Foram as ondas do surf que levaram até ao arquipélago norte-americano do Havai Paulo Mendes, onde este português usa outra paixão, pela fotografia e vídeo, para ajudar jovens excluídos, incluindo luso-descendentes, a encontrarem uma forma de expressão.
São jovens que têm problemas familiares, com pais presos, ou que foram abandonados pela família. Muitos lidam com problemas de dependência de drogas ou de álcool, «um problema enraizado na sociedade havaiana há várias gerações», segundo diz o jovem natural de Lisboa, em entrevista à Lusa.
«Os havaianos viram grande parte da sua cultura ser destruída pelos colonos e isso marcou-os profundamente. Muitos jovens não conseguem encontrar as suas raízes e acabam por se perder», explica à Agência Lusa o jovem surfista português, radicado há oito anos no Havai, território norte-americano em pleno Oceano Pacífico.
Atualmente, Paulo tem cerca de dez rapazes entre os 15 e os 18 anos na sua turma, dois dos quais são luso-descendentes, numa sociedade onde quase 50 mil pessoas descendem de emigrantes portugueses originários dos Açores e da Madeira.
O objetivo das aulas, centradas na arte e na cultura havaiana, é o de ajudar os adolescentes a «encontrar uma forma de expressão própria ligada a uma cultura fundamentada em grande parte na espiritualidade».
«Os havaianos acreditam numa forte ligação entre a terra e o ser humano. Acreditam que é necessário cuidar do local onde vivem e repor o que tiram», diz o português.
«Numa altura de consumismo desenfreado e em que o mundo chegou a este ponto por causa da intervenção humana, estes são bons valores que devem ser transmitidos», reconhece.
As aulas são dadas do centro de acolhimento onde os rapazes residem, mas Paulo já pensa no futuro.
Está a preparar a criação de uma organização sem fins lucrativos, para ajudar os jovens a «continuar no bom caminho».
«Quando acabam o programa, muitos destes adolescentes perdem-se e acaba por voltar tudo ao mesmo. Com esta organização, quero que possam aprender mais e que venham depois a criar a sua própria empresa, por exemplo», refere o surfista.
A organização que está a construir, a Think Island , baseia-se no conceito da cultura havaiana.
«O próprio nome estabelece o conceito da preservação da ilha», sublinha Paulo Mendes, acrescentando que espera que depois alguns dos jovens possam contribuir para a iniciativa.
Foi o surf que há oito anos motivou o português, que cresceu na Ericeira, a ir viver para o Havai.
Agora, reconhece o surfista português, é «fazer algo pela sociedade» que o motiva a ajudar estes jovens em dificuldades.
Lusa / SOL, aqui.