A comunidade portuguesa do Estado norte-americano
de Nova Iorque está dividida em relação ao balanço que faz do desempenho do
Presidente Obama, um ano após a sua eleição que se assinala quarta-feira.
Tradicionalmente conhecida por votar no partido Republicano, a primeira geração
da comunidade portuguesa acusa o Presidente Obama de ter falhado na criação de
novos postos de trabalho ou na garantia dos existentes, sobretudo na construção
civil, área onde trabalha a maioria destes emigrantes.
Alguns culpam Obama por não ter apoiado este sector, como fez com os bancos e a
indústria automóvel, mas mesmo os que votaram no seu opositor reconhecem que o
maior responsável pela situação é a crise económica mundial.
'A América nunca mais vai ser o que era', disse à agência Lusa Manuel Martins,
que há mais de 20 anos trabalha numa das maiores empresas de construção civil
daquele Estado.
'Não há dinheiro e as companhias têm medo de admitir mais gente. Onde havia
cinquenta homens a trabalhar, hoje há vinte', acrescentou.
No sector da pequena construção civil - reparações de casas, jardins e serviços
domésticos - a situação é ainda pior e agravou-se nos últimos meses.
Benedito Sampaio, de Yonkers, cidade de forte concentração portuguesa, pintor
de casas há mais de 30 anos, disse que nunca viu nada assim.
'Estive mais de seis meses sem trabalhar', disse à Lusa o português, que, no
entanto, não culpa o Presidente pela situação.
'Os que lá estiveram antes é que deram cabo disto, mais a ganância dos bancos e
de Wall Street', afirmou.
António Neves, empresário de construção, disse que há quase um ano não constrói
nenhuma casa e que se limita a 'fazer reparações para poder comer'.
O português responsabiliza a administração Bush pela actual situação e duvida
que Barack Obama 'consiga inverter a situação, pois a direita é muito forte e
vai tentar evitar as política sociais que poderiam ajudar a sair desta crise'.
Muitos outros portugueses contactados pela Lusa disseram que ainda é cedo para
fazer balanços da actuação do presidente Obama, mas continuam a acreditar nas
suas capacidades para mudar a situação.
Para Fernando Rosa, engenheiro electrotécnico natural de Fermentelos, Águeda, a
viver nos Estados Unidos há mais de 35 anos, Obama conseguiu neste primeiro ano
'preencher todas as expectativas como pessoa', mas politicamente vê os próximos
anos muito complicados.
'Serão sem dúvida os três anos mais difíceis dos Estados Unidos', disse.
Fernando Rosa disse ainda que as grandes prioridades do presidente Obama vão
ser a saúde e a economia, áreas que num cenário de crise internacional, que,
por implicarem políticas de ruptura, poderão mesmo inviabilizar a sua
reeleição.
'É muito provável que Obama não seja reeleito por causa da situação económica e
de todos os problemas que terá de enfrentar para impor a sua política de
saúde', disse.
Já Simão Marques acusa Obama de estar a destruir a classe média, onde se
incluem os emigrantes portugueses.
'À boa maneira dos democratas, as políticas de Obama gastam milhões em
assistência social e só aumentam os impostos às empresas e aos trabalhadores, o
que terá como consequência o desaparecimento da classe média e o aumento dos
desempregados, pois as empresas não vão criar mais postos de trabalho', disse.
Correio do Minho, aqui.