieram da Ásia e da Europa Central.

O livro foi escrito enquanto lá viveu?
Sim, a escrita é muito directa. Comecei a escrever cartas aos amigos que as acharam interessantes e disseram que devia escrever um livro. E decidi escrever sobre as minhas primeiras impressões e limitá-las a um ano: é uma viagem relativamente longa para se aprender muito, e ao mesmo tempo passar as impressões de uma forma leve, mas aprofundada. 

O que retrata neste livro?
O título «Telavive» é um pretexto, porque na verdade é um livro sobre Israel. Tem sobretudo muita informação sobre a região, a sua história recente, sobre o judaísmo e o Islão. Foca também bastante Jerusalém e outros sítios em Israel que no fundo definiram a história do país. Iniciei cada um dos capítulos com dois cabeçalhos em inglês, retirados de notícias de jornais de ideologias opostas: o conflito visto pelo lado israelita e pelo lado muçulmano. 
O livro tem 53 fotografias, como uma do autocarro dos ultra-ortodoxos, onde os homens viajam à frente e as mulheres atrás. Escolhi o formato de 12 capítulos, um para cada mês do ano. Segui o calendário judaico, visto ser a religião maioritária do país. Decidi também fazer um glossário, porque achei que poderia ser útil aos leitores. Tem na maioria palavras hebraicas, mas também algumas árabes e turcas. 
Acho que é um bom livro para pessoas que façam viagens curtas ou que vão em deslocação para Israel. É uma boa introdução à história, aos costumes, ao povo, à língua, à geografia, até aos vinhos de Israel. Mas não é um guia. Por exemplo, refiro uma coisa engraçada, que são as pequenas cidades palestinianas, onde há sempre a torre da mesquita e a torre da igreja. Em Jaffa e Ramallah, começam a tocar os sinos e depois ouve-se o muezim a chamar para a reza. É muito bonito, é como um concerto ecuménico. 

Quando o começou a escrever?
Foi escrita imediata, comecei a assim que cheguei. Mas o livro «cresce» à medida que o tempo passa. Eu começo a escrever sem o conhecimento do país, como pura observadora. A pouco e pouco começo a aprender e a conhecer o país e termino os 12 meses sabendo muito mais sobre Israel. Agora sei ainda mais do que nesse primeiro ano, noutra perspectiva, mas isso é outra história...

Encontrou portugueses?
Praticamente nenhuns, mas na embaixada contaram-me uma história muito engraçada. Construíram uma central nuclear em Israel e a maior parte dos trabalhadores eram portugueses, que se amigaram a israelitas. Tiveram lá filhos e vieram-se embora. Passados 17, 20 anos, esses jovens começaram a ir à secção consular da Embaixada para dizer que o pai era português e que queriam também ser. Porque em Israel é muito importante ter dois passaportes, o israelita e um estrangeiro. E em muitos casos, como os pais tinham reconhecido a paternidade, tinham direito à nacionalidade portuguesa.

Em Israel sabem que escreveu este livro?
Sabem. No country club que frequentei ficaram muito interessados, ajudaram-me imenso quando lhes disse que estava a escrevê-lo e que o interesse era dar a conhecer o Israel do quotidiano. Penso que para os israelitas o livro será demasiado superficial, porque eles sabem muito mais sobre o seu próprio país do que eu. Mas disseram-me que gostariam muito de o ver publicado em hebraico, porque gostariam de saber o que uma pessoa como eu pensa deles, do seu país e como me senti lá. 
Pessoalmente - e a opinião das pessoas que o leram é a mesma - acho que o livro é interessante para alguém que vá a Israel numa curta viagem e queira saber um pouco mais sobre o país ou para pessoas que sejam lá colocadas, por um período de tempo, e queiram ter uma introdução ao país e não se «perderem» tanto. Até porque dou algumas sugestões que podem ser interessantes e ajudam a poupar tempo.. 

