Com mais de 70 mil pessoas em 2006, a comunidade
portuguesa é a maior comunidade estrangeira no Luxemburgo. Ela representa 16%
da população total e 41% da população estrangeira. Hoje, esta comunidade
constitui-se dos primeiros portugueses a chegar ao país - ou os pioneiros, que
se incluem no êxodo dos anos 60 -, dos que se instalaram mais recentemente, e
também dos luso-descendentes nascidos no Luxemburgo. Que características os
unem e os distinguem - nomeadamente a nível de escolaridade, profissões,
sectores de actividade e condições de vida - são as questões a que um inquérito
do PSELL3 (Panel Socio-Economique Liewen zu Lëtzebuerg) procurou responder e do
qual resultou um artigo intitulado "Zoom sobre os primeiros emigrantes
portugueses e os seus descendentes".
De acordo com o estudo, o perfil dos portugueses radicados no Luxemburgo é, no
geral, relativamente semelhante, quando comparado com o perfil daqueles que já
nasceram no Luxemburgo ou que para aqui vieram quando contavam menos de 12 anos
(a chamada segunda geração).
Cerca de 90% dos portugueses que emigraram depois de 1960 tem apenas o ensino
primário, tendo o panorama melhorado ligeiramente com os recém-chegados, graças
à crescente melhoria do sistema educativo em Portugal.
Bem mais instruídos dos que os primeiros, os portugueses da segunda geração,
tendo frequentado o sistema educativo luxemburguês, são ainda assim 32% a não
exceder o ensino primário, 58% os que obtiveram um diploma do ensino secundário
(na sua maioria respeitante à via técnica ou profissional) e 10% a deter um
diploma do ensino superior.
A título de comparação, os luxemburgueses da mesma idade que terminaram o
ensino obrigatório no Luxemburgo são 29% a possuir um diploma universitário.
Profissões mais diversificadas entre luso-descendentes
Os sectores de actividade e os tipos de emprego dos portugueses emigrantes da
década de 60 e seguintes também não evoluíram muito de acordo com a data de
chegada ao país. Cerca de 60% dos portugueses trabalham ou já trabalharam na
construção, enquanto 70% das portuguesas se dedica à limpeza associada a
particulares ou empresas.
Já a segunda geração, com melhor formação e conhecedora das línguas mais
faladas no Luxemburgo, concentra-se em menor escala nas profissões e sectores
de actividade dos seus pais. O sector de actividade preferido continua a ser,
para os homens, a construção, mas entram também em cena a indústria, o comércio
e a reparação. Já as mulheres exercem funções essencialmente nos domínios da
saúde e da acção social e no comércio.
No que diz respeito à qualidade de vida, e restringindo agora a análise apenas
aos portugueses que emigraram depois de 1993 e toda a segunda geração, dois
grupos mais próximos no ciclo de vida, o estudo revela diferenças
significativas.
Os primeiros registam uma taxa de risco de pobreza monetária relativa de 56%
contra 13% no seio da segunda geração.
Além disto, 64% dos primeiros afirmam viver com muitas ou algumas dificuldades
com os recursos de que dispõem, contra 28% dos da segunda geração.
Os portugueses que cresceram no Luxemburgo e os luso-descendentes são também os
que menos têm problemas em lidar com uma despesa imprevista (80% contra 35%),
na medida em que têm mais facilidade em economizar.
Realizado em 2003 pelo PSELL3, no âmbito do programa estatístico EU/SILC da
União Europeia (Statistics on Income and Living Conditions), o inquérito
abordou 9500 pessoas. Um artigo foi posteriormente redigido por Frédéric Berger
e publicado em 2009. Gratuito e disponível em francês, pode ser consultado aqui.
Bomdia.lu, aqui.