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Estudo sobre a integração dos descendentes de imigrantes portugueses na América – Dulce Maria Scott (1/3)
2010-09-09

 

Dulce Maria Scott é professora na Anderson University, Indiana, USA, e investigadora no  Institute for Portuguese and Lusophone World Studies, Rhode Island University College. 
Este seu texto inédito, que aqui se publica no Comunidades, não só serve de preâmbulo ao conhecimento da pesquisa da Professora Scott, como constitui a base para um estudo muito mais abrangente da sua investigação.  Neste estudo, já se apresenta uma interpretação de resultados preliminares da sua pesquisa, a qual provém de uma reflexão analítica sobre um  inquérito online e entrevistas pessoais levadas a cabo pela própria Professora Scott, tanto na Califórnia como na Nova Inglaterra.  Segundo estes resultados, a maioria dos descendentes de imigrantes portugueses que até à data participaram neste estudo, encontram-se bem integrados na sociedade americana, mantendo-se, no entanto, ligados à sua etnicidade, cultura, identidade luso-americana e a Portugal.  
Cerca de 1.400 pessoas de vários estados americanos e de algumas províncias canadianas preencheram o questionário online, o qual é dirigido a descendentes de portugueses nascidos/as nos Estados Unidos e no Canadá, ou que emigraram para estes países antes dos 14 anos de idade.  
A Professora Scott convida os descendentes de imigrantes portugueses a participarem no inquérito, através dos seguinteslinks:

** Para residentes dos Estados Unidos:http://PortugueseAmericans.questionpro.com

**Para residentes do Canada:http://questionpro.com/t/ADIuIZGVfP


Praz-nos informar de que futuros resultados da pesquisa da  Professora Scott serão divulgados  no Comunidades.

Irene Maria F. Blayer

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ESTUDO SOBRE A INTEGRAÇÃO DOS DESCENDENTES DE IMIGRANTES PORTUGUESES NA AMÉRICA

 

A minha pesquisa debruça-se sobre a problemática da integração dos descendentes de imigrantes portugueses na América. Alguns observadores têm afirmado que os luso-americanos não se encontram bem integrados na sociedade americana. Esta suposição tem sido baseada, nas seguintes observações, entre outras, sobre as características dos luso-americanos:

  • O nível educacional dos luso-americanos, que, apesar de próximo das médias nacionais americanas, ainda se encontra num patamar inferior ao que tem sido atingido por outros grupos de imigrantes de origem europeia.
  • O nível de concentração geográfica dos imigrantes portugueses e a tendência destes para se manterem separados como grupo étnico.
  • A propensão dos imigrantes portugueses para reproduzirem e manterem a cultura e a identidade étnicas, e, consequentemente, de não se integrarem na cultura dominante da sociedade americana.

Baseada em alguns dos dados recolhidos através do inquéritoonline e em entrevistas pessoais feitas no verão de 2010 na Califórnia e na Nova Inglaterra--e em consonância com desenvolvimentos teóricos recentes-- apresento neste artigo uma nova perspectiva sobre estas afirmações, demonstrando que muitos dos inquiridos, descendentes de imigrantes portugueses, têm vivenciado uma trajectória de integração e de mobilidade social ascendente bastante rápida. Também argumento que, tanto a concentração geográfica como a manutenção da cultura étnica, não impedem uma integração ascendente, não devendo, consequentemente, ser consideradas, como frequentemente o têm sido, indicadores de um baixo nível de integração dos luso-americanos na sociedade americana.  
  Em vez de se perguntar se estão bem integrados, a questão mais apropriada a ponderar é a seguinte: como estão a integrar-se os luso-americanos na sociedade americana? A trajectória de integração[1] dos imigrantes portugueses e dos seus descendentes não tem sido atípica para uma população de imigrantes laborais, que chegaram aos Estados Unidos com níveis de educação e de habilitações profissionais e técnicas baixas. Tendo em conta o ponto de partida, isto é, os níveis baixos de capital individual das populações imigrantes portuguesas, o progresso socioeconómico desta população tem decorrido com celeridade.
   Devo de salientar que os dados, não sendo difluentes de uma amostra representativa de toda a população luso-americana, só podem ser aplicados aos inquiridos e entrevistados e não a todo o universo populacional luso-americano. Por exemplo, é muito provável que o inquérito online esteja a capturar segmentos da população luso-americana com níveis educacionais e de rendimento mais elevados do que a população luso-americana em geral.

INTEGRAÇÂO EDUCACIONAL E SOCIOECONÓMICA

A nível educacional, os resultados do inquérito online mostram, em congruência com a realidade da imigração portuguesa, que na geração dos pais o nível de educação era baixo, com mais de 60 por cento não tendo completado o liceu e só 7 por cento tendo completado um bacharelado. Em contrapartida, na geração dos filhos observa-se uma subida de escolaridade rápida; cerca de 96 por cento dos inquiridos tinham completado o liceu e mais de 41 por cento tinham atingido o grau de bacharelado. 
   Mais de 63 por cento dos inquiridos indicaram que o seu rendimento era superior ou muito superior ao dos pais. Apesar dum patamar educacional menos elevado, dados censitários mostram que os luso-americanos e os seus descendentes têm alcançado paridade com os outros grupos ancestrais europeus nos vários indicadores de rendimento médio e de taxas de pobreza.[2] 
   No inquérito online as três ocupações predominantes dos pais dos inquiridos eram de trabalho tipicamente manual, em fábricas, em construção e em agropecuária. Similarmente, as mães, que trabalhavam fora de casa, encontravam-se concentradas em ocupações fabris e em serviços de limpeza. Na geração dos filhos, as três ocupações prevalecentes são profissões típicas da classe média: funcionários, profissionais e outras ocupações ligadas à educação a nível primário e secundário.
   Os dados recolhidos sobre os níveis de educação e de rendimento, assim como sobre as ocupações desempenhadas pelos inquiridos e pelos seus pais, evidenciam uma subida inter-geracional rápida, da classe operária na geração dos pais à classe média na geração dos filhos.

 


 

[1] Para uma visão global das diferentes trajéctorias de integração identificadas por sociólogos americanos, ver, entre outros: Portes, A., P. Fernández-Kelly and W. Haller (2009), "The Adaptation of the Immigrant Second Generation in America: A Theoretical Overview and Recent Evidence," Journal of Ethnic and Migration Studies, 35(7), pp. 1077-1104; Waldinger, R. (2007), "Did Manufacturing Matter? The Experience of Yesterday's Second Generation: A Reassessment", International Migration Review, 41(1), pp. 3-39; Waldinger, R. e C. Feliciano (2004), "Will the new second generation experience 'downward assimilation'? Segmented assimilation re-assessed," Ethnic and Racial Studies, 27(3), pp. 376-402.

[2]Ver, por exemplo, U.S. Census Bureau, Census 2000 Special Tabulations (STP-159) e 2006 American Community Survey. Para uma análise de dados censitários pertinentes aos luso-americanos, ver Scott, D. M. (2009)., "Portuguese Americans' Acculturation, Socioeconomic Integration, and Amalgamation: How far have they advanced?" Sociologia, Problemas e Prácticas, N. 61, pp.41-64. eScott, D. M. (2010) "A Integração dos Luso-Americanos Nos Estados Unidos: Uma Análise Comparativa," Boletim do Núcleo Cultural da Horta, pp. 327-353.

(cont...)

por: Irene Maria F. Blayer

 

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