Debbie Pacheco
começou a interessar-se pelo destino dos deportados quando trabalhou com uma
organização sem fins lucrativos na comunidade portuguesa, no Canadá. Agora é
uma jornalista "freelancer". Debbie está a acabar um mestrado em comunicação
social na Ryerson University em Toronto e a desenvolver um documentário de
rádio sobre a integração dos deportados nos Açores.
Colaboração no Congresso Nacional Luso-canadiano
Debbie Pacheco nasceu no Canadá onde os seus pais - naturais de Fenais de Ajuda
em São Miguel - emigraram no final dos anos sessenta. Cresceu em Little
Portugal no meio da comunidade açoriana de Toronto. Antes de se tornar
jornalista, a jovem de 32 anos colaborou alguns anos com o Congresso Nacional
Luso-Canadiano (CNLC) em várias acções relacionadas com a saúde e a juventude.
Foi no período em que trabalhou com o CNLC que a Canadá Border Services Agency
começou a deportar os imigrantes sem documentos. O congresso fez pressão sobre
o governo canadiano para mudar as suas políticas e, simultaneamente,
manifestações de sensibilização foram organizadas na comunidade luso-canadiana.
Quem não tinha regularizado o seu estatuto de residente foi alvo de deportação,
independentemente da sua nacionalidade. "A maioria das pessoas não estavam
completamente ilegais", explica Debbie Pacheco . "Algumas tinham
direito a cidadania canadiana, mas não a pediram porque não sabiam".
Sem família no arquipélago
Muitos dos que foram deportados tinham saído dos Açores quando eram muito novos
e sem terem criado ligações culturais ou linguísticas com a região e, em alguns
casos, perdendo o rasto aos familiares. Quando chegaram aos Açores,
"eles não tinham nenhum sistema de apoio", diz Debbie Pacheco.
"Alguns estiveram no Canadá só um ano, outros 15 anos ou mais, e deixaram
um vazio em Toronto. Ficaram para trás familiares e empregos. Alguns eram
também voluntários na comunidade".
O estigma dos "repatriados"
O retrato dos deportados como criminosos é um estigma que permanece tanto no
Canadá como nos Açores, mesmo que, em muitas situações, seja uma visão errada.
"Há pessoas que apenas ficaram além do prazo do seu visto de trabalho ou
de visitante", salienta Debbie Pacheco, "e há outras que foram
deportadas por terem cometido um crime".
Muitos dos emigrantes sem documentos levavam uma vida normal no Canadá - eles
tinham emprego e até compraram a sua própria casa. Embora a maior parte deles
não tivessem formação profissional, outros - principalmente na construção civil
- eram qualificados. "Muitos trabalhadores na construção civil eram homens
portugueses", explica Debbie Pacheco. A sua deportação gerou uma falta de
mão-de-obra tão grande que até o sector da construção civil tentou pressionar o
governo canadiano.
Deportação continua
Quatros anos depois e longe das primeiras páginas dos jornais, emigrantes sem
documentos estão ainda a ser deportados. É por isso que Debbie Pacheco está em São Miguel. A
jornalista procura dar voz a estes "emigrantes chumbados" e relatar
como é que eles conseguiram seguir em frente quando voltaram nos Açores.
"Pretendo perceber como era a vida deles no Canadá e como é agora aqui nos
Açores, ouvir as suas experiências, ouvir aqueles que conseguiram seguir em
frente e aqueles que não conseguiram".
A opinião da população sobre os deportados também faz parte da pesquisa da
jornalista.
Mais do que um projecto de mestrado, o documentário de Debbie Pacheco pretende
sensibilizar os canadianos para a situação dos deportados. "Quero apenas
colocar o assunto lá fora outra vez", diz ela, "e descobrir o que
aconteceu quando os deportados voltaram, porque a estória deles não acaba
quando saiem do país".
Kitty Bale, News from the Azores, RTP-A Multimédia.
(a segunda parte desta reportagem será publicada no dia 2 de Maio aqui no site
acores.rtp.pt)
RTP Açores, aqui.