Teve pena de deixar Telavive?
Quando saí, em Janeiro de 2011, senti que aquele período tinha chegado ao fim. Depois de ter escrito este livro e ter feito a apresentação (em Dezembro e 2009), continuei a viver em Israel e a informar-me sobre o país. Passado um ano comecei a ir à Cijordânia - descobri na internet grupos «alternativos» de viagens àquele território, tirei muitas fotografias. Fomos visitar vários locais, em grupos de seis, atravessamos muros e portões, passamos por soldados e fomos a Belém, a Hebron, estivemos em campos de refugiados. Com uma amiga alemã fui até Jericó. As pessoas foram sempre muito simpáticas do «outro lado» e sobretudo vinham ter connosco a contar-nos como viviam.

Vem aí um segundo livro sobre a região?
Sim, estou a escrevê-lo. Tenho as conversas com as pessoas, as fotografias, as minhas impressões. O novo livro é o outro lado da história, mas também em Israel, não só na Cijordânia. Porque dentro de Israel também há aldeias palestinianas, onde vivem em condições muito diferentes das aldeias israelitas. Mas o livro não vai ser político, volta a seguir a estrutura da literatura de viagem, mas com um formato diferente do primeiro. Vou novamente tentar ser o mais imparcial possível e deixar o leitor interpretará como quiser.

PERFIL
Uma vida a "abrir janelas"

Lisboeta, Cristina Vogt-da Silva viajou por vários países e viveu em Inglaterra durante seis anos. Regressou a Portugal, onde conheceu o futuro marido, alemão, e em 1992 foi residir para Hamburgo, tendo depois mudado com a família para Berlim. Em 1999 o casal e o filho foram para a Turquia,  onde viveram durante três anos. "Apaixonada por línguas", como refere, aprendeu francês, inglês, alemão, turco e hebraico e está agora a estudar árabe.
"A partir do momento que vivi em outros países, foram-se abrindo janelas, como aquelas retratadas nas pinturas da Maluda. Abriu-se uma janela com a primeira viagem, e dentro dessa outra, e outra, e outra. Tem sido assim e estou disposta a continuar", assegura.
A «janela» que abriu em Israel, deu-lhe a conhecer um país onde chegou com preconceitos, mas onde acabou por sentir muita inspiração...

Excertos do livro...
"(...) Em 20 minutos estava na estação central. Saio e procuro a saída, quando de repente vejo soldados, eles e elas, correndo e gritando naquela língua que já só por si assusta, uns de pistola em riste, outros já tomando posição com as metralhadoras, e os passageiros que se afastam calma, rápida e conscienciosamente para os lados como autênticos veteranos. Um dos soldados toma posição para disparar e já tem o dedo no gatilho - meu Deus, se me salvares desta, juro que não volto a andar de comboio - quando de repente a situação acalma, os passageiros retomam o caminho da saída, em silêncio, como se nada se tivesse passado, e eu sigo-os, verde nestas lides, ainda pálida e tremendo de susto, e sem perceber patavina do que se tinha passado (...)"

"(...)é o Yom Kipur (o dia do perdão), o último dia do período de dez dias de introspecção e reflexão sobre os actos praticados durante o velho ano que teve início no Rosh Hashana, o dia em que é aberto o livro da vida e que é também dia de jejum e oração. (...) O Hayarkon está cheio de famílias como é hábito, e mesmo a via rápida do outro lado do parque parece uma auto-estrada fantasma, nela não circula um único automóvel e todos se deslocam a pé ou de bicicleta. (...) E foi este dia, no ano de 1973, que os vizinhos árabes escolheram para atacar um Israel desprevenido (...)"

"(...) Está na natureza da vida, que eu tenha outra vivência, a europeia, que me permite ver tudo do meu casulo, da minha existência protegida; que eu só conheça estas cenas dos noticiários, que eu não saiba o que isto é, e que só o consiga imaginar. E por isso, por enquanto, posso ver os dois lados, sem paixão, cruamente, com mais objectividade, vendo na atitude do conhecido maestro Baremboim, o primeiro israelita a obter a nacionalidade palestiniana, muita coragem e espírito pioneiro (...)"

Ana Grácio Pinto
apinto@mundoportugues.org

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