As raízes de mais de metade dos luxemburgueses estão em antepassados que foram imigrantes no país: mais concretamente, 66% dos residentes no Luxemburgo têm origem na imigração, seja de primeira, segunda ou terceira gerações. Dito de outra forma, apenas 34%, ou seja, sensivelmente um terço dos residentes no Luxemburgo, conjuga o nascimento no país com o facto de todos os antepassados mais imediatos (os dois progenitores e os quatro avós) terem também nascido no Grão-Ducado. E apesar de constituir a vaga de imigração mais recente, as origens portuguesas são de longe as mais frequentes - tocam 15% do total de adultos - e nada mais nada menos, do que 24% do total dos jovens adultos (entre os 16 e os 35 anos de idade), ou seja, praticamente um quarto do total da população nesta faixa etária.
Os dados são do CEPS/Instead (Centro de Estudos das Populações, da Pobreza e das Políticas Socioeconómicas), que se baseia em dados recolhidos em 2007 em 3.500 lares estatisticamente representativos da população luxemburguesa.
Tornou-se um cliché ao longo dos tempos descrever a sociedade luxemburguesa como "multicultural" (e também altamente estratificada em função das origens culturais e geográficas). O Grão-Ducado conheceu aquilo que é habitualmente dividido em três vagas de imigração ao longo dos tempos: a primeira, na segunda metade do século XIX, constituída por alemães chamados a trabalhar nas indústrias nascentes; a segunda, dede o início do século XX até aos anos 1960, de trabalhadores italianos para as indústrias siderúrgica e mineira; a terceira vaga, iniciada em finais da década de 60, que continua em curso e é constituída maioritariamente por imigrantes portugueses, os homens geralmente no sector da construção e as mulheres no dos serviços. Simultaneamente com estas grandes tendências, há a notar a vinda constante de trabalhadores qualificados dos países limítrofes, França, Bélgica e Alemanha, particularmente importante a partir de 1990, e mais recentemente de pessoas vindas da Europa Central e Oriental.
De todos estes fenómenos resulta que uma maioria dos residentes teve um antecessor próximo ou nasceu ele próprio noutro país - na verdade, 40% dos adultos residentes não nasceram no Grão-Ducado, e nestes se incluem a maior parte dos portugueses, que constituem uma presença fortíssima na primeira geração, juntamente com os originários da Ásia, Médio-Oriente, África e América Latina - 86% de todos estes não nasceram no Luxemburgo. Ao que tudo indica, a composição do "mosaico" luxemburguês vai continuar em mutação no futuro: as pessoas com origens alemãs tendem a ostentar uma idade mais avançada, as pessoas com origem em França, Itália ou Bélgica são hoje tendencialmente imigrantes de segunda geração e os jovens adultos tendem muito mais a ter origens portuguesas que os velhos adultos (24% contra 6%), fenómeno também verificável nas origens francesas (14% em vez de 12%), africanas (7% contra 1%) ou da Europa de Leste (8% em vez de 5%).
Estas correntes migratórias para o país não são importantes apenas pela riqueza cultural que significam; é também aquilo que permite travar o envelhecimento demográfico do país e travar o declínio da população. Na verdade, a fecundidade média das mulheres residentes (e mesmo incluindo este valor já as originárias de outros países) é de apenas 1,6 filhos/mulher, abaixo do valor de 2,1 considerado como mínimo para a renovação demográfica.
Hugo Guedes
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