A lei de acolhimento de imigrantes da Catalunha "deveria dar uma opção de escolha pessoal ao imigrante e não impor o catalão" como primeira língua na formação e integração dos estrangeiros na sociedade catalã.
João Pinhão está a realizar um estágio profissional de seis meses em Barcelona, e quando chegou, por uma "questão cultural" realizou um curso intensivo de catalão para se sentir maisintegrado.
Porém, comentou à Lusa, gostaria de ter tido inicialmente uma possibilidade de escolha entre as duas línguas e não uma imposição de aprender primeiro o catalão, como refere a lei.
"Se fosse possível, optaria primeiro pelo castelhano, porque no sentido global, seria mais importante para mim saber falar e escrever bem o castelhano e depois sim, por uma questão cultural e enriquecedora, porque não aprender o catalão?", questiona.
Segundo a lei, aprovada no Parlamento da Catalunha no passado mês de abril, o imigrante obtém um certificado oficial que facilita a integração social, depois de realizar uma formação voluntária e gratuita, que inclui 135 horas de catalão, 20 horas de conhecimento sobre a sociedade catalã e 10 sobre empregabilidade.
A empregabilidade é um tema que preocupa Sofia Peixoto, psicóloga portuguesa que vive há cinco anos em Barcelona e tem uma opinião dividida sobre a lei. Em declarações à Lusa, revelou que a maior dificuldade que teve foi encontrar trabalho na área de formação, sem falar o catalão.
"Para concorrer a um trabalho há uma desigualdade. Acho interessante que a cidade forneça os cursos e que dessa forma preserve a língua. Mas, o acesso a certas coisas implica que se fale a língua catalã, e isso é uma forma de limitar a diversidade cultural", comenta.
O imigrante tem a possibilidade, após a aprovação no curso de catalão, de realizar também o curso de castelhano. Este artigo da lei levou a Provedora de Justiça espanhola, Maria Luísa Cava, a recorrer aoTribunal Constitucional (TC), no passado 13 de agosto.
Cava defendeu que o artigo da lei de acolhimento catalã vai contra a Constituição, e é contrário ao que o TC disse quando examinou o Estatuto da Catalunha, cujo acórdão anulou o carácter preferencial da língua catalã.
Esta iniciativa da Provedora de Justiça reavivou um clima de indignação na Catalunha. Algumas associações de imigrantes já demonstraram o descontentamento e convocaram um ato de protesto contra o recurso à lei para o início de setembro.
"Se vão mudar a lei, que façam outra que diga para os catalães falarem com os imigrantes em castelhano", disse em declarações à Lusa Javed Ilyas, presidente da associação de trabalhadores paquistaneses da Catalunha, que defendeu que é a língua do território que tem que prevalecer.
O facto de alguns catalães não falarem castelhano foi o motivo para Luís Lopes, optometrista português que vive há quatro anos em Barcelona, sentir a necessidade de aprender a língua local.
"Tive situações profissionais onde necessitei o catalão. E, quando falo, as pessoas demonstram um contentamento pelo facto de alguém que é de fora ter interesse na língua da Catalunha", concluiu.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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