Um casal português residente em França está a apelar à denúncia de burlas de que são vítimas novos emigrantes naquele país.
Eles alertam que os novo emigrantes "perdem milhares de euros e têm problemas legais" devido a uma rede de intermediários que está a ser investigada pelas autoridades.
Paulo Nunes e a esposa, com raízes no Barco, Covilhã, são voluntários numa delegação regional da associação humanitária francesa Secours Populaire, e já comunicaram os primeiros casos de burla aos consulados e autoridades.
A inscrição na segurança social ou o cartão de saúde, entre outros, "são documentos que podem ser obtidos gratuitamente, mas houve um intermediário que chegou a pedir 500 euros para requerer um deles", explicou Paulo Nunes, citando uma das queixas de um emigrante à polícia francesa a que a Agência Lusa teve acesso.
"Há crimes deste tipo que já renderam oito mil euros", descreveu Paulo Nunes, apontando o caso de um intermediário português que chegava a receber "um subsídio de desemprego não solicitado em contas bancárias que designava".
Era burlada a vítima, que até estava empregada, e o estado francês, que chegou a exigir a reposição das verbas irregulares.
Noutro caso, apesar de entregues as verbas pedidas, os documentos nunca chegaram a aparecer. Os emigrantes até assinam documentos em branco e entregam cópias dos seus documentos. "E assim surgem problemas legais que tenho ajudado a resolver", sublinhou.
Os relatos surgem em várias regiões francesas, refere, sem precisar cidades. "Há investigações em curso que não podem ser prejudicadas".
Os mediadores são geralmente apresentados a novos emigrantes por outros que a eles já recorreram para tratar de documentos "e nem sabem que foram burlados. Pagaram e pronto".
"Isto vai de um caso para outro e assim sucessivamente. Muitos nem sabem que estão a ser burlados e quando descobrem já é tarde demais", acrescentou.
Mesmo que alguém descubra a situação, por regra, "os casos não são denunciados e isso é um problema. As pessoas são ameaçadas ou retraem-se simplesmente por não saberem francês e até recearem as autoridades francesas".
No entanto, são as próprias autoridades que apelam à denúncia dos casos, assim como os consulados portugueses em França. "Como é natural, eles pedem que os casos sejam relatados para poderem agir", garantiu Paulo Nunes.
As vítimas de burla que conhece são trabalhadoras em fábricas ou na construção civil, alguns com situações de pobreza agravada pelo dinheiro que perdem e que recebem apoio alimentar da Secours Populaire.
Outro alerta é lançado a quem pretende emigrar. "É preciso que se
informem em pormenor dos documentos que são precisos e se têm algum custo.
Embaixadas, consulados ou instituições públicas em Portugal ou França"
encaminham essa informação.
Jornal de Notícias, aqui.