O sociólogo Eduardo Vítor Rodrigues considerou que "a grande novidade do processo emigratório português é que, apesar da crise imobiliária em Espanha estar no auge, não vai haver um retorno maciço dos emigrantes que foram para lá".
"Era de esperar que a conjuntura recessiva da construção civil em Espanha fizesse os emigrantes portugueses regressarem, mas isso não vai acontecer", explicou o sociólogo Eduardo Vítor Rodrigues.
Para o docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que no sábado abordou esse tema no congresso "Cidadãs da Diáspora", no Centro Multimeios de Espinho, o facto terá um "impacto económico brutal", considerando que em causa estará "um universo na ordem das 500 a 600 mil pessoas".
Segundo o sociólogo esse número é "pouco menor do que aquele que esteve envolvido no processo emigratório português em todo o período da descolonização".
Ao panorama geral da emigração portuguesa, Eduardo Vítor Rodrigues atribui um comportamento semelhante.
"Já não faz muito sentido aquela ideia de que a emigração havia de culminar com um retorno maciço dos portugueses, que só cá vinham passar férias mas, quando regressassem à reforma, regressariam à vez", indicou.
O sociólogo justificou essa opinião "com dados e inferências estatísticas", mas reconheceu que "nunca houve em Portugal grande motivação para o estudo aprofundado destas questões".
"Hoje fala-se muito das questões da igualdade mas percebe-se que não se sabe o suficiente sobre o processo emigratório português", sublinhou.
Sobre a situação feminina em específico, Eduardo Vítor Rodrigues adiante. "O boom de saída dos portugueses vai intensificar-se, sobretudo nas mulheres".
Mas essas "já não correspondem ao paradigma da mulher da aldeã que sai para acompanhar o marido; agora são bastante escolarizadas e procuram melhores condições de vida".
"O problema é que, se não há retorno da mulher, os laços dos emigrantes portugueses com a sua terra natal ficam fragilizados", como o sociólogo já diz notar nas gerações mais novas de luso-descendentes.
"Não reconhecem o país, nem fazem uso da língua, portanto, não vai haver diáspora - vai haver é aculturação", considerou.
"A culpa é dos "actores políticos, portugueses que, ao contrário do que acontece na Grécia, por exemplo, nunca encararam os emigrantes como a grande mais-valia para o desenvolvimento que são".
"É absolutamente indecente que um país como Portugal - que no século XX teve um processo emigratório tão relevante como o do período pós-guerra colonial - tenha abandonado os seus emigrantes de forma inadmissível, olhando para eles de forma utilitarista, apenas na perspectiva das divisas", concluiu Eduardo Vítor Rodrigues.
O sociólogo desenvolve esta perspectiva no congresso "Cidadãs da diáspora", que marca o encerramento dos "Encontros para a Cidadania", promovidos pela Associação Mulher Migrante entre 2005 e 2008, sob o lema "Igualdade entre Homens e Mulheres nas Comunidades Portuguesas".