NEW BEDFORD - Chegou uma nova maré.
Após mais de uma década em
planeamento, a Galeria do Baleeiro Açoriano vai ser inaugurada hoje,
pelas 5:30 p.m., no Museu da Baleia.
Sendo a única exposição permanente do seu género nos E.U.A., a
galeria irá relatar o intercâmbio cultural Açores-América no século
XIX, através da baleação e da sua relevância para a expansão da área de
New Bedford, através do século XX.
"Queremos contar a história da
Diáspora portuguesa," salientou o presidente do Museu da Baleia, James
Russell. "Muitas pessoas têm trabalhado arduamente para concretizar
esta Galeria do Baleeiro Açoriano."
Contando com um subsídio de
$500,000, atribuído em 1998 pelo Governo de Portugal, a exposição
concentrar-se-á no panorama geral do arquipélago açoriano e na Diáspora
açoriana, nas embarcações baleeiras que frequentavam as ilhas açorianas
e nas pessoas que as ligavam a New Bedford. Tudo isto será relatado
através de arte e artefactos de ambas as localidades, desde a época da
baleação até ao presente.
Composta por cerca de 120 artigos, a
exposição mostrará peças de arte, artefactos, filmes e fotografias
sobre os laços marítimos, culturais e sociais que unem os dois lados do
Atlântico.
Muitas figuras históricas da comunidade açoriana de New
Bedford também serão destacadas, incluindo marinheiros, mestres,
proprietários de embarcações e empresários marítimos. Muitos imigrantes
açorianos tornaram-se elementos integrais da comunidade marítima,
empresarial e social.
Os objectos em exposição não são apenas
singulares, mas bastante diversificados, desde um dente de cachalote
com 35 milhões de anos, um livro raro sobre traças de carpintaria
náutica e um milhafre embalsamado a inúmeros artigos pessoais, caso de
báu de bordo pertencente a Manuel Mendonça, um tanoeiro açoriano
embarcado num navio americano, no século XIX, que eventualmente se
radicou em New Bedford. O báu está repleto de artigos pessoais que
reflectem o estilo de vida naquela altura.
"Quanto mais se olha
para eles, mais se vê a ligação de cá para lá e vice versa," salientou
Gregory Galer, vice-presidente de colecções e exposições no Museu da
Baleia. "Contam coisas de pessoas específicas, embarcações, objectos
pessoais...não são apenas generalidades. Pode-se ver como é que as
coisas funcionam juntas. Trata-se de uma abordagem integral."
A parte central da exposição está localizada no Edifício Bourne - o maior do complexo do museu.
"Tê-la
aqui, transmite uma mensagem importante, está literalmente lado-a-lado
com a contribuição Yankee à baleação," salientou Russell. "Transmite um
sinal importante que queremos que a comunidade ouça."
Os visitantes serão recebidos por um arco grande, elaborado com pedra vulcânica.
A embarcação Pico, de 30 pés de comprimento, também integra a exposição.
A
cerimónia de inauguração, que tem admissão grátis e é aberta ao
público, terá início com a actuação do grupo Ilhas de Bruma, na Casa
dos Botes da Sociedade de Herança Marítima Açoriana, localizada em 25
North Water Street.
Os presentes seguirão posteriormente em cortejo até ao Johnny Cake Hill, onde entrarão no edifício Bourne.
Prevista
está a comparência de inúmeras autoridades, incluindo o Governador de
Massachusetts, Deval Patrick. O Embaixador de Portugal em Washington,
Dr. João de Vallera, representará o Governo português na cerimónia.
"Este
é também um momento singular para a nossa comunidade portuguesa e
luso-descendente por representar o reconhecimento por parte de uma
prestigiada instituição como o Museu da Baleia do papel de enorme
importância que historicamente o Povo Português desempenhou na época da
baleação e para a história e herança marítima desta região," salientou
a Cônsul de Portugal em New Bedford, Dra. Graça Fonseca.
Para João Pinheiro, um dos fundadores da Sociedade de Herança Marítima Açoriana, a galeria é a "concretização de um sonho."
"Deixa saber a nossa grande cultura marítima," frisou. "Estou muito orgulhoso. Nós os açorianos estamos virados para o mar."
Duas outras exposições estarão patentes, ligadas à inauguração da galeria.
"Drawn
From New Bedford: Arthur Moniz - A Retrospective" apresenta cerca de 40
telas e esboços do artista luso-americano da região do Southcoast.
"A
Baleação no Faial, 1940-1984" é uma exposição itenerante dos Açores,
que examina as operações da baleação durante o século XX, até à sua
extinção.
A antropóloga Márcia Dutra, coordenadora desta exposição,
salientou que a exposição não só mostrará os aspectos nevrálgicos da
baleação açoriana, mas também as suas ramificações nos sectores
turístico, cultural e artístico.
"Sinto-me muito orgulhosa,"
salientou a antropóloga. "É importante trazer um pouco da história, da
cultura açoriana. É com alegria que faço parte disto e é gratificante
ver a importância que é para a comunidade."
Russell calcula que o
museu já despendeu cerca de $1 milhão em exposições temporárias,
palestras e outras iniciativas para aprofundar e difundir esta história.
"Não
vamos parar por aqui," salientou. "A exposição poderá sofrer
modificações com o tempo, à medida que investirmos nela e procurarmos
outros objectos. Isto é apenas o início."
O presidente adiantou
ainda que o museu irá desenvolver programas adicionais e eventos
relacionados com o intercâmbio cultural Portugal-E.U.A.
No próximo
dia 22 de Outubro, o Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos
César, visitará o museu para assinar um protocolo entre os Açores, New
Bedford e São Francisco.
O museu também está a trabalhar com o
Museu da Baleia da Madeira para facilitar a restauração de um esqueleto
de baleia que irá ficar em exposição no arquipélago madeirense.
"Estou
curioso para ver o que mais vai surgir," salientou Motta. "Irá
definitivamente aumentar os nossos conhecimentos em relação a esta
ligação que a exposição está abordar."
O Jornal, aqui.