São marcas que continuam a acompanhar os portugueses. Cá dentro, Portugal tem a segunda taxa mais elevada de abandono escolar precoce da União Europeia. Lá fora, os filhos dos emigrantes portugueses continuam a desistir. No Luxemburgo, um em cada quatro alunos que abandona a escola secundária é português, dá conta um estudo do Ministério da Educação luxemburguês, ontem divulgado pela agência Lusa.
Entre os estudantes estrangeiros que frequentam o ensino secundário naquele
país, os portugueses são os que apresentam a maior taxa de abandono escolar. No
último ano lectivo, estavam inscritos nas escolas públicas 7046 portugueses.
Desistiram 454, o que representou um aumento de cinco por cento em relação ao
ano anterior. Os alunos portugueses representam 19,1 por cento da população
estudantil do Luxemburgo. São o maior grupo entre os estrangeiros que estudam
naquele país.
A outra face da mesma moeda: dados recentes mostram que, nos EUA, Canadá,
Grã-Bretanha e Suíça, os filhos dos emigrantes portugueses estão também entre
os que obtêm resultados escolares mais baixos entre as comunidades estrangeiras.
Para Hermano Sanches Ruivo, responsável pela primeira associação de
luso-descendentes criada na Europa, a Cap Magellan, a reprodução desta situação
deve-se em grande parte ao facto de muitas famílias continuarem a não valorizar
o papel da educação. "Para muitos, educação é os filhos fazerem o que eles
fizeram", comenta ao PÚBLICO. "Não têm tempo para acompanhar os
filhos, não gastam dinheiros em aulas suplementares para compensar atrasos. Os
jovens, por seu lado, têm como preocupação começarem a trabalhar o mais
rapidamente possível."
Também o organismo que coordena os serviços escolares na Suíça (CDIP) apontou,
em 2007, o dedo às famílias. Os fracos resultados escolares das crianças
portuguesas devem-se "ao desinteresse total dos pais em acompanhar" a
educação dos filhos e à "origem sócio-cultural modesta" destes,
afirmava-se num documento que suscitou a indignação dos representantes
portugueses naquele país.
Sanches Ruivo, que foi o primeiro luso-descendente a ser eleito para a Câmara
de Paris, considera que a responsabilidade desta performance negativa recai
também sobre os sucessivos governos portugueses. Tem sido feito muito pouco
para promover a língua portuguesa, constata. Um resultado: em França, apenas 30
mil pessoas estão a aprender português, os estudantes de italiano são quase 300
mil, os de espanhol três milhões. Advertindo que a falta de visibilidade da
língua e da cultura significa também mais dificuldades na integração, defende
que é necessário desenvolver um trabalho de pressão, de lobbying, para levar a
que o ensino do Português seja integrado nos sistemas educativos dos países de
acolhimento. Por enquanto continua a cargo de associações de emigrantes.
Público, aqui.