Emigrantes em Londres acusam os serviços do consulado de chegar a demorar três meses para marcar uma reunião para tratar de documentos, impedindo-os de viajar para Portugal ou mesmo de conseguir um emprego.
Segundo o conselheiro da comunidade portuguesa António
Cunha, neste momento o consulado português em Londres tem uma lista de espera
"de mais de 800 marcações", o que significa ter de "ficar dois a três meses à
espera" para conseguir ser atendido.
A simples tarefa de telefonar para marcar um atendimento também pode ser
complicada. "Estive dois, três dias a telefonar para lá e ninguém me atendia.
Depois fui à Internet e só consegui uma vaga para passados dois meses", conta à
Lusa Alcino Sequeira, 34 anos, há três anos e meio emigrado em Inglaterra.
Francisco Vilela também enviou um e-mail e nunca obteve resposta até que um
dia, depois de "mais de meia hora ao telefone para ser atendido", lhe disseram
que não lhe conseguiam responder para a sua caixa de correio eletrónica.
"Não percebo: eu vivo em Londres há 16 anos, porque é que não me mandaram uma
carta a responder ao meu pedido? Mas a verdade é que eu nunca recebi uma única
informação do consulado, nem mesmo quando mudaram de instalações", critica o
emigrante.
Nos últimos tempos, o conselheiro da comunidade portuguesa António Cunha diz
que tem "recebido telefonemas de casais portugueses todos os dias, a todas as
horas, a pedir para marcar um apontamento".
Entre as histórias "dramáticas", António Cunha diz haver várias famílias que
têm baptizados marcados em Portugal e não conseguem abandonar o país porque não
têm os documentos das crianças (passados pelo consulado) e jovens que não
conseguem emprego porque não arranjaram passaporte a tempo.
Agora, em época de férias, são muitos os emigrantes que se vêem "presos" ao
país por "incompetência do consulado" que não responde em tempo útil, sublinha
Francisco Vilela.
E a marcação de uma reunião para tratar dos papéis nem sempre é sinónimo de
problema resolvido, lamenta António Cunha.
"Marcam a reunião para dois ou três meses depois e as pessoas quando chegam lá
ouvem coisas como "falta um documento" ou "o sistema está em baixo" e por isso
têm de lá voltar novamente", garante.
Em Londres, os portugueses têm de madrugar para tentar conseguir ser atendidos
no dia: "As pessoas vão para a porta do consulado às quatro da manhã para
conseguir um apontamento para esse dia", garante Alcino Sequeira.
"O consulado português em Londres é uma vergonha", resume este emigrante,
lembrando que ali "nem sequer têm um serviço de atendimento de urgência": "Se
um português vier para aqui de férias e tiver o azar de ter um problema tem de
esperar, porque eles não têm um serviço de urgência", alerta Alcino.
Contactada pela Lusa, fonte do gabinete do secretário de Estado das Comunidade
disse ter conhecimento da situação e explicou que "a solução passa pela mudança
de instalações", que já está a ser tratada.
"Vamos abrir um consulado à imagem e semelhança de Paris, onde o atendimento
médio é de 500 pessoas por dia e demoram sete minutos a ser atendidos", disse a
fonte, sem precisar a partir de quando é que os portugueses em Londres poderão
começar a usar as novas instalações.
Público, aqui.