Notícias publicadas em vários jornais no dia 7 de Junho sobre a "fuga de cérebros", que tiveram por base uma entrevista que condedi à Lusa, distorcem, decerto involuntariamente, a minha posição sobre o assunto. Por isso, dou aqui conta do que realmente disse.
Em primeiro lugar, a chamada "fuga de cérebros", ou emigração de portugueses qualificados, é menos de metade do número habitualmente divulgado a partir do uso incorrecto de estatísticas do Banco Mundial. Isto é, menos de metade dos 20% de licenciados portugueses referidos em muitas notícias.
Em segundo lugar, a emigração qualificada não é fenómeno novo em Portugal que distinguiria a actual emigração da dos anos 60: a diferença é que nessa época os "cérebros" emigravam para as colónias. E se hoje há mais emigrantes qualificados do que então é, simplesmente, porque entretanto subiram, e muito, os níveis de qualificação da população portuguesa.
Em terceiro lugar, a "fuga de cérebros" é e será inevitável mesmo com um crescimento mais acelerado da economia portuguesa, devido às desigualdades internacionais e à atracção de economias que continuarão a ser, num futuro próximo, muito mais desenvolvidas do que a portuguesa. Veja-se, a propósito, o caso do Reino Unido, um dos países que mais "cérebros" exporta, em especial para os EUA.
Por fim, o problema não é a saída de portugueses qualificados, inevitável numa sociedade democrática e num contexto de desigualdade internacional, mas a actual diminuição do poder de atracção sobre outros países menos desenvolvidos, a qual poderia compensar aquela saída. Assim sendo, penso que cabe aos governos nacionais criar condições não para fixar os que querem sair mas para atrair mais imigrantes (estrangeiros) altamente qualificados, não para conter o direito à saída de pessoas livres mas para promover a imigração qualificada.
Rui Pena Pires
Coordenador do Conselho Científico do Observatório da Emigração