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Lançada Frente Parlamentar de apoio à Comunidade e Cultura Luso-Brasileira
2009-09-24

Por Vanessa Sene
Mundo Lusíada

Foi lançada, em São Paulo, a Frente Parlamentar de apoio à Comunidade e à Cultura Luso-Brasileira. Em sessão na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, o Conselho da Comunidade Luso-Brasileira de São Paulo (CCLB) convocou a comunidade portuguesa local para o evento, em 03 de setembro, no Auditório Franco Montoro.

Para Antônio de Almeida e Silva, presidente do CCLB, o lançamento desta Frente Parlamentar vai possibilitar a divulgação de valores preciosos da comunidade. "Na base de nossa comunidade, há valores preciosos que essa frente parlamentar vai valorizar e aproveitar melhor as suas potencialidades".

O presidente do CCLB enfatizou que a comunidade terá total integração com a frente parlamentar que representa mais de 40 milhões de habitantes do Estado mais populoso do Brasil. "Temos uma integração natural e sempre nos identificamos com os brasileiros. E aqui neste país, não somos estrangeiros, mesmo porque fomos os primeiros a chegar".

Nesta noite, a Assembléia Legislativa também recebeu o cônsul-geral de Portugal em São Paulo, José Guilherme Queiroz de Ataíde, o deputado Fernando Capez, além de diversos representantes associativos. Após o ato solene, a apresentação foi da fadista Glória de Lourdes e do Rancho Folclórico da Casa de Portugal São Paulo.

A iniciativa desta comissão é do deputado estadual Bruno Covas (PSDB), neto do ex-governador de São Paulo Mario Covas, falecimento em 2001. Em entrevista ao Mundo Lusíada, Bruno falou sobre os motivos e objetivos deste apoio aos portugueses de São Paulo.

"A comunidade portuguesa se diferencia de outras comunidades por não precisar exercer uma resistência cultural. Ela não é um corpo que se adapta a nossa sociedade. Ela é a própria essência do Brasil, de sua história de sua cultura, não obstante deve estar sempre atenta para, unida, garantir da sociedade o tratamento respeitoso e a justiça histórica que lhe é devida" diz Bruno Covas, citando que a cultura luso-brasileira é raramente contemplada nos programas dos órgãos oficiais de cultura.

Durante a entrevista, ele ainda defende a valorização da típica cultura de Portugal, mas também um maior conhecimento do cinema, teatro, artes, dança, e música portuguesa contemporânea. Confira a seguir a entrevista na íntegra:

Como surgiu a idéia da criação desta Frente Parlamentar?
BC: A frente parlamentar é um poderoso instrumento de representação política no parlamento, por congregar deputados de várias tendências políticas. Isso garante ampla representação das bandeiras levantadas, favorece a fiscalização e a pressão por medidas do poder executivo, além de facilitar a tramitação de eventuais projetos de lei. Nossa frente, de início já conta com a expressiva adesão de trinta e quatro deputados, mais de 1/3 dos legisladores estaduais. Não poderia ser diferente, pois somos milhões de luso descendentes no Estado de São Paulo.

Por que a decisão de apoiar os Portugueses?
BC: Apoiar a comunidade portuguesa, além de ser um objetivo do meu mandato, é algo que me traz uma satisfação íntima por conta do sangue lusitano que trago nas veias, como bisneto de portugueses. Minhas origens são por parte da minha avó, Dona Lila, cuja mãe é de Matozinhos, no Distrito do Porto . O pai dela é de Braga, a mais antiga cidade portuguesa e uma das cidades cristãs mais antigas do mundo, fundada no tempo dos romanos, ou seja, com mais de 2000 anos de história. Já por parte do meu avô Mario Covas, as origens remetem, pelos avôs dele, a Viseu, cidade que foi apontada como a décima sétima melhor qualidade de vida da Europa e a Paços de Ferreira, outra cidade do Distrito do Porto.

Mas a Frente Parlamentar em apoio à Comunidade e à Cultura Luso-brasileira é acima de tudo um reconhecimento do parlamento paulista a importância dessa colônia, da influência da cultura portuguesa sobre a brasileira, que está incontestavelmente presente em cada canto desse país, sendo compartilhada por nossas sociedades ao longo de mais de 500 anos de história conjunta. Aos portugueses devemos a base da nossa formação, a maneira de ser e de viver, a religião católica, as instituições e o idioma.

Para o Brasil trouxeram técnicas e artes, hábitos e costumes de Portugal, adaptando-os às condições do novo ambiente. As chácaras são lembranças das quintas de Portugal, onde cultivavam legumes, frutas, e flores. É dos portugueses que adquirimos o gosto pela mesa farta, o prazer de comer em companhia dos amigos e convidados, base da nossa hospitalidade. Apoiar os portugueses é apoiar o povo brasileiro.

