A língua
materna é também factor de união entre todos os açorianos espalhados pelas
diversas comunidades emigrantes. O Português não só é falado pelos emigrantes
como transmitido e ensinado às segunda e terceira gerações.
"Inicialmente, os imigrantes recém-chegados à Califórnia concentravam os
seus esforços em obter segurança económica através de trabalho árduo e de
poupanças cautelosas, bem como investimentos", explica Tony P. Goulart,
académico da Portuguese Heritage Publications of California (São José), no
artigo "Impacto Sócio-recreativo-cultural da Emigração pós-Capelinhos na
Califórnia" (disponível no site www.comunidadesacorianas.org). Para
muitos, prossegue, "pensar em educação, era de importância secundária.
Contudo, o valor da educação foi logo reconhecido como chave para o sucesso a
longo prazo. Daí que muitas das novas e já existentes organizações tenham
estabelecido programas, bolsas de estudo e assistência para encorajarem os
jovens a prosseguirem os seus estudos".
A Fundação Luso-Americana para a Educação é disso exemplo. Fundada em 1963, é
uma organização de carácter educacional, sem fins lucrativos, estabelecida com
a finalidade de criar, patrocinar e perpetuar a língua e cultura portuguesas
nos EUA. "Um dos objectivos principais é conceder bolsas de estudo e
subsídios a estudantes universitários. Essas bolsas podem ser cedidas a
qualquer estudante de ascendência portuguesa ou àqueles que estudem Português,
independentemente das suas nacionalidades", refere Tony Goulart no seu
estudo. Nos últimos tempos foram concedidos, por ano, entre 60 a 70 mil dólares em bolsas
de estudo inclusive a estudantes que frequentam cursos de Verão em língua e
cultura portuguesas nas Universidades de Coimbra, Lisboa e Açores.
A Portuguese Education Foundation of Central California, fundada em 1990,
também tem contribuído para o ensino do Português, nomeadamente na Universidade
Estatual de Stanislaus, através do Instituto Português. "Promover o ensino
da língua e cultura portuguesas a nível elementar, secundário e universitário
no vale de S. Joaquim; encorajar os estudantes a compreender e a comunicar os
valores da nossa língua e cultura na Califórnia e documentar a história da
imigração portuguesa neste Estado" são os principais objectivos do
Instituto.
Em 1992, a
fundação teve o seu primeiro sucesso quando a Universidade de Stanislaus
iniciou o programa de Português com um professor em regime de part-time.
"Desde a sua concepção, a fundação empenhou-se em encorajar a juventude a
matricular-se em institutos de ensino superior. Uma forma de atingir essa meta
foi com a oferta de bolsas. No primeiro ano, as mesmas não atingiram os 2.000
dólares. Presentemente, ascenderam a mais de 12 mil dólares por ano",
afirma Tony Goulart.
Serviço social e apoio aos emigrantes
Inter-ajuda é uma das características das comunidades
emigrantes açorianas. No estado da Califórnia surgiram várias associações com
carácter e objectivos sociais. A POSSO (Organização Portuguesa para Serviços
Sociais e Oportunidades) foi criada em 1976 e está sediada em S. José, Califórnia. É uma
organização caritativa e sem fins lucrativos. Foi fundada por um grupo de
luso-americanos, a maioria recém-licenciados e alguns estudantes
universitários. "Foram inspirados pela atmosfera de orgulho étnico, que
penetrava os Estados Unidos naquela época, e pelo reconhecimento aos seus
heróicos pais e avós, os quais haviam emigrado dos Açores após a erupção
vulcânica dos Capelinhos", explica Tony P. Goulart.
"Os fundadores da POSSO queriam assegurar-se de que os imigrantes,
trabalhadores e cumpridores dos seus deveres, recebessem a sua quota-parte dos
benefícios
e regalias que lhes eram devidos e que eram usufruídos por outros residentes em
circunstâncias idênticas." A Valley Area Living Enabling Resources (VALER)
é uma organização de serviços sociais de apoio à comunidade portuguesa do
centro da Califórnia. "Modelada à base da organização POSSO de S. José, a
VALER foi concebida para servir como instrumento de ligação da língua e cultura
que muitas vezes afasta o imigrante açoriano dos serviços sociais disponíveis a
todas as comunidades", refere Tony Goulart. A VALER funciona desde 2000. A sua mesa directiva
é geralmente composta por profissionais dos vários ramos de serviços sociais. O
seu orçamento provém, quase na totalidade, do Fundo Memorial J. B. Fernandes.
Contudo, recebe também algum apoio do Governo Regional dos Açores.
Isabel Alves Coelho
Expresso das Nove, aqui.