A petição pública pretende alertar para o projecto
de supressão, a partir de 2012, do Português nos concursos da Escola
Normal Superior (ENS) e da Escola Politécnica (EP), duas instituições
de referência no ensino superior e na investigação científica em França.
Assinada
pelo presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Estudos
Portugueses, Brasileiros e da África e da Ásia Lusófonas (ADEPBA),
Christophe Gonzalez, a petição "tem o apoio dos lusitanistas e
hispanistas em várias universidades francesas", afirmaram alguns dos
signatários contactados pela Lusa.
"É com estupefacção que
constatamos o desaparecimento da língua portuguesa tanto em LV1 (língua
viva, nível 1) como no que toca a LV2, de resto simplesmente
suprimidos", lê-se na petição, endereçada aos directores da ENS e da
EP. A supressão "atenta contra a credibilidade da língua portuguesa
como instrumento de formação", acusa a ADEPBA.
"Tudo foi feito pela
calada", constata uma professora portuguesa da Universidade Paris-3,
signatária de uma primeira carta endereçada pela Sociedade de
Hispanistas Franceses às direcções da ENS e da EP e aos ministros da
tutela.
"Pode ser o início de redução da língua portuguesa noutras
instituições de ensino superior. Os concursos à ENP e à EP são
realmente simbólicos, por serem duas das ‘grandes escolas'", como são
chamadas as universidades de elite em França, salienta a mesma docente.
A
petição refere que "a supressão da língua portuguesa nos concursos é
tanto mais incompreensível na medida em que se trata de uma língua de
grande comunicação internacional falada em cinco continentes". O
presidente da ADEPBA recorda que o Português "é também uma grande
língua de negócios entre a França e os países lusófonos" e refere a
importância do Brasil, de Angola e de Portugal, "terceiro país em
termos de exportações francesas e um dos principais parceiros
comerciais" de França.
A concretizar-se a "reestruturação" dos
currículos na ENS e na EP, segundo professores de diferentes
universidades francesas ouvidos pela Lusa, estas duas escolas retêm
apenas três línguas europeias (Inglês, Alemão e Espanhol) e "fazem
aparecer com grande força o Chinês ao lado do Árabe" entre as línguas
em que os candidatos às duas escolas podem prestar provas.
Na
petição pública da ADEPBA, é sublinhado que "quaisquer que sejam as
motivações desta decisão - simples comodidade, economia, pedagogia,
notação, etc. - , elas são dificilmente aceitáveis num estabelecimento
onde também se joga o papel e o prestígio da França".
Embaixador apoia petição
O
embaixador de Portugal em França apoia a petição e recorda às
autoridades o "estatuto internacional" da língua portuguesa. "Vemos com
grande simpatia a mobilização que esta petição pública traduz, porque
ela também nos ajuda a sublinhar a relevância para a sociedade civil de
um tema que nos é muito caro", afirmou Francisco Seixas da Costa à
Agência Lusa.
"A Embaixada de Portugal em França está, desde que a
questão se colocou, em contacto com as autoridades francesas, com vista
a procurar tratar o assunto de uma forma compatível com o estatuto
internacional da língua portuguesa", revelou o diplomata, acrescentando
que a diplomacia portuguesa pretende reiterar junto das instituições
francesas "a importância que a língua portuguesa tem para sectores
franceses, não apenas ligados à comunidade portuguesa, mas igualmente a
outros países lusófonos".
No passado dia 16, O deputado do PSD pela
Europa Carlos Gonçalves enviou uma pergunta ao Ministério dos Negócios
Estrangeiros (MNE), para saber se o Governo irá tomar alguma posição
face à decisão de duas universidades francesas. "Considerando a
importância de que se reveste esta decisão das duas Universidades
francesas está a ponderar o Ministério, através do Instituto Camões e
do Serviço de Coordenação do Ensino do Português em França, tomar
alguma posição ou medida que permita ainda fazer valer os argumentos da
importância da língua portuguesa?", questiona o deputado na pergunta
que enviou ao MNE.
Em declarações à Lusa, Carlos Gonçalves sublinhou
que "não hesitou minimamente" em subscrever a petição porque considera
aquela decisão, "uma machadada" para a língua portuguesa. Carlos
Gonçalves evocou ainda a importância da comunidade portuguesa em França
para condenar a decisão daquelas universidades.
A ENS e a EP foram
fundadas em 1794, durante a Revolução Francesa. São dois centros de
excelência e ocupam o topo do "ranking" das universidades francesas.
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