A
inexistência de instruções claras pode estar na origem das arbitrariedades no
reconhecimento das habilitações de imigrantes portugueses que o CONTACTO
denunciou na semana passada.
Ao invés de Portugal, que tem desde 2006 uma portaria que estabelece as
equivalências entre os sistemas de ensino português e luxemburguês, o
Grão-Ducado não tem qualquer instrumento legal ou instrução do Ministério da
Educação sobre como atribuir equivalências, disse ao CONTACTO o responsável do
Serviço de Reconhecimento de Diplomas luxemburguês, Narciso Fumanti.
"Usamos uma base de dados alemã da KultusMinisterKonferenz, que dá
recomendações sobre como dar equivalências por país, para a qual o Luxemburgo
contribuiu há alguns anos", explicou ao CONTACTO Narciso Fumanti na
sequência do artigo que este jornal publicou na semana passada.
Sobre Portugal, a base de dados alemã indica que para obter o "bac",
o interessado deverá ter frequentado 12 anos de escolaridade no país de origem
e apresentar comprovativo que ateste que o 12o ano dá acesso à Universidade.
Mas em França, uma base de dados equivalente "não pede prova de que o
aluno pode ingressar na universidade", bastando a frequência de 12 anos
para obter o "bac", admite o funcionário luxemburguês.
Na dúvida, Narciso Fumanti assegurou ao CONTACTO que considera a certidão de
habilitações do secundário português "suficiente como prova de que o aluno
pode ingressar na universidade", condição exigida para dar
"equivalência ao 'bac', ou 'bac' técnico, ou diploma de técnico,
dependendo do ramo de estudos".
O problema é que as indicações da base de dados alemã são interpretadas de
maneira diferente por diferentes funcionários.
Na semana passada, contávamos o caso de Elisabete e Maria José, duas
portuguesas com o 12o ano português a quem o Ministério da Educação do
Luxemburgo recusou dar equivalência ao "bac". Em vez do diploma final
do ensino secundário luxemburguês, receberam um certificado que diz que as suas
qualificações correspondem a cinco anos do ciclo médio de ensino no Luxemburgo
- o equivalente ao 11o ano no Luxemburgo e ao 10o ano em Portugal. Para o
Luxemburgo, é como se não tivessem acabado o liceu. Instado a comentar o caso,
o responsável do Serviço de Reconhecimento de Diplomas diz que o despacho data
de 2001, altura em que outro funcionário exercia o cargo, e admite que o
sistema está aberto à arbitrariedade.
"A Administração Pública não é uma ciência exacta. Eu faço o melhor que
posso para não prejudicar as pessoas, e tenho uma interpretação ampla dos
critérios [para atribuir equivalência ao 'bac'], mas outro funcionário que
tenha critérios mais rígidos pode tomar uma decisão diferente", disse
Fumanti a este jornal.
O problema parece estar exactamente aí. "É a olho", ironiza José
Coimbra de Matos, presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no
Luxemburgo (CCPL), o primeiro a denunciar o caso.
No Serviço de Reconhecimento de Diplomas do Secundário, Narciso Fumanti é o
único funcionário desde 2005. Por ele passam anualmente cerca de 1.500 pedidos
de equivalência. "Muitos são de portugueses", disse ao CONTACTO. Para
o funcionário, "seria útil ter uma tabela de equivalências entre Portugal
e o Luxemburgo" como a que já existe para a Bélgica. Até lá, o responsável
do serviço diz que todos os que se sintam prejudicados com as equivalências
atribuídas podem reclamar.
Para discutir o problema da recusa de equivalências, o embaixador de Portugal
no Luxemburgo vai reunir-se com a ministra da Educação luxemburguesa, Mady
Delvaux-Stehres, dia 7 de Dezembro.
Portugal tem desde 2006 uma tabela de equivalências entre os sistemas de ensino
português e luxemburguês. Ao abrigo da portaria no 699/2006, publicada em
Diário da República de 12 de Julho desse ano, o 12o ano em Portugal corresponde
ao 13o no Grão-Ducado, ou "bac".
Paula Telo Alves
Foto: Guy
Jallay
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