por Lusa
Uma decisão do Governo de Andorra de proibir a edição de um jornal exclusivamente em Português, onde a língua oficial é o catalão, está a causar polémica e divide as opiniões no Principado.
O objectivo era lançar esta semana, para coincidir com a visita ao principado do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva - a primeira edição do LusoJornal Andorra, uma versão local da publicação congénere já editada em França e na Bélgica.
Seria um jornal em português, com 16 páginas e publicação quinzenal que, segundo José Luis Carvalho, ex-conselheiro das Comunidades e director da empresa que pretendia lançar a publicação, tinha como público-alvo os cerca de 14 mil portugueses que vivem e trabalham em Andorra.
Na semana passada, porém, e dias depois dos convites para o lançamento terem sido enviados, José Luis Carvalho disse ter sido contactado pelo Diretor de Política Linguística do Governo Andorrano, que explicou que o jornal teria que ser, pelo menos, bilingue.
"Foi uma decisão que nos surpreendeu. Tivemos que cancelar tudo. O jornal era para ser em português e torná-lo bilingue representaria mais custos", afirmou, em declarações à Lusa em Andorra.
"Para o podermos lançar, teríamos que acatar a decisão da entidade que controla o uso adequado do catalão em Andorra. Esta é a primeira prioridade do gabinete de Política Linguística", explicou.
José Luis Carvalho ainda acredita no projecto, que agora está "parado", e espera poder chegar a algum acordo com as autoridades.
Na semana passada, em declarações à Lusa o diretor do jornal, Carlos Pereira, já tinha explicado à Lusa que Andorra tem "uma lei muito restrita no que diz respeito à comunicação social e exige que o órgão que se realize no país utilize unicamente a língua oficial".
Fazer o jornal totalmente bilingue "era multiplicar por dois o número de páginas do jornal e era tornar o projecto inviável do ponto de vista económico", explicou.
Mas em Andorra há quem tenha outra opinião.
Juli Barrero é director da revista mensal bilingue Voz Lusa, já com 60 edições e cinco anos de vida, e explicou à Lusa que publicar textos em catalão "é um elemento integrador", que garante que a revista "não se torna numa revista de gueto".
"Queremos ser uma voz da nossa comunidade, da nossa língua, mas com o elemento integrado que é a língua oficial, que os outros também falam", explicou.
Custos impedem que a publicação seja totalmente bilingue mas, ainda assim, sublinhou, é um complemento importante para a imprensa local - os cinco jornais (três deles gratuitos), as rádios e o único canal de televisão - totalmente em catalão.
"A imprensa local trata todos os assuntos e mesmo alguns da comunidade portuguesa", referiu.
Barrero espera que a nova publicação tenha sucesso e que consiga chegar a acordo com as autoridades.
"Será mais um espaço para notícias da nossa comunidade", afirmou.
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