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Paris: Há portugueses reformados a passar mal
2010-09-15

A Câmara Municipal de Paris "sabe que há situações de carência" entre os emigrantes portugueses reformados, afirmou um autarca luso-descendente à Agência Lusa na capital francesa.

"É preciso pensar que há uma terceira idade e até uma quarta idade a precisar de assistência entre a emigração portuguesa e é aqui que os problemas vão começar a surgir", afirmou o conselheiro municipal Hermano Sanches Ruivo à Lusa.

O autarca analisava o impacto político e social que terá na comunidade portuguesa o novo regime geral de reformas francês. A "reforma das reformas" foi hoje aprovada pela Assembleia Nacional francesa, após um debate acalorado que durou toda a noite de terça para quarta feira.

O ponto principal do regime proposto pelo Governo do primeiro ministro François Fillon e do Presidente Nicolas Sarkozy é o aumento da idade legal de reforma dos 60 para os 62 anos.

Mesmo pelo regime antigo, um terço dos reformados portugueses residentes em França recebe "abaixo do limiar da pobreza", segundo afirmou à Lusa o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paris (SCMP), Aníbal de Almeida.

"Um problema adicional é que a comunidade portuguesa saiu do radar dos estudos estatísticos e portanto das preocupações das autoridades francesas nos últimos dez anos, precisamente a década em que a crise social se acentuou em França e também na comunidade portuguesa", afirmou Hermano Sanches Ruivo.

O autarca recordou uma das conclusões principais do livro publicado por Aníbal de Almeida sobre "Os Portugueses em França na Hora da Reforma", que revelava que apenas 11 por cento dos emigrantes tenciona voltar a Portugal quando terminarem a sua vida ativa.

O principal "motor" da decisão de permanecer em França é, segundo Sanches Ruivo, a falta de confiança dos emigrantes nos cuidados de saúde para idosos em Portugal.

"É aqui em França que estão os meios de tratamento, não estão em Trás-os-Montes a dar a volta de aldeia em aldeia. Relembro que grande parte da emigração portuguesa vem do Centro e do Norte. Não vem de Coimbra, do Porto ou de Lisboa", salientou Hermano Sanches Ruivo.

"A emigração é um sonho que a realidade vem cortar dia a dia. Onde os nossos pais pensavam que iam voltar para Portugal, estamos a assistir a um outro fenómeno: vão um pouco mais a Portugal mas vivem muito mais tempo em França e, sobretudo, a partir de uma certa altura é cá que vão ficar", frisou o autarca.

"Se a realidade da saúde em Portugal fosse mais consequente e positiva, seria diferente. Mas não sendo tão positiva como podíamos imaginar, o vai e vem vai ser maior. Vão ficar aqui e vão morrer aqui", declarou o autarca parisiense.

"Sabemos como a debilidade da idade pode vir a ter consequências para nós, a segunda geração. Nós, que vivemos em apartamentos ou casas, não estamos a imaginar que nos últimos anos de vida os nossos pais podem vir viver connosco", disse ainda o conselheiro parisiense.

"É preciso perguntar à sociedade portuguesa e sobretudo à sociedade francesa o que é que fazem pela terceira idade", concluiu o autarca.

A situação específica dos emigrantes portugueses, segundo o estudo de Aníbal de Almeida, insere-se num quadro de deterioração geral dos rendimentos num país onde "as reformas perderam 35 por cento do poder de compra nos últimos 20 anos".

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