Manuel Eduardo
Vieira sempre viu possibilidades e potencial onde outros só viam obstáculos.
Nasceu na pequena aldeia da Silveira, perto dos Lajes do Pico, e deixou a ilha
ainda adolescente para o Brasil.
"Trabalhei com meu pai, um agricultor", diz, mas foram os seus pais
que o encorajaram a emigrar para que pudesse ter uma melhor educação.
"Os meus pais não tinham possibilidades de me mandarem para a universidade
aqui e pensaram que eu ia ter mais oportunidades lá", afirma Manuel
Eduardo.
Aos 17 anos, o menino fazendeiro trocou a vida insular do Pico pela metrópole
movimentada do Rio de Janeiro, onde financiou o seu curso.
"Eu estudei e trabalhei ao mesmo tempo", adianta.
Para Manuel Eduardo, além de ser uma forma de obter uma educação e uma
carreira, a emigração era também uma maneira de alcançar independência.
Aos 21 anos casou-se com uma outra emigrante de Portugal, Laurinda, que veio de
Chaves, e tiveram três filhos - Ricardo, Márcia e Carlos.
Dez anos depois de ter chegado ao Brasil, Manuel Eduardo finalmente teve tempo
para as suas primeiras férias e foi para a Califórnia visitar os seus
familiares.
As ferias que mudaram uma vida
"Eu tive a minha primeira experiência como emigrante aos 17 anos, no Rio
de Janeiro", diz Manuel Eduardo Vieira, que não imaginava na altura que
teria a sua segunda exactamente uma década depois.
"Quando fui para a Califórnia, nas primeiras férias da minha vida,
constatei que os E.U.A eram a terra das oportunidades", realça.
Em 1920, o tio de Manuel Eduardo, António Vieira Tomás, tinha emigrado para a
Califórnia, onde trabalhou como agricultor antes de criar a sua própria
empresa, na pequena cidade de Livingston.
Pouco depois da chegada à Califórnia de Manuel Eduardo, tio e sobrinho
tornaram-se bons amigos.
Apesar da apreensão inicial do seu sobrinho, António Manuel persuadiu Manuel
Eduardo a comprar a sua empresa.
Manuel Eduardo lembra-se de ter dito que não sabia nada de negócios, mas o tio
António não aceitou isso como uma desculpa.
"Oh, tens educação e vais aprender, foi o que meu tio me disse",
salienta Manuel Eduardo.
Foi assim que decidiu radicar-se nos EUA.
Passados dez anos tinha construído novas instalações para poder expandir a
empresa. Em 1988, arrancou com a agricultura orgânica e catapultou a AV Thomas
Produce para o primeiro lugar da produção mundial de batata-doce.
"Somos o maior produtor e distribuidor de batata-doce no mundo", diz
Manuel Eduardo, cuja empresa produz actualmente cerca de 50 milhões de quilos
de batata-doce por ano, distribuindo-os por 450 milhões de pessoas nos Estados
Unidos, Canadá, México e Europa.
O sucesso, como refere, é tomar riscos calculados e acompanhá-los com
diligência, trabalho duro e dedicação.
"O sucesso só acontece com disciplina", destaca Manuel Eduardo.
Determinação e vontade
A família Vieira fez as malas e deixou uma vida confortável no Brasil para
começar de novo nos E.U.A.
Até então, os filhos de Manuel Eduardo tinham 4 anos, 2 anos e 10 meses de
idade.
Emigrar uma segunda vez trouxe novos desafios para o empresário que teve de
enfrentar uma cultura e uma língua diferentes.
"Os emigrantes são geralmente ambiciosos", diz Manuel Eduardo
"mas eles trabalham também muito duro".
Manuel Eduardo dirigia a sua empresa durante o dia e dedicava as suas noites a
estudar para adaptar-se à vida americana.
"Eu fui para a escola à noite durante quatro anos e meio para aprender a
ler, escrever e falar inglês", afirma.
Manuel Eduardo fala de objectivos claramente definidos e de esforçar-se para
atingi-los, em vez de lamentar os obstáculos e dificuldades que se depararam no
seu caminho.
