Representantes das associações portuguesas em
França discutiram hoje em Paris formas de "recusar o gueto" e de
conseguir um "poder reivindicativo" equivalente ao número de
lusodescendentes.
"O movimento associativo português em França pode ser
muito mais do que aquilo que é. Mais ousado, mais autónomo, mais
criativo e mais ambicioso", afirmou o deputado socialista português
Paulo Pisco.
O deputado falava na Câmara Municipal de Paris, na abertura de um
dia de debates e sessões de trabalho do sétimo encontro promovido pela
Coordenação das Colectividades Portuguesas de França (CCPF).
Secundando a ideia central do deputado socialista, o social
democrata Carlos Gonçalves assinalou o consenso sobre "os temas
redundantes da comunidade portuguesa em França" e a necessidade de
assegurar a renovação do movimento associativo.
Carlos Gonçalves lembrou que está em discussão na especialidade o
projecto de lei que enquadra as relações das associações portuguesas no
mundo com o Governo e a administração em Portugal e que prevê a criação
de um registo nacional dessas colectividades.
"O projecto de lei define as formas e critérios de financiamento do
movimento associativo nas comunidades portuguesas. Neste momento nem
sequer sabemos o volume nem a distribuição dos apoios, isto é, não é
possível saber para que serviram os apoios ao associativismo", afirmou
o deputado do PSD.
Os problemas de implantação, renovação e coordenação do movimento
associativo foram evidenciados por Paulo Pisco, que sublinhou existir
um "risco de desilusão dos poderes políticos e administrações se a
expectativa relativamente à comunidade portuguesa não for
concretizada".
Para o deputado socialista eleito pelo círculo da emigração, "há um
nível de perigosidade no facto de haver tantos portugueses que têm uma
força enorme mas que não a usam" porque, por exemplo, não estão
recenseados e não recorrem ao poder do voto nas eleições em França.
Hermano Sanches Ruivo, conselheiro municipal de Paris e, até
domingo, presidente cessante da direcção da CCPF, lançou críticas ao
atraso de resposta das autoridades portuguesas em relação à proposta de
caderno de encargos entre a Coordenação das Colectividades Portuguesas
em França e a Secretaria de Estado das Comunidades, em Portugal.
"O Governo português não quer que as estruturas associativas nas
comunidades ganhem força", acusou o autarca de origem portuguesa. "Tem
medo que a estruturação do movimento associativo português signifique
uma maior capacidade política das associações".
Hermano Sanches Ruivo vai propor no domingo que a eleição do
conselho de administração da CCPF não seja acompanhada, de imediato,
pela eleição da nova direcção, "como protesto simbólico" pelo atraso de
resposta da Secretaria de Estado das Comunidades.
"O movimento associativo é a base da afirmação dos portugueses onde
se encontram as comunidades", referiu o cônsul geral de Portugal em
Paris, Luís Ferraz, salientando o conceito de "integração
diferenciada".
Luís Ferraz fez um apelo à participação política dos portugueses e
lusodescendentes em França, começando pelo recenseamento eleitoral:
"Por cem votos escolhe-se um ‘maire'. Cem votos fazem a diferença".
Segundo dados da CCPF, existem cerca de 950 associações portuguesas em França.
Notícias Lusófonas, aqui.