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Novo embaixador francês em Lisboa é um luso-descendente
2010-08-06

Pascal Teixeira da Silva é o primeiro francês filho de português a ocupar o cargo de embaixador em Lisboa. Domina a língua e traz um mapa-mundo do tempo de D. Sebastião.

Não fosse o apelido do pai e Pascal Teixeira da Silva teria poucas razões para se lembrar que tem uma costela portuguesa. Formado na ENA, a Grand École da elite política francesa, é especialista em estratégia, fez carreira no Quai D'Orsay e chegou a director do departamento de Informações Civis. Até que há quatro dias aquele mesmo nome - Teixeira da Silva - deixou marca no seu percurso: a França de Nicolas Sarkozy nomeou-o embaixador em Lisboa.

As histórias de sucesso que têm como personagem principal portugueses emigrados são recorrentes. Mas nunca um lusodescendente tinha vingado no Ministério dos Negócios Estrangeiros francês. Muito menos sido escolhido para representante em Lisboa.

Teixeira da Silva, de férias na Normandia, planeia mudar-se para o Palácio da Santos-o-Velho no início de Setembro - quando começam as aulas do filho no Liceu Francês. O diplomata disse ao DN que está "orgulhoso" da nomeação. E explicou como isto é o "fechar" de uma história começada pelo seu avô.

António Teixeira era lenhador em Castelo de Paiva quando no final dos anos 20 fez as malas e partiu para França. O país tinha perdido um milhão e meio de homens na Primeira Guerra e precisava de mão-de-obra.

Poucos anos depois, em 1933, chamou a mulher e o seu filho de seis anos, José, para Bordéus. A família cresceu depressa e muito. Tiveram onze filhos, "uma coisa bastante rara". Quando José fez oito anos, o pai mandou-o para o seminário. Na escola dos padres o português aprendeu a falar francês e teve uma educação que, anos mais tarde, lhe abriu as portas da direcção de um banco italiano. Quando deixou o seminário José casou-se com uma rapariga francesa. Pascal Teixeira da Silva nasceu em 1957.

Pascal cresceu afastado da comunidade portuguesa. Veio a Portugal antes de se tornar adulto e manteve contactos com os primos dos arredores do Porto, mas nunca aprendeu a falar português. "O meu pai só falava francês em casa. Esqueceu-se da língua, mas aprendeu-a mais tarde. Tal como eu", contou Pascal, que levou livros de português para férias.

A primeira vez que Teixeira Silva pensou em aprender português a sério, foi durante um estágio no Brasil. Tinha vinte e poucos anos e estava a terminar o curso na Escola Nacional de Administração. Foi nessa altura que conheceu Pascale, a filha do embaixador francês que aceitou ser sua mulher e o seguiu pelo mundo fora.

Com o canudo da escola da elite francesa, Teixeira da Silva entrou no Quai D'Orsay. Esteve alguns anos em Paris, mas no final dos anos 1980 foi destacado para a embaixada em Bona, capital da Alemanha Ocidental. Foi dali que viu cair o Muro de Berlim. Depois partiu para Moscovo. Estava na cidade vermelha, em 1991, quando a União Soviética se desmembrou e deu lugar à Rússia.

Mais tarde foi para Nova Iorque como adido da missão francesa na ONU. Portugal voltou a cruzar-se no seu caminho: era então membro do Conselho de Segurança. Desde então que tem no seu escritório um mapa-mundo, de 1573, do cartógrafo português Domingos Teixeira. Pascal regressou a Paris para se tornar director de Estratégia. Agora será o homem da França em Lisboa.

Diário de Notícias, aqui.

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