Objetivo é beneficiar a comunidade e associações em SP?
BC: Sem dúvida, No Estado de São Paulo, a colônia está organizada e representada em mais uma centena de importantes associações, clubes, ranchos folclóricos e consulados. Diante deles a árdua e tão orgulhosa tarefa de manter vivas as tradições portuguesas no Brasil, preservando a identidade e fomentando sua cultura. São essas organizações vitais para o estreitamento permanente dos laços que unem Brasil e Portugal, favorecendo inclusive o intercâmbio cultural e comercial. Vamos oferecer todo nosso empenho, reconhecendo e facilitando o trabalho tão nobre desenvolvido pelas casas portuguesas no Estado de São Paulo, que propiciam ainda maior vivência dos fenômenos culturais e manifestações artísticas dessas pátrias irmanadas.

Quem são os participantes desta Frente e como foi este critério de decisão?
BC: Além dos trinta e quatro deputados signatários e de outros que no futuro a ela desejem se somar, nós instituímos a participação de representantes da comunidade portuguesa. Os primeiros vinte e cinco nomes foram indicados pelo próprio Conselho da Comunidade Luso-brasileira, os indicados são presidentes ou representantes de associações luso-brasileiras. É um espaço que permanecerá aberto garantindo a representação de todas as associações e organizações luso-brasileiras.

Qual será a atividade prática deste grupo?
BC: Vamos colocar os interesses da comunidade portuguesa acima das cores partidárias e trabalhar em conjunto, engajados e comprometidos com a aproximação do poder público na missão de dar a sua agenda política, a verdadeira dimensão nos domínios econômico, financeiro, cultural, social e das relações internacionais entre o Brasil, o Estado de São Paulo e Portugal.

O que já está em pauta para ser realizado?
BC: Importante observar que a comunidade portuguesa se diferencia de outras comunidades por não precisar exercer uma resistência cultural. Ela não é um corpo que se adapta a nossa sociedade. Ela é a própria essência do Brasil, de sua história de sua cultura, não obstante deve estar sempre atenta para, unida, garantir da sociedade o tratamento respeitoso e a justiça histórica que lhe é devida, assim como demonstrar sua imensa força política, social, cultural e econômica. Somente assim, unidos, poderemos superar obstáculos que vão desde a total inobservância do poder público pela cultura luso-brasileira que nunca, ou raramente, é contemplada nos programas dos órgãos oficiais de cultura.

Temos cerca de trinta por cento da população formada por portugueses e seus descendentes e nem por isso são contempladas ações de preservação das nossas raízes ou de uma fundamental integração entre a produção cultural contemporânea entre os dois lados do atlântico. Precisamos valorizar as músicas e danças típicas de Portugal, mas também abrir o Estado de São Paulo e o Brasil para conhecer o cinema, o teatro, as artes, a dança, a música portuguesa da atualidade. Por essas razões aqui demonstradas, entre tantas outras que estarão na pauta dos nossos trabalhos, a constituição dessa Frente Parlamentar em apoio à Comunidade e à Cultura Luso-brasileira é de uma importância incomum para portugueses, luso-descendentes, mas especialmente para todos nós brasileiros, porque diz respeito à defesa das nossas raízes e do nosso futuro em comum.

Pois os países de língua hispânica da América Latina estabelecem entre si uma profunda integração cultural, e compartilham suas músicas, filmes, livros, danças, cotidianamente. O Brasil, além de não desfrutar do mesmo nível de integração com esses países, também está muito distante de uma efetiva integração cultural com Portugal e os demais países de língua portuguesa. Se um grande passo está sendo dado nesse sentido com o uso corrente da língua de Camões pelos quase 200 milhões de brasileiros e os demais integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ainda há muitas barreiras a vencer nesse distanciamento, que se manifesta não apenas na cultura sob o viés sociológico, como também no discutível conteúdo do ensino oficial da história brasileira ao não destacar o Brasil como a maior obra portuguesa.

Inicialmente precisamos investir ainda mais em registrar e conservar nossa memória e documentação, porque precisamos nos conhecer melhor, porque se não fizermos isso hoje quando ainda temos tantos portugueses no Brasil para contar a história, as futuras gerações terão muito mais dificuldade em resgatar a verdadeira história da colonização portuguesa no Brasil.

É preciso dizer nos bancos escolares que somos fruto do empreendedorismo de um Portugal que edificou nessas terras uma verdadeira pátria. E cunhar no espírito da juventude a mesma coragem, sabedoria e ousadia para construir um mundo de justiça, respeito e paz, tradições que nos consagra como nações abençoadas. Afinal, se hoje dizemos que Deus é brasileiro, muito devemos a fé, ao caráter e aos valores da nação portuguesa. Além do mais, hoje ainda há muito que avançar nas nossas relações sob o aspecto comercial que pode e deve ser ainda muito potencializado.

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