A Câmara Municipal de Paris "sabe que há situações de carência" entre
os emigrantes portugueses reformados, afirmou um autarca
luso-descendente à Agência Lusa na capital francesa.
"É preciso pensar que há uma terceira idade e até uma quarta idade a
precisar de assistência entre a emigração portuguesa e é aqui que os
problemas vão começar a surgir", afirmou o conselheiro municipal
Hermano Sanches Ruivo à Lusa.
O autarca analisava o impacto político e social que terá na comunidade
portuguesa o novo regime geral de reformas francês. A "reforma das
reformas" foi hoje aprovada pela Assembleia Nacional francesa, após um
debate acalorado que durou toda a noite de terça para quarta feira.
O ponto principal do regime proposto pelo Governo do primeiro ministro
François Fillon e do Presidente Nicolas Sarkozy é o aumento da idade
legal de reforma dos 60 para os 62 anos.
Mesmo pelo regime antigo, um terço dos reformados portugueses
residentes em França recebe "abaixo do limiar da pobreza", segundo
afirmou à Lusa o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paris
(SCMP), Aníbal de Almeida.
"Um problema adicional é que a comunidade portuguesa saiu do radar dos
estudos estatísticos e portanto das preocupações das autoridades
francesas nos últimos dez anos, precisamente a década em que a crise
social se acentuou em França e também na comunidade portuguesa",
afirmou Hermano Sanches Ruivo.
O autarca recordou uma das conclusões principais do livro publicado por
Aníbal de Almeida sobre "Os Portugueses em França na Hora da Reforma",
que revelava que apenas 11 por cento dos emigrantes tenciona voltar a
Portugal quando terminarem a sua vida ativa.
O principal "motor" da decisão de permanecer em França é, segundo
Sanches Ruivo, a falta de confiança dos emigrantes nos cuidados de
saúde para idosos em Portugal.
"É aqui em França que estão os meios de tratamento, não estão em
Trás-os-Montes a dar a volta de aldeia em aldeia. Relembro que grande
parte da emigração portuguesa vem do Centro e do Norte. Não vem de
Coimbra, do Porto ou de Lisboa", salientou Hermano Sanches Ruivo.
"A emigração é um sonho que a realidade vem cortar dia a dia. Onde os
nossos pais pensavam que iam voltar para Portugal, estamos a assistir a
um outro fenómeno: vão um pouco mais a Portugal mas vivem muito mais
tempo em França e, sobretudo, a partir de uma certa altura é cá que vão
ficar", frisou o autarca.
"Se a realidade da saúde em Portugal fosse mais consequente e positiva,
seria diferente. Mas não sendo tão positiva como podíamos imaginar, o
vai e vem vai ser maior. Vão ficar aqui e vão morrer aqui", declarou o
autarca parisiense.
"Sabemos como a debilidade da idade pode vir a ter consequências para
nós, a segunda geração. Nós, que vivemos em apartamentos ou casas, não
estamos a imaginar que nos últimos anos de vida os nossos pais podem
vir viver connosco", disse ainda o conselheiro parisiense.
"É preciso perguntar à sociedade portuguesa e sobretudo à sociedade
francesa o que é que fazem pela terceira idade", concluiu o autarca.
A situação específica dos emigrantes portugueses, segundo o estudo de
Aníbal de Almeida, insere-se num quadro de deterioração geral dos
rendimentos num país onde "as reformas perderam 35 por cento do poder
de compra nos últimos 20 anos".
bomdia.lu, aqui.