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Rui Pena Pires: "Angola é o único país para onde a emigração cresce"
2010-11-11

Gina Pereira

Apresenta hoje, quinta-feira, no colóquio "Migrações, minorias e diversidade cultural", que decorre na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, o primeiro atlas das migrações internacionais portuguesas. O livro passa em revista os últimos 100 anos das migrações portuguesas e reúne informação dispersa por dezenas de estudos.

JN - O estudo diz que há 2,3 milhões de portugueses espalhados pelo mundo. Como chegaram a esse número?
Rui Pena Pires - É um número aproximado, que tem em conta várias fontes de informação. Todos os 10 anos há censos um pouco por todo o mundo e, nessa altura, as Nações Unidas, a OCDE, o Banco Mundial compilam esses dados. A base que temos é do ano 2000. Depois, o Observatório da Emigração contactou todos os institutos de estatística equivalentes ao INE em todos os países. A maioria respondeu, alguns dizendo que não tinham dados por nacionalidade. E há outro problema: esta informação depende também da qualidade dos sistemas estatísticos dos países para onde os portugueses emigram. Quando é para a Europa, Canadá, não há problemas. Quando é para a Venezuela já começa a haver alguns problemas de registo. Quando é para Angola o desastre é total: ninguém sabe exactamente quantos portugueses há em Angola. Há alguns indicadores indirectos que dizem que podem andar entre os 60 e os 70 mil, mas podem estar errados. É uma estimativa feita a partir das contagens dos vistos, da evolução das remessas, de vários indicadores...

Esse é um destino que se mantém?
Neste momento, Angola é o único país fora da Europa para onde há emigração significativa e foi o único país onde o crescimento se manteve com a crise. Como a crise atingiu todos os países europeus, a emigração portuguesa para a Europa baixou.

Mas a ideia que há é que as pessoas estão a emigrar mais...
Estão a equacionar, mas o problema é que para emigrar não é preciso apenas ter vontade, é preciso ter possibilidade. As pessoas não estão a emigrar porque não podem: os dois principais destinos da emigração portuguesa eram a Espanha e o Reino Unido. A Espanha está com uma taxa de desemprego de 20 e tal por cento; o Reino Unido, a acrescentar ao desemprego que já tinha, agora vai dispensar meio milhão de funcionários públicos. A emigração baixou mas não foi só aqui: quando as crises são globais as migrações baixam sempre. Aparentemente o único país que escapou a esta baixa foi Angola.

E a atracção de Portugal?
Está a baixar o saldo migratório. Os dados que temos de entrada de portugueses noutros países entre 2005 e 2008 mostram que foram mais as saídas do que as entradas.

Jornal de Notícias, aqui.

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