A mulher imigrante portuguesa (leia-se açoriana) foi
finalmente e
justamente distinguida com uma obra literária que lhe honra a memória e nos dá
a
conhecer muitas das suas dramáticas facetas na ajuda ao marido no ganha-pão
diário por terras da emigração.
Tem por título "Emigração Em Dó Maior", da autoria da Dra. Fátima Toste e
Ana Sança, de Toronto, e foi recentemente lançada em Montreal.
Esta epopeia da mulher açoriana por terras da emigração, privilegia
comunidades luso-canadianas do Ontário, Quebeque; da Califórnia e Nova
Inglaterra,
nos Estados Unidos.
As autoras dedicam o livro "a todas as mulheres açorianas que nos abriram
as suas portas e coração para, num gesto de simpatia e solidariedade,
partilharem as suas vivências nas ilhas que lhes serviram de berço, nos dias
pré-emigração, e também em
terras do Canadá e dos Estados Unidos da América".
"O objectivo primordial deste trabalho - lê-se na introdução - é dar a
conhecer algumas das nossas mulheres, especialmente essas que trabalham uma
vida inteira sem qualquer ambição que não seja a de obter um nível de vida
compatível com a época e a sua terra de adopção, fazendo o máximo por aqueles a
quem querem bem".
Segundo ainda o que consta da introdução, "foram elas que, com a sua
experiência por estas terras da América do Norte, calcetaram as canadas e
desbravaram os atalhos que hoje calcorreamos facilmente por estes caminhos da
emigração".
E por ser realmente uma emigração da maior dor, comovem-nos sobretudo
situações quase sobre-humanas por que muitas delas passaram, ao assumirem ao
mesmo tempo "todas as obrigações relacionadas com a criação dos filhos e de
todos os outros afazeres inerentes à sua condição assumida ou imposta de donas
de casa", (...) depois ajudando os maridos nas herdades "na preparação e
plantação dos terrenos, na apanha ou recolha da fruta e dos legumes, muitas
vezes fazendo-se acompanhar pelos filhos que dormiam à sombra das árvores em
cestos ou caixotes, tornados berços".
Conforme se lê no prefácio, da autoria da Dra.Maria João Dodman, "o livro
que aqui se apresenta é merecedor de uma particular atenção, porque não só
demonstra a inegável participação da mulher açoriana na saga migratória, mas
também porque se revela inovador. (...) Engloba uma multiplicidade de
experiências narradas por mulheres de várias gerações, de distintas classes
sociais
e convicções".
Para além dos depoimentos das respectivas mulheres, o livro vem ainda
"salpicado" de vários poemas alusivos ao tema da emigração, da autoria das
escritoras responsáveis pela presente obra e muito ativas na vida cultural das
suas comunidades
Maria de Fátima da Silva Toste é natural da Horta, Ilha do Faial. Vive no
Canadá desde 1965. Tem-se distinguido com a obtenção de bacherelato em
Sociologia, mestrado em Psicologia e doutoramento em "Counseling Psichology"; e
já publicou várias obras de poesia e prosa. Presentemente, faz parte da
equipa de trabalho do Grémio Literário da Língua Portuguesa, Ontário, e é
membro
vitalício do Senado do mesmo.
Ana Júlia Sança nasceu na Iha de Santiago, Cabo Verde, tendo emigrado para
o Canadá em 1981, depois de ter vivido alguns anos em Portugal. É assistente
social e trabalha para o Consulado Geral de Portugal em Toronto. A sua
poesia e prosa figuram em diversas antologias publicadas em vários países,
incluindo o Canadá e Portugal. Foi vice-presidente do Grémio Literário da
Língua
Portuguesa do Ontário, e atualmente faz parte do Senado do mesmo.
Felicitamos as autoras pelos nobres propósitos deste seu livro, que vem
repor uma justiça que desde há muito faltava.
Portuguese Times, aqui.