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África e Brasil: dois motivos para aprender português
2010-10-16
Portugal diz que a aprendizagem do português no estrangeiro "está de boa saúde", mas falta credibilizar "a língua na Europa"

por Cláudia Garcia
"A língua portuguesa é a quinta língua mais falada no mundo." A frase que José Sócrates e Luís Amado empregam tantas vezes durante o seu discurso não foge à realidade, mas também não representa a glória do país. O ensino da língua portuguesa abrange 72 países, 294 instituições, 1691 professores e mais de 150 mil alunos. Mas motivações resumem- -se, maioritariamente, em três palavras: Brasil e África.

"O ensino de português no estrangeiro está de boa saúde. É preciso é credibilizar o português na Europa", comenta a presidente do Instituto Camões (IC), Ana Paula Laborinho. Os mentores da língua de Camões no estrangeiro reforçam a dependência da língua aos países emergentes. Liliana Gonçalves, professora de Português na Universidade de Comunicação de Pequim, conta que o interesse pela nossa língua tem aumentado um pouco por toda a China. "Isso deve-se sobretudo ao desenvolvimento das relações comerciais entre a China e, especialmente, o Brasil e Angola". O ensino de português na China abrange 17 universidades, 1200 alunos e é tutelado pelo Instituto Camões. Ana Paula Laborinho salvaguarda a importância do Japão e de Macau para segurar a posição no ranking. "O português é língua oficial em Macau até 2049." Já o caso do Japão restringe-se, uma vez mais, "ao Brasil, e à forte tradição da imigração japonesa" sobretudo no estado de São Paulo (a maior comunidade japonesa fora do país).

"Posso afirmar que 65% da procura do português deve-se à influência do Brasil, que é o país do mundo que está a lucrar mais com a ascensão económica da China", explica Nuno Batista, director de uma escola de línguas - português e inglês - em Pequim. O professor considera que 33% dos chineses querem aprender a língua pelos "negócios emergentes nos países africanos, como Angola, Moçambique e Cabo Verde. Os "restantes 2% por curiosidade ou turismo em Portugal".

No continente africano a dimensão do português já não se cinge apenas aos países lusófonos. José Horta é responsável pelo departamento no Senegal e Costa do Marfim. O professor explica que na "Universidade de Dakar há cerca de 900 alunos inscritos na licenciatura em Estudos Portugueses." As motivações "são a proximidade do país com a Guiné-Bissau e Cabo Verde e o crescimento dos investimentos senegaleses no Brasil." Portugal está fora deste "mercado": "Existem três ou quatro empresas portuguesas aqui." Na Costa do Marfim, o projecto também está em crescimento. No ano passado havia cerca de 50 alunos no curso de Português. As motivações apresentadas pelos alunos, durante as aulas, são "a matéria-prima e os recursos do Brasil e de Angola".

Também na Europa a motivação para aprender a língua não se afasta muito das razões dos outros continentes. "A própria Europa interessa-se pelo português por razões que abrangem o Brasil e a África", afirma a presidente do IC. As excepções são ainda países como a Suíça e o Luxemburgo, onde a comunidade portuguesa e a rede de professores é muito expressiva.
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