Macau, China, 31 mai (Lusa) -- Entre os 11.100 eleitores recenseados em Macau, enquanto uns aguardam pelo boletim para participar nas legislativas de 05 de junho, há outros que ignoram o apelo por não serem falantes de português ou não terem qualquer ligação ao país.
Os votos têm de ser enviados até sexta-feira, mas o economista Albano Martins aguarda ainda pela carta que lhe permitirá votar.
"Em 2009 não consegui votar. Fui todos os dias aos correios durante uma semana", relatou à Lusa, prevendo que o problema se repita.
Albano Martins entende que o voto por correspondência "não faz qualquer sentido" porque "é mais caro" para as pessoas e até para o Governo português e defende que o método "podia variar consoante os sítios e caraterísticas de cada consulado ou de cada representação portuguesa".
O presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas, Fernando Gomes, subscreve que o método "é o maior problema", ao defender que "os boletins poderiam ser concentrados no consulado" que, como detém os cadernos eleitorais, podia verificar se algum falhou o destino.
Para Arnaldo Gonçalves, professor de Ciência Política e Relações Internacionais é "obrigação" do país "conceder todas as condições" para o exercício do voto. "Eu sou expatriado, mas tenho formação política e uma cultura política muito fortes, agora veja-se quem não tem", disse, definindo o método de voto "uma barbaridade no tempo das tecnologias de informação".
José Miguel Encarnação, candidato de Macau e cabeça de lista do Partido Nacional Renovador à Assembleia da República pelo Círculo Fora da Europa, concorda que o método de voto é "burocratizado" e pode até ser "fator penalizador da sua candidatura", dado que as instruções vêm em português, condicionando o eleitorado de origem chinesa.
E, se para Fernando Gomes há uma "noção" dos candidatos, pois "as pessoas conhecem minimamente tanto (José) Cesário como (Carlos) Páscoa (PSD)", para Arnaldo Gonçalves "não sabem que há dois deputados eleitos para esta região".
Ate porque o trabalho dos dois deputados da emigração em prol da comunidade é "zero" ou "absolutamente nada", resumem Arnaldo Gonçalves e Albano Martins.
Para José Encarnação "não chega virem a Macau e falar com os presidentes e diretores de associações de chamada matriz portuguesa porque eles não representam os portugueses de Macau". "Quem representa os portugueses são os deputados da Assembleia da República", disse, ao constatar que "há uma inversão de papéis".
Opinião diferente tem Fernando Gomes que considera que "têm feito o possível" e apresentado até "grandes iniciativas legislativas".
Em sintonia estão, contudo, na ideia de que os deputados devem ser residentes num território do círculo que os elege pois "não faz sentido" que alguém represente uma região com a qual não tem qualquer tipo de laços.
Para Fernando Gomes ter sido "emigrante já era uma mais valia" e poderia servir para "motivar politicamente a diáspora".
Entre o universo de eleitores estão cerca de 2.000 expatriados, bem como entre 5.000 a 6.000 luso-descendentes e residentes locais, que por não serem falantes de português ou terem ligação a Portugal não manifestam interesse em votar.
DM.
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