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Duplo emigrante mas sempre açoriano: a história de Manuel Eduardo Vieira
2010-05-17
Em 1988, Manuel Eduardo Vieira decidiu arrancar com a agricultura biológica antes ser mesmo uma tendência dos nossos dias. Foi esta decisão pioneira que tornou a sua empresa no maior produtor e distribuidor de batata-doce biológica do mundo. Apelidado de o "Rei da Batata Doce", o homem que agora fornece todas as grandes cadeias de supermercados nos E.U.A., Canadá e México, diz que o sucesso nunca é acidental. Em conversa com a jornalista Kitty Bale, do blogue News from the Azores, Manuel Vieira Eduardo explica que deixou os Açores em 1962; emigrou duas vezes e voltou ao Pico para abrir um centro comercial no meio do nada.

Manuel Eduardo Vieira sempre viu possibilidades e potencial onde outros só viam obstáculos. Nasceu na pequena aldeia da Silveira, perto dos Lajes do Pico, e deixou a ilha ainda adolescente para o Brasil.

"Trabalhei com meu pai, um agricultor", diz, mas foram os seus pais que o encorajaram a emigrar para que pudesse ter uma melhor educação.

"Os meus pais não tinham possibilidades de me mandarem para a universidade aqui e pensaram que eu ia ter mais oportunidades lá", afirma Manuel Eduardo.

Aos 17 anos, o menino fazendeiro trocou a vida insular do Pico pela metrópole movimentada do Rio de Janeiro, onde financiou o seu curso.

"Eu estudei e trabalhei ao mesmo tempo", adianta.

Para Manuel Eduardo, além de ser uma forma de obter uma educação e uma carreira, a emigração era também uma maneira de alcançar independência.

Aos 21 anos casou-se com uma outra emigrante de Portugal, Laurinda, que veio de Chaves, e tiveram três filhos - Ricardo, Márcia e Carlos.

Dez anos depois de ter chegado ao Brasil, Manuel Eduardo finalmente teve tempo para as suas primeiras férias e foi para a Califórnia visitar os seus familiares.

As ferias que mudaram uma vida

"Eu tive a minha primeira experiência como emigrante aos 17 anos, no Rio de Janeiro", diz Manuel Eduardo Vieira, que não imaginava na altura que teria a sua segunda exactamente uma década depois.

"Quando fui para a Califórnia, nas primeiras férias da minha vida, constatei que os E.U.A eram a terra das oportunidades", realça.

Em 1920, o tio de Manuel Eduardo, António Vieira Tomás, tinha emigrado para a Califórnia, onde trabalhou como agricultor antes de criar a sua própria empresa, na pequena cidade de Livingston.

Pouco depois da chegada à Califórnia de Manuel Eduardo, tio e sobrinho tornaram-se bons amigos.

Apesar da apreensão inicial do seu sobrinho, António Manuel persuadiu Manuel Eduardo a comprar a sua empresa.

Manuel Eduardo lembra-se de ter dito que não sabia nada de negócios, mas o tio António não aceitou isso como uma desculpa.

"Oh, tens educação e vais aprender, foi o que meu tio me disse", salienta Manuel Eduardo.

Foi assim que decidiu radicar-se nos EUA.

Passados dez anos tinha construído novas instalações para poder expandir a empresa. Em 1988, arrancou com a agricultura orgânica e catapultou a AV Thomas Produce para o primeiro lugar da produção mundial de batata-doce.

"Somos o maior produtor e distribuidor de batata-doce no mundo", diz Manuel Eduardo, cuja empresa produz actualmente cerca de 50 milhões de quilos de batata-doce por ano, distribuindo-os por 450 milhões de pessoas nos Estados Unidos, Canadá, México e Europa.

O sucesso, como refere, é tomar riscos calculados e acompanhá-los com diligência, trabalho duro e dedicação.

"O sucesso só acontece com disciplina", destaca Manuel Eduardo.

Determinação e vontade

A família Vieira fez as malas e deixou uma vida confortável no Brasil para começar de novo nos E.U.A.

Até então, os filhos de Manuel Eduardo tinham 4 anos, 2 anos e 10 meses de idade.

Emigrar uma segunda vez trouxe novos desafios para o empresário que teve de enfrentar uma cultura e uma língua diferentes.

"Os emigrantes são geralmente ambiciosos", diz Manuel Eduardo "mas eles trabalham também muito duro".

