A grande maioria dos candidatos portugueses às eleições
municipais no Quebeque é originária dos Açores e candidatou-se por gosto pela
política ou como forma de contestação. Dos 11 luso-canadianos a votos, três
procuravam a reeleição para cargos autárquicos em Montreal - Luís Miranda,
presidente da Câmara de Anjou, e as vereadoras Ana Nunes (Outremont) e Isabel
dos Santos (Plateau Mont-Royal).
Segundo dados oficiais divulgados pela Agência Lusa, Luís Miranda alcançou
53,34 por cento dos votos e Ana Nunes obteve 32,73 por cento no seu círculo.
Por seu turno, Isabel dos Santos, vereadora nos últimos quatro anos no bairro
de Plateau Mont-Royal, em Montreal, não conseguiu ser eleita e quedou-se pela
terceira posição no seu distrito eleitoral.
Natural dos Açores, Luís Miranda é o mais antigo autarca português no Canadá,
sendo presidente de câmara desde 1997. Aquando do início da campanha eleitoral,
Luís Miranda manifestou forte empenho na sua recandidatura, por ter "ainda
muito que fazer em Anjou".
Na semana anterior às eleições, o candidato foi notícia nos
jornais de Montreal, que relatavam viagens aos Açores feitas por Luís Miranda
com um empresário da construção civil, fornecedor de serviços camarários. O
jornal denunciava a existência de ligações a financiamento partidário,
acusações rejeitadas pelo visado.
Um observador político português, residente no Quebeque, defendia à Lusa, nas
vésperas das eleições, que o aumento verificado de luso-canadianos a
concorrerem nestas eleições traduz "o despontar junto da comunidade portuguesa,
de uma maior consciência política, à medida que caminha para seis décadas de
presença no Canadá".
O "apelo da política"
"O apelo da política" ou mera contestação da gestão municipal foram as razões
dadas à Lusa pelos oito candidatos restantes, ao justificarem a sua candidatura
este ano. Mas nenhum conseguiu ser eleito, apesar de vários ficarem em segundo lugar.
No distrito eleitoral de Laval houve este ano, pela primeira
vez, seis candidatos portugueses, cinco inscritos nas listas do Partido ao
Serviço do Cidadão (PSC) e um independente. Quatro posicionaram-se em segundo
lugar nas circunscrições respectivas: Teresa Duarte, Noémia Onofre de Lima,
José Onofre e Manuel Botelho. Tanya Onofre e Anita de Lima foram terceiras nos
seus círculos.
O mais expressivo resultado luso em Laval pertenceu a Manuel Botelho, em St.
Martin, ao arrecadar 41,3 por cento (1640 votos), resultado que não foi
suficiente para contrariar a eleição do seu único adversário (com 58,6 por
cento, 2322 votos). Também os portugueses Luís da Costa, em Sainte-Thérèse, e
Luís Ruivo, em Saint-Léonard não conseguiram ser eleitos.
Ponto em comum a todos foi entrarem nestas eleições em contestação à gestão
municipal de Gilles Vaillancourt, na Câmara há 36 anos, os últimos 20 como
presidente. A longa manutenção do edil no poder conduziu à "falta de democracia
em Laval", comentou à Lusa a açoriana Teresa Duarte, mãe a tempo inteiro e este
ano candidata em Marigot.
Por seu lado, Noémia Onofre de Lima, que concorreu em Chomedey, condenou o
preanunciado plano de expansão do Metro em Laval e a falta de aposta no reforço
dos transportes públicos rodoviários nas ligações a Montreal.
Da família de Noémia, oriunda dos Açores, também o irmão José Onofre e a filha
Tanya foram candidatos nos círculos de Renaud e St. Bruno. "Já é tempo de
termos mais portugueses. Os portugueses aqui até se interessam pela política e
têm consciência política. Mas têm ainda pouca auto-confiança para se
candidatarem", afirmou Noémia Lima.
Também a luso-canadiana Anita de Lima concorreu pelo PSC em Sainte-Dorothée,
distrito de Laval. Manuel Botelho, conhecido empresário açoriano em Laval,
ex-dirigente de organizações na comunidade portuguesa e concorrente a
municipais de 1984 e 1997, decidiu este ano candidatar-se como independente.
Outros dois empresários, Luís da Costa e Luís Ruivo, candidataram-se em Sainte-Thérèse e
Saint-Léonard, respectivamente, apostando em "mudanças" na
actual política.
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