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Migrações: Antigo responsável católico em França critica discurso do presidente da República no Dia de Portugal
2012-06-20
Testemunhos de emigrantes portugueses na França e Alemanha recordam envolvimento da Igreja Católica no apoio à diáspora lusa

Lisboa, 20 jun 2012 (Ecclesia) - O antigo diretor do setor das migrações do episcopado francês, José Coutinho da Silva, critica as palavras relativas os emigrantes lusos proferidas pelo presidente da República a 10 de junho, Dia de Portugal.

O país tem sido afetado "pelas migrações forçadas de tantos portugueses e para os quais não se ouviu, nesse dia, uma só palavra de ‘desculpa' por terem sido empurrados para o estrangeiro", sublinha o responsável em artigo publicado na edição desta terça-feira do Semanário Agência ECCLESIA.

A intervenção de Cavaco Silva, em Lisboa, sugere que "os emigrantes portugueses continuam a ser olhados apenas pela utilidade que podem ter para o país", sustenta José Coutinho da Silva, que traça a evolução da diáspora lusa desde a década de 60 até à atualidade.

O regime de António de Oliveira Salazar considerava que "esses emigrantes do salto não passavam de ‘traidores', uns porque fugiam levando os braços de que a terra precisava, outros porque recusavam as armas e iam engrossar as fileiras dos ‘inimigos' do Estado Novo", assinala.

Hoje a diáspora lusa da primeira geração, que continua "a tentar ganhar o seu pão de cabeça levantada sem grandes ilusões quanto a um regresso", sente "revolta" pela situação em Portugal, ao mesmo tempo que acolhe os novos emigrantes "com perplexidade perante a arrogância e as exigências de alguns".

Inocêncio Costa Mendonça foi um dos portugueses que no início dos anos 70 se juntou aos cerca de 1400 compatriotas que residiam na cidade de Heinsberg, no Centro-Oeste da Alemanha, junto à fronteira com a Holanda.

A sua relação com a Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM) começou em 1976, com a chegada à comunidade do padre Olindo Pinto Marques, missionário comboniano proveniente de Viseu.

"Foi notável o que aqui se fez, num curto espaço de seis anos. Mais de cento e cinquenta crianças frequentavam a catequese; 150/200 pessoas iam à Missa dominical, número considerado bom, atendendo à dispersão, ao trabalho de turnos e até à débil formação religiosa da maioria dos portugueses", recorda.

A escassa relação entre os emigrantes "deu lugar à vida em comunidade, mais partilhada, mais sentida, mais respeitada", enquanto que o fim da missa de domingo se tornou ocasião de encontro e convívio: "Fizemos muitos e bons amigos, leigos comprometidos que deram sempre o seu melhor à Igreja e aos irmãos".

O sacerdote partiu para outra comunidade na década de 80 e desde então os emigrantes lusos da região nunca mais tiveram entre eles um missionário português: "Passaram por aqui vários holandeses, que estiveram em África ou no Brasil e, nos interregnos, recorríamos às Celebrações da Palavra".

"Hoje os portugueses são muito menos e estão a ficar totalmente integrados", observa Inocêncio Mendonça, que após o regresso a Portugal continua a colaborar com a OCPM, organismo que celebra este ano o 50.º aniversário.

O dossier do Semanário Agência ECCLESIA desta terça-feira é dedicado às migrações.

RJM

Agência Ecclesia, aqui.

 

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