Macau, China, 30 nov (Lusa) - A preservação do patuá, crioulo português de Macau, requer uma atitude pró-ativa da comunidade e não pode esperar por uma eventual classificação da UNESCO sob o risco do dialeto desaparecer, defendeu hoje o linguista Alan Baxter.
Numa conferência dedicada ao dialeto no Instituto Politécnico de Macau, no âmbito do Encontro das Comunidades Macaenses, o linguista australiano e investigador sobre o patuá, Alan Baxter, disse que a "preservação (daquele crioulo) com fins culturais depende da vontade da comunidade e da utilização da língua".
"Em vez de se esperar por uma classificação da UNESCO (a património cultural intangível), é altura de agir", disse Baxter, ao referir serem "necessários mais grupos empenhados nessa tarefa, mais funções para a língua, que poderão passar pelo teatro, filmes, programas de rádio e jornais, e a gravação de narrativas dos últimos falantes de patuá enquanto língua materna".
O especialista sugeriu ainda a inclusão da literatura em patuá no curriculum das escolas de Macau.
Ao lembrar que o crioulo de Macau remonta à época dos descobrimentos e tem origem em Malaca, o linguista defendeu a cooperação entre a comunidade macaense, com cerca de 8000 membros em Macau e 20 mil espalhados pelo mundo, e a de Malaca, com cerca de 800 falantes de crioulo português, para se preservar o patuá.
"Os jovens macaenses interessados em aprender patuá poderão passar temporadas em Malaca e a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses poderia criar bolsas para o efeito", referiu, sublinhando que o "patuá é uma parte importante da história e cultura de Macau com uma tradição secular que tem sido esquecida".
"Não esperem pela UNESCO, é preciso trabalhar agora", alertou o investigador, que está, através da Universidade de Macau, a desenvolver uma gramática descritiva de patuá e a preparar um livro com uma compilação de textos comentados e que será, possivelmente, acompanhado por um CD.
O presidente da Associação dos Macaenses e dinamizador do grupo de teatro em patuá Doci Papiaçam, Miguel de Senna Fernandes, disse que se recusa a aceitar "uma ideia generalizada de que o patuá está prestes a morrer".
Ao lembrar que aquele crioulo tem sido alvo de algum preconceito por ser considerado um "mau português", Senna Fernandes alertou que a sua preservação "é um projeto de toda a comunidade".
"O mundo nunca esteve tão próximo como hoje, com a Internet, e temos de partilhar em patuá, não interessa se num bom ou mau patuá, o que interessa é partilhar em patuá", defendeu.
Os Doci Papiaçam preparam para maio de 2011 uma nova peça em patuá que, este ano e sem fugir ao estilo de sátira social, se vai focar nas questões do mercado laboral de Macau.
Senna Fernandes salientou a importância destas iniciativas para "motivar os jovens e corresponder ao interesse de se preservar a presença cultural portuguesa": "O Governo chinês defende a importância da comunidade portuguesa em Macau e depois não fazemos nada? Não pode ser", concluiu.
PNE.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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