Na comunidade portuguesa em França "constata-se a existência de bolsas
de pobreza e exclusão social", afirmou hoje o provedor da Santa Casa da
Misericórdia de Paris durante um colóquio na capital francesa.
Aníbal de Almeida, provedor da Santa Casa de Paris (SCMP) e sociólogo,
declarou que um obstáculo no combate à pobreza é "a propensão de muitos
desses portugueses para ocultar as dificuldades com que encontram
confrontados".
Os serviços sociais franceses "queixam-se de tal comportamento e,
quando esses casos acabam por ser assinalados, o tratamento social
torna-se mais difícil", acrescentou Aníbal de Almeida.
O sociólogo foi um dos oradores no colóquio "Combater a Pobreza e a
Exclusão Social", que hoje reuniu diversos especialistas na Câmara de
Paris.
"Um número significativo de portugueses residentes em França enfrenta
problemas de precariedade, dispondo de rendimentos inferiores ao limiar
da pobreza", referiu Aníbal de Almeida, apresentando as estatísticas
mais recentes de salários e reformas.
As estatísticas e os dados empíricos de quem trabalha com a comunidade,
acrescentou Aníbal de Almeida, "temperam a imagem de emigração de
sucesso" associada aos portugueses em França.
Os portugueses gozam "de uma imagem positiva invulgar, (são)
considerados trabalhadores arrojados, com uma capacidade de poupança
invulgar, bem integrados, com uma taxa de atividade igual ou superior à
média nacional e inferior relativamente ao desemprego, que recorrem
raramente aos dispositivos de ajuda social e que vivem tranquilos",
resumiu Aníbal de Almeida.
Eduardo Ferro Rodrigues, embaixador de Portugal junto da Organização para a Cooperação e De senvolvimento
Económicos (OCDE) salientou na sua intervenção que "a grande recessão
mundial não foi provocada pelos excessos despesistas dos estados em
matéria social" mas por um desequilíbrio das contas públicas provocado
"pela especulação financeira e imobiliária".
O representante de Portugal na OCDE referiu que "os próximos anos vão
ser muito difíceis" para a economia mundial mas que, mesmo num cenário
em que a prioridade é o equilíbrio das contas públicas, os estados não
devem perder de vista as metas de coesão social fixadas no início da
década.
Especialistas franceses convidados para o colóquio referiram que os
dados disponíveis apontam para uma "estabilização da pobreza em França
mas, ao mesmo tempo, um agravamento das dificuldades e da exclusão nos
extremos etários da pirâmide demográfica".
O padre franciscano e antigo provedor da Misericórdia de Lisboa, Vítor
Melícias, defendeu que "o direito à fraternidade tem hoje dignidade
constitucional".
Vítor Melícias explicou que o combate à pobreza apenas poderá ser feito
num quadro de "humanismo de vocação solidária" e, citando Santo
António, "um dos maiores economistas da Idade Média", com uma "economia
de frugalidade".
O colóquio "Combater a Pobreza e a Exclusão" está inserido nas
primeiras Jornadas Sociais da Comunidade Portuguesa, no âmbito de um
projeto da SCMP para o Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a
Exclusão Social, com a colaboração da Embaixada e do Consulado-geral de
Portugal em Paris e do Consulado de Lyon e ainda da Coordenação das
Coletividades Portuguesas de França (CCPF).
Correio do Minho, aqui.