Um terço dos reformados portugueses residentes em França recebe "abaixo
do limiar da pobreza", afirmou à Agência Lusa o provedor da Santa Casa
da Misericórdia de Paris (SCMP).
"Sente-se uma grande
preocupação da comunidade portuguesa no actual debate sobre a ‘reforma
das reformas'", declarou Aníbal de Almeida, provedor da SCMP e
sociólogo, autor de um estudo pormenorizado sobre "Os Portugueses em
França na Hora da Reforma".
A situação específica dos
emigrantes portugueses, salientou, insere-se num quadro de deterioração
geral dos rendimentos num país em que "as reformas perderam 35 por
cento do poder de compra nos últimos 20 anos", sobretudo quando a
alteração de regime em 1993 passou a calcular as prestações de velhice
com base nos 25 melhores anos de salário e não, como até aí, nos dez
melhores.
Aníbal de Almeida constata "uma contradição entre os
dados estatísticos e a imagem da emigração portuguesa, repetida pelas
autoridades, de uma comunidade trabalhadora, com grande capacidade de
poupança, bem integrada e que não recorre muito aos serviços de
assistência, ou seja, que tem poucos problemas".
Os dados
disponíveis da Caixa Nacional Francesa de Seguro de Velhice mostram,
pelo contrário, que "35 por cento dos emigrantes portugueses reformados
residentes em França recebem menos de 9 mil euros por ano, o que está
abaixo do limiar da pobreza neste país".
Trabalho duro, reformas baixas
No seu estudo de 2008, o sociólogo refere que "são muitos os que sofrem
de envelhecimento precoce em consequência da dureza da vida e dos
empregos exercidos, penosos para muitos, expostos às intempéries ou a
produtos nocivos, com muitas horas diárias trabalhadas, incluindo,
muitas vezes, os sábados e os domingos, sendo frequente a ocorrência de
acidentes de trabalho, de doenças profissionais e de invalidez".
No entanto, este perfil não tem correspondência no nível médio de reformas.
"O salário médio para base de cálculo das reformas será baixo e mesmo
muito baixo, em certos casos", sublinha. Uma amostra representativa da
comunidade emigrante revela que o salário médio de um homem era de 13
mil euros por ano e o de uma mulher de 9 mil, "mas de apenas 4 mil
euros/ano para os serviços domésticos".
"A média geral das
reformas estatutárias, se fossem liquidadas segundo as normas
actualmente em vigor, à taxa plena, sem revalorização dos salários,
seria de cerca de 570 euros para os homens (6.840 euros anuais), de 410
para as mulheres (4.920 euros anuais) mas somente 175 euros por mês
para as empregadas de casa e outros serviços aos particulares (2.100
euros anuais)", concluía o estudo, publicado em livro no ano passado.
O estudo detectou, para "grande surpresa" do seu autor, que apenas 11
por cento dos emigrantes inquiridos pretende regressar a Portugal.
Sabe-se também que cerca de metade dos emigrantes reformados não tem
casa própria. A conjugação dos diferentes dados indica que "os
emigrantes não terão uma velhice muito folgada", salienta o provedor da
SCMP.
Segundo Aníbal de Almeida, existem cerca de 600 mil
portugueses com "direitos abertos" nos diferentes regimes de segurança
social em França. Os emigrantes seguem, "como os franceses", o debate
actual da "reforma das reformas", diz Aníbal de Almeida, mas, protestos
à parte, "esperam o futuro resignadamente".
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