Lisboa, 16 dez (Lusa) - Portugueses e chineses coexistiram e negociaram
em Macau durante quase 500 anos, mas só nas últimas duas décadas o
intenso relacionamento entre os dois países se estendeu às respectivas
línguas, defende a historiadora Celina Veiga de Oliveira.
Coautora do livro "Macau - uma história cultural", que será lançado
nesta sexta-feira, em Lisboa, ela ressaltou à Agência Lusa que, se a
história dos últimos quatro séculos e meio da região é feita de
"dualismo", "nos últimos tempos dos portugueses em Macau houve uma
aproximação muito grande" entre as duas comunidades.
Os doze anos de preparação da transferência da Administração do
território para a China - concretizada em 20 de dezembro de 1999 -, e
os últimos dez anos assistiram a um maior interesse na aprendizagem das
respectivas línguas, por parte de portugueses e chineses, na região
administrativa especial.
Não só foi necessário promover a formação de quadros bilíngues para a
Administração, como a nova geração de emigrantes portugueses no
território está aprendendo "a falar e escrever chinês", destacou Celina
Veiga de Oliveira.
E embora atualmente se fale "pouco português" na região, a historiadora
diz estar "confiante em que a língua portuguesa possa continuar, porque
a China tem interesse nisso. Macau pode continuar, para o futuro, a ser
a ligação da China ao mundo lusófono".
"Macau - uma história cultural" conta a história dos encontros e
desencontros entre Portugal e China desde que os portugueses se
estabeleceram na região administrativa especial chinesa, em meados do
século 16, até o século 20.
"Os pregadores levam o Evangelho e os mercadores levam os pregadores" é
a frase do jesuíta António Vieira com que a historiadora caracteriza o
que tornou Macau um território "único", que junta o que "de melhor os
portugueses e os chineses têm".
Identidade regional
Das intensas trocas comerciais, com a seda chinesa no centro, à
diplomacia política, essencial para o delicado equilíbrio de poderes
que se construiu no território, passando pelo papel da religião cristã
e das ordens religiosas, especificamente dos jesuítas, o livro narra os
esforços dos dois países para, sem perderem o que consideravam seu de
direito, conseguirem alcançar a autonomia que acabou por se tornar a
identidade da região.
"Macau é o resultado de várias confluências. Não é totalmente
português, não é totalmente chinês, é de Macau", resume Celina Veiga de
Oliveira.
Na história cultural de Macau, destaca a especialista, "houve sempre um
dualismo, na administração, na justiça, no comércio, nas regras da
religião, mas houve sempre, também, uma aceitação da outra parte".
Por isso, é com "tristeza" que ela observa o "desconhecimento sobre Macau em Portugal".
"Ninguém sabe quem é Macau, o que foi, a importância que teve para a História de Portugal e da China", critica a historiadora.
Uma "prova da indiferença que o poder político em Portugal teve sempre
em relação a Macau" é a bandeira que o último governador da região
administrativa especial recebeu na cerimônia de transferência da
soberania do território estar guardada em uma gaveta de seu ex-auxiliar
de campo.
Agência Lusa, aqui.