Gina Pereira
Apresenta hoje, quinta-feira, no colóquio "Migrações, minorias e diversidade cultural", que decorre na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, o primeiro atlas das migrações internacionais portuguesas. O livro passa em revista os últimos 100 anos das migrações portuguesas e reúne informação dispersa por dezenas de estudos.
JN - O estudo diz que há 2,3 milhões de portugueses espalhados pelo mundo. Como chegaram a esse número?
Rui
Pena Pires - É um número aproximado, que tem em conta várias fontes de
informação. Todos os 10 anos há censos um pouco por todo o mundo e,
nessa altura, as Nações Unidas, a OCDE, o Banco Mundial compilam esses
dados. A base que temos é do ano 2000. Depois, o Observatório da
Emigração contactou todos os institutos de estatística equivalentes ao
INE em todos os países. A maioria respondeu, alguns dizendo que não
tinham dados por nacionalidade. E há outro problema: esta informação
depende também da qualidade dos sistemas estatísticos dos países para
onde os portugueses emigram. Quando é para a Europa, Canadá, não há
problemas. Quando é para a Venezuela já começa a haver alguns problemas
de registo. Quando é para Angola o desastre é total: ninguém sabe
exactamente quantos portugueses há em Angola. Há alguns indicadores
indirectos que dizem que podem andar entre os 60 e os 70 mil, mas podem
estar errados. É uma estimativa feita a partir das contagens dos
vistos, da evolução das remessas, de vários indicadores...
Esse é um destino que se mantém?
Neste
momento, Angola é o único país fora da Europa para onde há emigração
significativa e foi o único país onde o crescimento se manteve com a
crise. Como a crise atingiu todos os países europeus, a emigração
portuguesa para a Europa baixou.
Mas a ideia que há é que as pessoas estão a emigrar mais...
Estão
a equacionar, mas o problema é que para emigrar não é preciso apenas
ter vontade, é preciso ter possibilidade. As pessoas não estão a
emigrar porque não podem: os dois principais destinos da emigração
portuguesa eram a Espanha e o Reino Unido. A Espanha está com uma taxa
de desemprego de 20 e tal por cento; o Reino Unido, a acrescentar ao
desemprego que já tinha, agora vai dispensar meio milhão de
funcionários públicos. A emigração baixou mas não foi só aqui: quando
as crises são globais as migrações baixam sempre. Aparentemente o único
país que escapou a esta baixa foi Angola.
E a atracção de Portugal?
Está
a baixar o saldo migratório. Os dados que temos de entrada de
portugueses noutros países entre 2005 e 2008 mostram que foram mais as
saídas do que as entradas.
Jornal de Notícias, aqui.