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Confraria junta na França elite dos filhos da emigração lusa
2009-11-23

Por Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa

Paris, 20 nov (Lusa) - Quando Davy Gomes (foto) entrou no mundo financeiro, um colega francês avisou-o de que ia encontrar três tipos de gente: "Os 'De-Re-De-De', descendentes da família real, com nomes ligados por partículas; os filhos de economistas e políticos; e comunidades como os judeus e libaneses".

Na França, até há poucos anos, "não havia no mundo da alta finança o grupo dos luso-descendentes. Agora já há", conta, com orgulho, Davy Gomes, filho de um casal luso-espanhol.

O francês Davy Gomes é um dos filhos da emigração portuguesa que estudou nas melhores escolas da França e ascendeu ao círculo restrito dos quadros superiores do setor bancário, finanças e negócios.

Não é o único a ter esse percurso de sucesso entre o berço humilde e os cargos de direção nos grandes grupos financeiros.

"Somos cada vez mais porque a segunda geração saída da emigração já teve acesso a escolas de alto nível", explica o gestor, que transitou há pouco da ING para a Generali Imobiliária.

A Confraria dos Financeiros de Paris nasceu há dois anos, por iniciativa de um português, Jorge Queirós, e do atual dinamizador do grupo, João da Silva.

A confraria organiza jantares mensais, para entre 20 e 60 pessoas, mas não quer ser um grupo social ou apenas de "networking".

"Caminhamos para um grupo de reflexão", explica outro dos confrades, Roger Carvalho, que dirige o ramo de Petróleo, Gás e Minas no departamento de Fusões e Aquisições da Société Générale.

Roger diz-se "francês pelo pensamento crítico e pela formação universitária, mas geneticamente português".

"Não é um ponto de vista crítico na vertente negativa, mas de 'analise critique' (sic) das coisas, com uma perspectiva de melhorá-las. Em Portugal, gosta-se de comentar, mas o 'passage à l'action', ou o 'cortar pescoço', ou a revolução, não sei se está bem no modo" português, comenta.

"Aqui em França temos uma formatação de passar à ação, de querer refletir e tentar modificar", explica Roger Carvalho.

"Interessam-se muito por Portugal, falam português muito bem e passaram lá temporadas. Mas há diferenças. A certa altura, são franceses pela experiência", analisa a portuguesa Ana de Morais, que trabalha em Paris na área de "private banking" da Société Générale.

Os luso-confrades "têm, frequentemente, uma perspectiva muito crítica em relação a Portugal", diz Ana de Morais.

A crítica vai para "o Portugal de hoje, que não está ao nível do que eles gostariam. Lisboa não é Paris. E talvez, apenas talvez, (crítica) em relação ao Portugal que fez os pais emigrar", acrescenta.

A imagem do casal de emigrantes, ele operário, ela "concièrge", porteira, "está ainda muito presente no consciente francês", reconhece Roger Carvalho.

"Está bem, 'ok', mas isso já passou", afirma Roger, que frisa que "os franceses da 'campagne' não seriam muito diferentes se tivessem emigrado naquela época".

Como explica Davy Gomes, "passamos os primeiros anos da nossa vida a tentar ser assimilados, a tentar ser franceses, e não luso-descendentes".

"Hoje, que já não temos nada a provar a ninguém, já podemos mostrar essa dupla riqueza, essa dupla cultura que faz de nós o que somos hoje", diz o gestor da Generali.

"Podemos ser cem por cento franceses e ter orgulho num passado que é fora de França", resume Davy Gomes.

Olivier Serra, a quem o avô perguntava se tinha mais "sangue" português ou francês, fala também da família portuguesa como referência da sua carreira na finança internacional.

"Sou muito português e muito francês e isso mistura-se", diz o diretor de "Upstream" de Petróleo e Gás no BNP Paribas. "Isso dá-me mais força e uma certa perspectiva que o 'francês francês' não tem."    

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