CONCENTRAÇÃO GEOGRÁFICA E MANUTENÇÃO DE COMUNIDADES ÉTNICAS
Dados censitários indicam que os luso-americanos continuam a residir
em estados de alta concentração étnica, como a Califórnia,
Massachusetts, Rhode Island e New Jersey. Mais de 72 por cento dos
luso-americanos vivem nestes quatro estados. Adicionalmente, dentro de
cada estado, a população tende a estar concentrada em determinadas
áreas, como é exemplificado pelo que veio a ser conhecido como o
arquipélago português em Massachusetts, ou seja a zona sudeste deste
estado, dentro da qual, em certas áreas, a população portuguesa atinge
mais de 20 por cento da população total. Esta área inclui vinte e uma
cidades e vilas nos condados de Bristol e Plymouth.[1]
A concentração geográfica, de acordo com estudos recentes,[2] e contrariamente a suposições feitas por teorias clássicas de assimilação[3],
não impede a integração da população étnica. Ao fixarem-se na mesma
área geográfica, os imigrantes e os seus descendentes podem beneficiar
de capital social, isto é de apoio mútuo e de vantagens económicas,
políticas e psicológicas que podem ser derivadas do acesso a recursos e
mercados étnicos, benefícios esses que a longo prazo contribuem para
num nível de integração mais elevado dos descendentes dos imigrantes na
sociedade acolhedora, um fenómeno, designado por sociólogos como o
"paradoxo étnico",[4] através
do qual a criação e reprodução de etnicidade (de pluralismo) contribui
para um nível mais elevado de integração (de assimilação) das gerações
seguintes.
A concentração geográfica permitiu a criação de
organizações económicas e fraternais, como por exemplo a Portuguese
Fraternal Society of America (PFSA)[5] e a Luso-American Life Insurance Society,[6] organizações
financeiras, baseadas na venda de seguros, mas ambas com componentes
fraternais, sociais e de promoção da cultura e dos interesses
luso-americanos. As contribuições cruciais do mercado étnico para a
emergência e sustentabilidade de empreendedorismo por parte da
população imigrante têm sido reconhecidas na literatura que se debruça
sobre esta temática.[7] Quantas
empresas luso-americanas e luso-canadianas teriam sido criadas e
sustenidas se os potenciais empresários imigrantes não tivessem tido
acesso privilegiado aos mercados étnicos?
A concentração
geográfica também contribui para a integração política. Em Rhode
Island, o Senador estadual, Daniel da Ponte, cujos pais trabalharam em
fábricas, reconhece a contribuição feita por organizações
luso-americanas, dentro das quais cresceu, para a sua formação
política, assim como a necessidade, para vencer as eleições, do voto
dos luso-americanos da cidade de East Providence, onde pessoas de
descendência portuguesa constituem o maior grupo étnico.
Já me encontro envolvido na politica desde criança ... O meu pai ajudava nas campanhas políticas para a câmara municipal, o comité escolar, o senado ou assembleia e eram todos pessoas que eram amigos da nossa família, da igreja ou da sociedade do Espírito Santo... Aqui nesta parte da cidade, tanto a Igreja de Santo Francisco Xavier como o Salão da Sociedade do Espírito Santo na rua Phillips, têm sido bases para actividade política. Não deveria dizer actividade política, mas sim as relações, o apoio e os indivíduos que as pessoas necessitam e dos quais beneficiam quando entram em campanhas políticas... Por isso penso que a actividade política do meu pai provavelmente fluiu do seu envolvimento na Igreja. Muitas pessoas que estavam envolvidas na cena política também participavam activamente na Paróquia e nos eventos durante o ano, como a festa anual...
Em conclusão, e em consonância com o conceito do "paradoxo étnico", a concentração geográfica da geração imigrante, ao tornar possível a emergência duma estrutura social e organizacional densa, assim como ao facilitar o acesso a mercados étnicos por parte dos empresários imigrantes, acaba por contribuir para a integração da população étnica na sociedade de acolhimento. Adicionalmente, também permite a reprodução e manutenção da cultura e entidades étnicas. Estudos recentes têm demonstrado que jovens que se encontram bem inseridos na sua cultura ancestral, e sentem orgulho dela, obtêm melhores resultados a nível académico.[8]
[1] Borges,
D. R. (2005) "Education and Ethnicity in Southeastern Massachusetts II:
1980:2000", Economic Development Research Series 59. Center for
Portuguese Studies and Culture, University of Massachusetts Dartmouth.
[2] Ver, por exemplo, Portes, A. e R. G. Rumbaut (2006), Immigrant America: a Portrait, 3rd ed..
Berkeley, CA, University of California Press; e Waldinger, R. (2007),
"Did Manufacturing Matter? The Experience of Yesterday's Second
Generation: A Reassessment,"International Migration Review, 41(1), pp. 3-39.
[3] Para
um tratamento da mobilidade espacial como um indicador de assimilação,
ver Massey, D. S. (1985), "Ethnic and Residential Segregation: A
Theoretical and Empirical Review," Sociology and Social Research,
69, pp. 315-50. Para uma avaliação da literatura sobre a mobilidade
espacial, ver Allen, J. P. e E. Turner (1996), "Spatial Patterns of
Immigrant Assimilation," The Professional Geographer, 48(2), pp. 140-155.
[4] Ver, por exemplo, Lal, B. B. (1995), "Symbolic Interaction Theories," American Behavioral Scientist, 38, pp. 421-441.
[5] A
Portuguese Fraternal Society of América foi criada em 2010, combinando
os esforços de quatro organizações distintas, algumas delas criadas no
século 19 na Califórnia: Irmandade do Divino Espírito Santo, Conselho
Supremo da Sociedade do Espírito Santo, União Portuguesa do Estado da
Califórnia e União Portuguesa Protectora do Estado da Califórnia http://www.mypfsa.org/.
[6] A
Luso-American Life Insurance Society, abarca as seguintes divisões
fraternais: Luso-American Fraternal Society (LAFF), Portuguese
Continental Union (PCU), Sociedade Portuguesa da Rainha Santa Isabel
(SPRSI) and Luso-American Education Foundation (LAEF) http://www.luso-american.org/.
[7] Até
à data, milhares de estudos sobre o empreendedorismo étnico e de
imigrantes já foram publicados. Para uma revisão das várias teorias
debatidas dentro deste paradigma académico, ver Scott, D. M., R. Mackoy
and R. Curci, (Forthcoming, 2010) "Socio/Economic Ethnic
Entrepreneurship Development Theories: An Analysis of Hispanic Business
Enterprises in Central Indiana," Journal of the Indiana Academy of the Social Sciences.
[8] Ver,
por exemplo, estudos citados em Portes, A., P. Fernández-Kelly, and W.
Haller (2005), "Segmented assimilation on the ground: the new second
generation in early adulthood," Ethnic and Racial Studies, 28 (6), pp. 1000-1040.
(cont...)
por: Irene Maria F. Blayer
RTP Açores, Comunidades, aqui.