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Crónica do Québec (Canadá): Os primeiros portugueses
2010-07-23

Já numa crónica anterior falámos aqui um pouco da remota presença lusitana nestas paragens. Fizemo-lo no entanto duma forma sucinta, não mencionando quaisquer nomes, veridicos ou não, que  estão indubitavelmente ligados à história recente deste grande país, e cuja presença nestas paragens é anterior à primeira grande vaga de imigrantes portugueses que chegaram no início dos anos cinquenta do século XX, de forma organizada e controlada pelos dois governos, português e canadiano.
De todos os casos de imigração individual de personagens que não fazem parte da nossa memória colectiva começaria por mencionar o nome de Manuel da Costa, que teria sido o primeiro português a estabelecer residência no Canadá e o primeiro habitante negro  a residir nestas paragens. No inicio do século XVII teria servido de intérprete junto das populações nativas, ao serviço de Samuel de Champlain.
Se a presença e origens de Manuel da Costa está envolta em algum mistério o mesmo já não sucede com Pedro da Silva, conhecido por «le portugais», que viveu entre 1647 e 1717 e é oficialmente considerado o primeiro carteiro canadiano. Toda a correspondência entre Québec e Montreal nesta altura, era transportada na sua canoa através do rio São Lourenço, e em 2003 os Correios Canadianos emitiram um selo em sua homenagem. Sabe-se pouco das origens de Pedro da Silva (ou Pierre Dasylva) salvo que partiu de Portugal antes de 1673, aqui se casou em 1677 e teve uma prole de 14 filhos, o que na altura era normal. Segundo o recenseamento de 1677 vivia com a familia na cidade ribeirinha de Beauport e trabalhava como mensageiro. Mudou-se depois para a parte baixa, na margem do rio,  da cidade de Québec e aqui, dedicava-se ao transporte de mercadorias. Diz a lenda que, mesmo nos invernos mais frios, e com as águas do rio completamente geladas acabava sempre por fazer o transporte dos seus produtos  entre as duas grandes cidades da Nova França.  Segundo documentos oficiais datados de 1693 recebia uma retribuição de 20 «sols» (equivalente a uma libra) para transportar uma encomenda de Montreal até  Québec.  A 23 de Dezembro de 1705 recebeu uma carta da comissão  de Jacques Raudot, intendente da Nova França, que lhe conferia o título de «correio-mor» do Canadá. Estava assim autorizado a transportar cartas e encomendas de particulares e oficiais no Canadá, que nesta altura e como país organizado, era constituído sobretudo pela zona fluvial entre Montreal e o Golfo do grande rio na península de Gaspé.  O motivo do selo consagrado a Pedro da Silva mostra-nos  uma imagem de Québec executada por alturas de 1760, tendo gravadas as armas do rei de França, ornadas  por um extrato da carta da comissão oficial de Jacques Raudot e com a assinatura de Pedro da Silva. Os nomes de Silva, Dasilva e Dasylva, são hoje apelidos comuns usados por inúmeras familias canadianas que terão tido a sua origem neste aventureiro português do século XVII.
Sem a importância deste nosso antepassado poderia ainda mencionar nomes como Frank Silver (anglicismo de Francisco Silva) importante pintor naif de Hantsport, província da Nova Escócia, do século XIX.
No inicio do século XX e com o desenvolvimento da marinha mercante  a vapor muitos passageiros clandestinos ficavam  nas províncias da costa atlântica. Entre eles mencionaria um certo António da Silva que servia de elo de ligação dos pescadores de bacalhau nos bancos da Terra Nova à sua terra natal.  Nas províncias do interior do país, citaria o nome de Eduardo António Alves que se estabeleceu no sul do Ontário e se alistou no exército canadiano. Serviu o país como soldado nas  Primeira e Segunda Grandes Guerras Mundiais e foi agraciado pelo governo português na primeira e pelo canadiano na segunda.
Além destes, um sem número de anónimos subiram até Dawson City, no território de Yukon  no século XIX, por alturas da febre do ouro, onde teriam tentado  a sua sorte nessas  gélidas terras do Grande Norte Canadiano. Todos estes individuos estão hoje completamente inseridos na população canadiana e os seus descendentes tudo ignorarão sobre as suas origens.

J.L. Reboleira Alexandre
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