Manuel Eduardo dirigia a sua empresa durante o dia e dedicava as suas noites a estudar para adaptar-se à vida americana.

"Eu fui para a escola à noite durante quatro anos e meio para aprender a ler, escrever e falar inglês", afirma.

Manuel Eduardo fala de objectivos claramente definidos e de esforçar-se para atingi-los, em vez de lamentar os obstáculos e dificuldades que se depararam no seu caminho.

"Quando queremos alguma coisa, temos de seguir em frente e fazê-lo", refere o empresário, que considera os primeiros anos da sua vida nos Açores importantes para atingir o sucesso.

"Meus pais deram-me um senso de responsabilidade", diz Manuel Eduardo.

"Os americanos chamam o povo açoriano "aventureiro", talvez porque tínhamos uma vida difícil durante os nossos primeiros anos, mas este modo de vida ajudou-me".

Fiel às suas raízes

Quando tinha 34 anos, Manuel Eduardo Vieira voltou ao Pico e viu que sua aldeia permanecia na mesma.

"Vi que a Silveira não tinha mudado", refere, "e não tínhamos um lugar para reunirmo-nos e conviver".

Com esta ideia em mente, e mais a sua determinação, Manuel Eduardo iniciou em 1998 um projecto que se tornou no Salão da Silveira, um centro social e cultural multiuso.

Apesar de ele próprio ter sido a força motriz por trás da iniciativa e um dos seus principais investidores, Manuel Eduardo ainda recusa-se a receber os louros do Salão.

"Foi um esforço colectivo", diz, "e foi a comunidade que ajudou a concretizar este projecto".

Demorou cinco anos para tornar a idéia numa realidade e no dia 17 de Agosto de 2003, o Salão da Silveira foi inaugurado.

Graças ao salão, a pequena vila tornou-se mais do que um simples ponto no mapa da ilha.

"O Dia Mundial do Teatro é comemorado todos os anos no Pico, o governo opta por utilizar o Salão da Silveira, porque está devidamente equipado, não só para as reuniões, mas também para música e teatro".

Inspirado pela boa recepção que o salão teve, o músico afinado e amante do teatro começou a sonhar com um novo projecto em parceria com um amigo de infância.

O shopping no meio do nada

"Quando era jovem no Pico, tinha um bom amigo chamado Ricardo Vieira", explica Manuel Eduardo.

Apesar de ter o mesmo último nome, não era da sua família.

Enquanto Manuel Eduardo emigrou para o Brasil e depois para a Califórnia, Ricardo foi para Lisboa e tornou-se num médico veterinário.

Os dois amigos de infância mantiveram o contacto e trocaram muitas vezes idéias sobre o que poderiam fazer para ajudar a comunidade.

Há 9 anos, decidiram pôr mãos-à-obra, face à falta de estabelecimentos comerciais na zona da Silveira, mas adaptando  soluções urbanas para esta área rural e remota sem destruir a paisagem.

A sua ideia foi bem recebida e os dois amigos conseguiram obter os apoios que precisavam.

Mais uma vez, Manuel Eduardo não perdeu tempo com as dificuldades que o projecto encontrou.

Os dois amigos, já parceiros de negócio, investiram 2 milhões de euros no shopping que abriu finalmente no início de Maio.

"Olhamos para o futuro", diz Eduardo Manuel do Lajeshopping, que reúne supermercado, restaurante, limpeza a seco e salão de beleza sob o mesmo tecto.

Embora o centro comercial pudesse parecer completamente normal para quem vive numa cidade, não é pouca coisa para uma ilha de apenas 15 mil habitantes.

O empresário astuto do Pico, que andava descalço até aos 11 anos e emigrou duas vezes, sempre teve objectivos claramente definidos e nunca esqueceu as suas raízes.

Os seus êxitos comerciais foram reconhecidos nos dois lados do Atlântico - em 2009 recebeu o prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa atribuído pela COTEC.

Além de ambição e trabalho duro, não há nenhum segredo para o seu sucesso.

"As coisas boas não aparecem facilmente, é preciso trabalhar duro para consegui-las. Se temos uma meta a atingir, não podemos desistir, porque com trabalho, organização e muita disciplina, tudo é possivel", diz Manuel Eduardo Vieira.

Esta é uma filosofia de vida que parece ter-lhe servido bem ao longo dos anos.

"Quem não vive para servir, não serve para viver", realça este empresário de sucesso.


Kitty Bale, News from the Azores, RTP- A multimédia

RTP Açores, aqui.

 

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