Apesar do ano lectivo começar em Janeiro, alguns
professores chegam aos seus postos de trabalho em Março e Abril, o que
levou alguns pais de alunos de escolas onde os professores ainda não tinham
sido colocados, a optarem por outras disciplinas e actividades opcionais com
prejuízo para a língua portuguesa, refere o coordenador.
Em declarações à Agência Lusa, Armindo Cameira Boto, responsável por uma rede
com 41 professores, que leccionam na África do Sul, Namíbia e Suazilândia,
garante que "o interesse pela língua portuguesa continua a ser enorme nesta
região, mas que os atrasos nas nomeações feitas pelo Ministério da Educação
criam grandes problemas à rede e geram o desagrado de encarregados de
educação".
Contactado o Ministério da Educação, este informou, através da sua assessoria
de imprensa, que não há qualquer sinal de atraso na colocação de professores
neste ano lectivo e que tudo está a decorrer dentro da normalidade.
"Apesar dessa contrariedade (atrasos), o interesse pelo Português mantém-se
altíssimo, com alunos, instituições governamentais e privadas a telefonarem
constantemente para a Coordenação do Ensino, na embaixada de Portugal em
Pretória, inquirindo sobre cursos e professores na África do Sul", salienta
Armindo Boto.
Em meados deste ano, a tutela do ensino do português no estrangeiro passou do
Ministério da Educação para o dos Negócios Estrangeiros, mas o Instituo Camões
só assumirá a rede do ensino do português no estrangeiro no ano lectivo
2010/2011.
Em declarações à Lusa em Maio, o secretário de Estado das Comunidades, António
Braga, admitiu, no entanto, que em países como a África do Sul, onde o ano
lectivo começa em Janeiro, o Instituto Camões poderá acolher propostas mais
cedo para expansão da rede.
Na África do Sul, os mais de três mil alunos dos diferentes graus estão neste
momento em exames nas escolas públicas e privadas e os 35 professores
destacados leccionam em Joanesburgo (a cidade com maior concentração de alunos
e professores), Pretória, Cidade do Cabo, Durban, Pietermaritzburg,
Bloemfontein, Nelspruit e Klerksdorp.
Ensino de sucesso
Considerado um caso de sucesso no universo da emigração portuguesa, a rede do
ensino na África do Sul inclui igualmente uma importante componente de
formação. Situado no consulado-geral de Joanesburgo, o Centro de Recursos da
rede do ensino do Português fornece materiais e informação actualizada a mais
de três dezenas de professores locais, que leccionam em áreas onde residem
milhares de lusófonos e que não são cobertas pela rede oficial.
A formação de professores é uma das tarefas fundamentais da Coordenação da
rede, refere o seu responsável. Na África do Sul, segundo Armindo Boto, várias
instituições governamentais, como a polícia, os serviços de Imigração no
aeroporto de Joanesburgo e o parlamento, organizam cursos de Português
recorrendo aos serviços da rede do Estado Português. Na Namíbia, onde cinco
professores leccionam Português a cerca de 300 alunos, existe um centro de
formação com grande dinamismo e resultados apreciáveis, esclarece o
coordenador. Na sua maioria, os professores ali formados servem refugiados
angolanos do centro de Osire.
Investimento "rentável"
O embaixador de Portugal, João Ramos Pinto, confirma a importância do ensino da
língua portuguesa naquele país, considerando que o investimento feito pelo
Estado português é "rentável e bem empregue".
Em declarações à Lusa na capital sul-africana, Ramos Pinto destacou que o
português ocupa um lugar importantíssimo na África do Sul, país cuja
Constituição "protege" a língua portuguesa, por inúmeras razões, que vão da
enorme comunidade lusófona, à relação de proximidade com Moçambique e Angola e
aos interesses e negócios entre os países e povos da região.
"O Português é e sê-lo-á cada vez mais uma língua de negócios na região, é a
segunda língua mais falada no espaço da Comunidade para o Desenvolvimento da
África Austral (SADC), e, por isso, existe uma grande procura e interesse por
parte da África do Sul e professores e intérpretes da nossa língua", salientou
João Ramos Pinto.
O diplomata destacou que a rede do ensino da língua portuguesa no país, que
beneficia de forma directa mais de três mil alunos, é apenas uma vertente do
esforço das autoridades portuguesas no campo da língua. "Estamos a ensinar
português a funcionários alfandegários, no parlamento sul-africano, nos
serviços de polícia, a funcionários responsáveis pelo turismo, e temos pedidos
sistemáticos de embaixadas de outros países, de departamentos governamentais e
outras instituições, o que me faz crer que é um investimento que vale a pena e
se reproduz por si próprio", referiu o embaixador de Portugal.
Ramos Pinto é peremptório sobre o futuro do programa e da rede do ensino do
Português, defendendo que deve continuar a ser apoiado. "Sempre advogarei junto
das autoridades, embora ache que é uma advocacia um pouco inútil porque elas
estão perfeitamente conscientes da sua importância, que o ensino do Português
na África do Sul é para continuar a ser apoiado, apesar de ser um esforço
bastante grande", salientou.
Segundo cálculos da embaixada de Portugal na capital sul-africana, os custos do
programa em curso rondam os 900 mil euros anuais, mas para os seus responsáveis
a importância da rede que foi montada ultrapassa em muito os custos
financeiros.
O embaixador português destacou a existência de centros de língua portuguesa
nas universidades de Witwatersrand (Joanesburgo) e Cabo, onde leccionam
leitores destacados pelo Instituto Camões, o pedido da Universidade de
Pretória, no sentido de terem um leitor no futuro, e também a importância de
haver uma leitora de Português na Universidade de Gaborone, na Suazilândia, que
apoia também o Secretariado da SADC na formação em Língua Portuguesa.
Com o Mundial de futebol a realizar-se no próximo ano no país, a língua Portuguesa
adquire uma dimensão ainda mais notável, segundo os diplomatas. Para receber
equipas como o Brasil e Portugal (ainda não apurado), e os visitantes
aguardados, a FIFA recrutou vários quadros e voluntários que participarão na
logística do maior torneio de futebol, pela primeira vez disputado em solo
africano.
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