"As pessoas
gritam, há agressões verbais diárias e insultos a colegas. Os funcionários não
podem trabalhar neste ambiente. É desumano e ninguém pode ser sujeito a tal
humilhação", disse à Agência Lusa, Lina Gonçalves, funcionária naquele
consulado, defendendo ainda que "o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE)
tem responsabilidades e tem de zelar pelo nosso bem-estar".
Lina Gonçalves afirmou à Lusa que a falta de funcionários está na base de todo
o problema, já que atrasa o trabalho. "A situação agravou-se ainda mais quando
não renovaram cinco contratos de prestação de serviços e com a entrega do
cartão do cidadão, que não pode ser por correio", sublinhou.
Questões a que se junta o aumento da emigração portuguesa no Reino Unido, "um
dos países para onde está a ir mais gente", disse a funcionária. "Nota-se o
fluxo da emigração. São diárias as dezenas de inscrições que fazemos", indicou
à Lusa.
Actualmente, o Consulado Geral de Portugal em Londres tem 14 funcionários que
atendem mais de 200 pessoas diariamente, revelou a funcionária, que considera
serem necessários, "pelo menos, mais 10 para funcionar como deve de ser". Lina
Gonçalves disse à Lusa compreender a questão do lado do utente, que "chega a ir
dois e três dias ao consulado e não ser atendido".
Relativamente às instalações que ocupam actualmente, a funcionárias afirmou que
"são óptimas" e que o "único problema é mesmo a falta de pessoal". Se o
problema persistir, Lina Gonçalves não hesitou em afirmar que partem para a greve.
Contactada pela Lusa, fonte do gabinete do secretário de Estado das
Comunidades, António Braga, afirmou que "o MNE está atento à situação". "Em
breve haverá uma solução para o consulado de Londres no intuito de resolver os
interesses do cidadão", acrescentou.
No mês de Julho, em declarações à Lusa, o conselheiro das Comunidades
Portuguesas pela Inglaterra, afirmava que o consulado português em Londres tem
uma lista de espera "de mais de 800 marcações", o que significa ter de "ficar
dois a três meses à espera" para conseguir ser atendido.
António Cunha acrescentava que a marcação de uma reunião para tratar dos papéis
nem sempre é sinónimo de problema resolvido. "Marcam a reunião para dois ou
três meses depois e as pessoas quando chegam lá ouvem coisas como "falta um
documento" ou "o sistema está em baixo" e por isso têm de lá voltar novamente",
garantia à Lusa.
Entre as histórias "dramáticas", o concelheiro das Comunidades recordava haver
várias famílias que tinham baptizados marcados em Portugal e não conseguiam
abandonar o país porque não terem os documentos das crianças (passados pelo
consulado), e jovens que não conseguiriam emprego por não arranjarem passaporte
a tempo.
Questão ao Governo
A redução de funcionários naquele posto consular foi levantada no dia 8 de
Julho pelos deputados sociais-democratas José Cesário e Carlos Gonçalves, que
entregaram na Assembleia da República, um requerimento no qual questionavam o
Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) sobre a saída de quatro
funcionários. José Cesário, deputado do PSD pelo Círculo de Emigração por Fora
de Europa e Carlos Gonçalves, deputado pela Europa afirmavam que a redução do
número de funcionários "vem prejudicar de forma considerável o já insuficiente
atendimento ao público" naquele posto consular.
No requerimento, os parlamentares questionavam o MNE sobre as justificações que
levaram à saída dos funcionários "num momento em que o Consulado de Londres já
se encontra tão carenciado em termos de recursos humanos" e perguntavam ainda
se o MNE entende que "os utentes do Consulado de Londres irão ser melhor
atendidos depois desta decisão". Por último, pretendiam saber o que o
Ministério pensa fazer "para melhorar a capacidade de atendimento do Consulado
de Portugal em Londres". "Este Consulado serve a segunda maior Comunidade
portuguesa na Europa e aquela que é especialmente composta por muitos nacionais
recentemente emigrados precisamente aqueles que necessitam de um maior apoio e
atenção por parte deste tipo de estruturas", lê-se no mesmo documento.
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