Madeirense é vista pela
comunidade portuguesa como um exemplo de luta e dedicação aos filhos
Com 70 anos de idade, e quase meio século de uma vida difícil
no Panamá, Ascensão Loreto é vista pela pequena comunidade portuguesa
como um
exemplo de luta e dedicação aos filhos.
"Asunción", como é conhecida no
Panamá, é natural do Paul do Mar, Madeira, e tem três filhos, uma rapariga e
dois rapazes, que diz serem o seu "orgulho".
Esta portuguesa, que ficou viúva duas vezes,
sempre tentou gerir os poucos rendimentos para dar tudo o que podia aos filhos,
mas diz que "valeu a pena".
Em declarações à Agência Lusa, explica que
estava casada há oito anos e já tinha uma filha quando ficou viúva, optando
então por emigrar, primeiro para o Peru e depois para o Panamá.
"Fui para o Peru para me casar com um
americano, porque eu tinha uma família no Peru. Uma prima mostrou-lhe o meu
retrato e ele gostou de mim e mandou-me buscar, mas quando eu o vi disse-lhe
que preferia regressar à minha terra do que casar com um homem por quem não
sentia nada", diz. No entanto, segundo contou, a visita ao Peru fazia
parte do seu destino. "Um mês depois, chegou um barco e conheci um rapaz
que era da Madeira, da Madalena do Mar".
"Foi amor à primeira vista. Depois ele
regressou ao Panamá, onde trabalhava, e mandou buscar-me. Vim com a minha filha
para aqui, para o Panamá, e aqui estou desde há já 49 anos", conta.
Dividida entre a nostalgia e a esperança
afirma que ama a Madeira, mas não tem boas recordações.
"Em Portugal passei muita fome,
trabalhávamos muito, a minha mãe teve nove filhos e era muito duro (...) Um
pãozinho que chamávamos nesse tempo bolo negro, dava um pedacinho a cada um (de
nós) e isso era o que comíamos (ao jantar)", lembra.
A portuguesa recorda que "ia pelos campos
vender o peixe" que o pai pescava e "apanhar lenha para
sobreviver".
"Aqui, só pedia a Deus que os meus filhos
não passassem o que eu passei", desabafa.
Sobre o seu segundo e também falecido marido,
explicou que "trabalhava num barco de atum de americanos, mas que a vida
não era fácil, mas tinham o suficiente "para comer e dar boas
escolas" aos filhos. "O meu marido estava sempre de viagem, ia para o
mar e às vezes passava de cinco a seis meses sem vir a casa, e eu tinha que ser
mãe e pai", diz.
"Nunca fui a uma discoteca, ao cinema,
nem para bailes ou festas", diz, ilustrando a dedicação quase total aos
filhos. Orgulha-se ainda de não dever "nada a ninguém".
"Eu gostei sempre do Panamá pelo clima,
porque não gosto do frio (...) valeu a pena (emigrar), lutei bastante e dou
graças a Deus pelo que tenho", frisa a portuguesa.
Hoje, sem direito a qualquer pensão portuguesa
ou panamenha, porque sempre foi doméstica, vive com os filhos, uma espécie de
recompensa pela dedicação de uma vida.
Longe da sua terra e numa comunidade que ronda
apenas as 250 pessoas de origem portuguesa, mata saudades ouvindo música
portuguesa.
"Até choro quando oiço as canções de
quando era criança".
Lusa
Diário de Notícias da Madeira, aqui.