"Quando queremos alguma coisa, temos de seguir em frente e fazê-lo",
refere o empresário, que considera os primeiros anos da sua vida nos Açores
importantes para atingir o sucesso.
"Meus pais deram-me um senso de responsabilidade", diz Manuel Eduardo.
"Os americanos chamam o povo açoriano "aventureiro", talvez
porque tínhamos uma vida difícil durante os nossos primeiros anos, mas este
modo de vida ajudou-me".
Fiel às suas raízes
Quando tinha 34 anos, Manuel Eduardo Vieira voltou ao Pico e viu que sua aldeia
permanecia na mesma.
"Vi que a Silveira não tinha mudado", refere, "e não tínhamos um
lugar para reunirmo-nos e conviver".
Com esta ideia em mente, e mais a sua determinação, Manuel Eduardo iniciou em
1998 um projecto que se tornou no Salão da Silveira, um centro social e
cultural multiuso.
Apesar de ele próprio ter sido a força motriz por trás da iniciativa e um dos
seus principais investidores, Manuel Eduardo ainda recusa-se a receber os
louros do Salão.
"Foi um esforço colectivo", diz, "e foi a comunidade que ajudou
a concretizar este projecto".
Demorou cinco anos para tornar a idéia numa realidade e no dia 17 de Agosto de
2003, o Salão da Silveira foi inaugurado.
Graças ao salão, a pequena vila tornou-se mais do que um simples ponto no mapa
da ilha.
"O Dia Mundial do Teatro é comemorado todos os anos no Pico, o governo
opta por utilizar o Salão da Silveira, porque está devidamente equipado, não só
para as reuniões, mas também para música e teatro".
Inspirado pela boa recepção que o salão teve, o músico afinado e amante do
teatro começou a sonhar com um novo projecto em parceria com um amigo de
infância.
O shopping no meio do nada
"Quando era jovem no Pico, tinha um bom amigo chamado Ricardo
Vieira", explica Manuel Eduardo.
Apesar de ter o mesmo último nome, não era da sua família.
Enquanto Manuel Eduardo emigrou para o Brasil e depois para a Califórnia,
Ricardo foi para Lisboa e tornou-se num médico veterinário.
Os dois amigos de infância mantiveram o contacto e trocaram muitas vezes idéias
sobre o que poderiam fazer para ajudar a comunidade.
Há 9 anos, decidiram pôr mãos-à-obra, face à falta de estabelecimentos
comerciais na zona da Silveira, mas adaptando soluções urbanas para esta
área rural e remota sem destruir a paisagem.
A sua ideia foi bem recebida e os dois amigos conseguiram obter os apoios que
precisavam.
Mais uma vez, Manuel Eduardo não perdeu tempo com as dificuldades que o
projecto encontrou.
Os dois amigos, já parceiros de negócio, investiram 2 milhões de euros no shopping que abriu finalmente no início de Maio.
"Olhamos para o futuro", diz Eduardo Manuel do Lajeshopping, que
reúne supermercado, restaurante, limpeza a seco e salão de beleza sob o mesmo
tecto.
Embora o centro comercial pudesse parecer completamente normal para quem vive
numa cidade, não é pouca coisa para uma ilha de apenas 15 mil habitantes.
O empresário astuto do Pico, que andava descalço até aos 11 anos e emigrou duas
vezes, sempre teve objectivos claramente definidos e nunca esqueceu as suas
raízes.
Os seus êxitos comerciais foram reconhecidos nos dois lados do Atlântico - em
2009 recebeu o prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa
atribuído pela COTEC.
Além de ambição e trabalho duro, não há nenhum segredo para o seu sucesso.
"As coisas boas não aparecem facilmente, é preciso trabalhar duro para
consegui-las. Se temos uma meta a atingir, não podemos desistir, porque com
trabalho, organização e muita disciplina, tudo é possivel", diz Manuel
Eduardo Vieira.
Esta é uma filosofia de vida que parece ter-lhe servido bem ao longo dos anos.
"Quem não vive para servir, não serve para viver", realça este
empresário de sucesso.
Kitty Bale, News from the Azores, RTP- A multimédia
RTP Açores, aqui.