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Estudo sobre a integração dos descendentes de imigrantes portugueses na América – Dulce Maria Scott (2/3)
2010-09-09

CONCENTRAÇÃO GEOGRÁFICA E MANUTENÇÃO DE COMUNIDADES ÉTNICAS

Dados censitários indicam que os luso-americanos continuam a residir em estados de alta concentração étnica, como a Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e New Jersey. Mais de 72 por cento dos luso-americanos vivem nestes quatro estados. Adicionalmente, dentro de cada estado, a população tende a estar concentrada em determinadas áreas, como é exemplificado pelo que veio a ser conhecido como o arquipélago português em Massachusetts, ou seja a zona sudeste deste estado, dentro da qual, em certas áreas, a população portuguesa atinge mais de 20 por cento da população total. Esta área inclui vinte e uma cidades e vilas nos condados de Bristol e Plymouth.[1]
  A concentração geográfica, de acordo com estudos recentes,[2] e contrariamente a suposições feitas por teorias clássicas de assimilação[3], não impede a integração da população étnica. Ao fixarem-se na mesma área geográfica, os imigrantes e os seus descendentes podem beneficiar de capital social, isto é de apoio mútuo e de vantagens económicas, políticas e psicológicas que podem ser derivadas do acesso a recursos e mercados étnicos, benefícios esses que a longo prazo contribuem para num nível de integração mais elevado dos descendentes dos imigrantes na sociedade acolhedora, um fenómeno, designado por sociólogos como o "paradoxo étnico",[4] através do qual a criação e reprodução de etnicidade (de pluralismo) contribui para um nível mais elevado de integração (de assimilação) das gerações seguintes.
  A concentração geográfica permitiu a criação de organizações económicas e fraternais, como por exemplo a Portuguese Fraternal Society of America (PFSA)[5] e a Luso-American Life Insurance Society,[6] organizações financeiras, baseadas na venda de seguros, mas ambas com componentes fraternais, sociais e de promoção da cultura e dos interesses luso-americanos. As contribuições cruciais do mercado étnico para a emergência e sustentabilidade de empreendedorismo por parte da população imigrante têm sido reconhecidas na literatura que se debruça sobre esta temática.[7] Quantas empresas luso-americanas e luso-canadianas teriam sido criadas e sustenidas se os potenciais empresários imigrantes não tivessem tido acesso privilegiado aos mercados étnicos?
  A concentração geográfica também contribui para a integração política. Em Rhode Island, o Senador estadual, Daniel da Ponte, cujos pais trabalharam em fábricas, reconhece a contribuição feita por organizações luso-americanas, dentro das quais cresceu, para a sua formação política, assim como a necessidade, para vencer as eleições, do voto dos luso-americanos da cidade de East Providence, onde pessoas de descendência portuguesa constituem o maior grupo étnico.

Já me encontro envolvido na politica desde criança ... O meu pai ajudava nas campanhas políticas para a câmara municipal, o comité escolar, o senado ou assembleia e eram todos pessoas que eram amigos da nossa família, da igreja ou da sociedade do Espírito Santo... Aqui nesta parte da cidade, tanto a Igreja de Santo Francisco Xavier como o Salão da Sociedade do Espírito Santo na rua Phillips, têm sido bases para actividade política. Não deveria dizer actividade política, mas sim as relações, o apoio e os indivíduos que as pessoas necessitam e dos quais beneficiam quando entram em campanhas políticas... Por isso penso que a actividade política do meu pai provavelmente fluiu do seu envolvimento na Igreja. Muitas pessoas que estavam envolvidas na cena política também participavam activamente na Paróquia e nos eventos durante o ano, como a festa anual...

Em conclusão, e em consonância com o conceito do "paradoxo étnico", a concentração geográfica da geração imigrante, ao tornar possível a emergência duma estrutura social e organizacional densa, assim como ao facilitar o acesso a mercados étnicos por parte dos empresários imigrantes, acaba por contribuir para a integração da população étnica na sociedade de acolhimento. Adicionalmente, também permite a reprodução e manutenção da cultura e entidades étnicas. Estudos recentes têm demonstrado que jovens que se encontram bem inseridos na sua cultura ancestral, e sentem orgulho dela, obtêm melhores resultados a nível académico.[8]

 


[1] Borges, D. R. (2005) "Education and Ethnicity in Southeastern Massachusetts II: 1980:2000", Economic Development Research Series 59. Center for Portuguese Studies and Culture, University of Massachusetts Dartmouth.
[2] Ver, por exemplo, Portes, A. e R. G. Rumbaut (2006), Immigrant America: a Portrait, 3rd ed.. Berkeley, CA, University of California Press; e Waldinger, R. (2007), "Did Manufacturing Matter? The Experience of Yesterday's Second Generation: A Reassessment,"International Migration Review, 41(1), pp. 3-39.
[3] Para um tratamento da mobilidade espacial como um indicador de assimilação, ver Massey, D. S. (1985), "Ethnic and Residential Segregation: A Theoretical and Empirical Review," Sociology and Social Research, 69, pp. 315-50. Para uma avaliação da literatura sobre a mobilidade espacial, ver Allen, J. P. e E. Turner (1996), "Spatial Patterns of Immigrant Assimilation," The Professional Geographer, 48(2), pp. 140-155.
[4] Ver, por exemplo, Lal, B. B. (1995), "Symbolic Interaction Theories," American Behavioral Scientist, 38, pp. 421-441.
[5] A Portuguese Fraternal Society of América foi criada em 2010, combinando os esforços de quatro organizações distintas, algumas delas criadas no século 19 na Califórnia: Irmandade do Divino Espírito Santo, Conselho Supremo da Sociedade do Espírito Santo, União Portuguesa do Estado da Califórnia e União Portuguesa Protectora do Estado da Califórnia http://www.mypfsa.org/.
[6] A Luso-American Life Insurance Society, abarca as seguintes divisões fraternais:  Luso-American Fraternal Society (LAFF), Portuguese Continental Union (PCU), Sociedade Portuguesa da Rainha Santa Isabel (SPRSI) and Luso-American Education Foundation (LAEF) http://www.luso-american.org/.
[7]  Até à data, milhares de estudos sobre o empreendedorismo étnico e de imigrantes já foram publicados. Para uma revisão das várias teorias debatidas dentro deste paradigma académico, ver Scott, D. M., R. Mackoy and R. Curci, (Forthcoming, 2010) "Socio/Economic Ethnic Entrepreneurship Development Theories: An Analysis of Hispanic Business Enterprises in Central Indiana," Journal of the Indiana Academy of the Social Sciences.
[8] Ver, por exemplo, estudos citados em Portes, A., P. Fernández-Kelly, and W. Haller (2005), "Segmented assimilation on the ground: the new second generation in early adulthood," Ethnic and Racial Studies, 28 (6), pp. 1000-1040.



(cont...)

por: Irene Maria F. Blayer

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