Início / Recursos / Recortes de imprensa / 2010
Ascensão Loreto vive há meio século no Panamá e diz que "valeu a pena”
2010-04-13

Madeirense é vista pela comunidade portuguesa como um exemplo de luta e dedicação aos filhos Com 70 anos de idade, e quase meio século de uma vida difícil no Panamá, Ascensão Loreto é vista pela pequena comunidade portuguesa como um exemplo de luta e dedicação aos filhos.

"Asunción", como é conhecida no Panamá, é natural do Paul do Mar, Madeira, e tem três filhos, uma rapariga e dois rapazes, que diz serem o seu "orgulho".

Esta portuguesa, que ficou viúva duas vezes, sempre tentou gerir os poucos rendimentos para dar tudo o que podia aos filhos, mas diz que "valeu a pena".

Em declarações à Agência Lusa, explica que estava casada há oito anos e já tinha uma filha quando ficou viúva, optando então por emigrar, primeiro para o Peru e depois para o Panamá.

"Fui para o Peru para me casar com um americano, porque eu tinha uma família no Peru. Uma prima mostrou-lhe o meu retrato e ele gostou de mim e mandou-me buscar, mas quando eu o vi disse-lhe que preferia regressar à minha terra do que casar com um homem por quem não sentia nada", diz. No entanto, segundo contou, a visita ao Peru fazia parte do seu destino. "Um mês depois, chegou um barco e conheci um rapaz que era da Madeira, da Madalena do Mar".

"Foi amor à primeira vista. Depois ele regressou ao Panamá, onde trabalhava, e mandou buscar-me. Vim com a minha filha para aqui, para o Panamá, e aqui estou desde há já 49 anos", conta.

Dividida entre a nostalgia e a esperança afirma que ama a Madeira, mas não tem boas recordações.

"Em Portugal passei muita fome, trabalhávamos muito, a minha mãe teve nove filhos e era muito duro (...) Um pãozinho que chamávamos nesse tempo bolo negro, dava um pedacinho a cada um (de nós) e isso era o que comíamos (ao jantar)", lembra.

A portuguesa recorda que "ia pelos campos vender o peixe" que o pai pescava e "apanhar lenha para sobreviver".

"Aqui, só pedia a Deus que os meus filhos não passassem o que eu passei", desabafa.

Sobre o seu segundo e também falecido marido, explicou que "trabalhava num barco de atum de americanos, mas que a vida não era fácil, mas tinham o suficiente "para comer e dar boas escolas" aos filhos. "O meu marido estava sempre de viagem, ia para o mar e às vezes passava de cinco a seis meses sem vir a casa, e eu tinha que ser mãe e pai", diz.

"Nunca fui a uma discoteca, ao cinema, nem para bailes ou festas", diz, ilustrando a dedicação quase total aos filhos. Orgulha-se ainda de não dever "nada a ninguém".

"Eu gostei sempre do Panamá pelo clima, porque não gosto do frio (...) valeu a pena (emigrar), lutei bastante e dou graças a Deus pelo que tenho", frisa a portuguesa.

Hoje, sem direito a qualquer pensão portuguesa ou panamenha, porque sempre foi doméstica, vive com os filhos, uma espécie de recompensa pela dedicação de uma vida.

Longe da sua terra e numa comunidade que ronda apenas as 250 pessoas de origem portuguesa, mata saudades ouvindo música portuguesa.

"Até choro quando oiço as canções de quando era criança".

Lusa

Diário de Notícias da Madeira, aqui.

Observatório da Emigração Centro de Investigação e Estudos de Sociologia
Instituto Universitário de Lisboa

Av. das Forças Armadas,
1649-026 Lisboa, Portugal

T. (+351) 210 464 322

F. (+351) 217 940 074

observatorioemigracao@iscte-iul.pt

Parceiros Apoios
ceg Logo IS logo_SOCIUS Logo_MNE Logo_Comunidades