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"Não é solução dizer às pessoas: "Se não tens trabalho, vai""
2012-05-21
O primeiro-ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, já lhe chamou "imigração de desespero".

Comparam os salários sem comparar as despesas e vêm por aí acima. O ministro do Trabalho e da Imigração, Nicolas Schmit, chama a atenção para as consequências que sair de Portugal pode ter, até para os filhos.

Só no ano passado, chegaram ao Luxemburgo mais de quatro mil portugueses. Como lida o país com esta nova vaga?

Deixe-me dizer-lhe primeiro que sou muito crítico em relação à forma como a Europa está a gerir esta crise. Portugal está a fazer um esforço tremendo, mas milhares de portugueses estão a perder o emprego, a possibilidade de estudar e por aí adiante. É demasiada austeridade. Não há enfoque no crescimento. Temos de consolidar orçamentos, mas não desta forma. As pessoas têm direito de procurar noutros países emprego, futuro, existência. Mas estamos a atingir alguns limites no Luxemburgo. 

É uma questão de quantidade ou de perfil?

Estamos só à procura de pessoas altamente qualificadas. Muitas destas pessoas que estão a chegar não são qualificadas. Algumas até são, mas não falam as línguas requeridas. Eu compreendo por que estão a mudar. Não vêem escolha. Mas têm de pensar. Não é uma solução dizer às pessoas: "Se não tens trabalho, vai". Ouvi dizer que isso foi dito. 

Está a referir-se ao primeiro-ministro português?

Ouvi dizer que disse isso. Não é totalmente absurdo dizer isso. Vivemos numa união económica. Se não tens emprego, podes ir para outro Estado, mas isso é se tiveres emprego. Se não tens, muitas vezes ficas numa situação pior. As pessoas pensam que livre circulação quer dizer liberdade para se viver onde se quiser, mas não. Podem circular livremente até três meses, mas, se querem ficar, têm de se inscrever, de arranjar trabalho, de ter meios de subsistência. Muitas vezes, têm apenas trabalho por alguns dias ou semanas e quando o perdem ficam em apuros porque nem sequer têm direito a subsídio de desemprego. 

Fala-se muito nos adultos, no desemprego [que ronda os seis por cento no Luxemburgo, um terço dos quais portugueses]. E as crianças?

Muitos vêm com os filhos e os filhos ficam perdidos no nosso sistema de ensino. Um miúdo que vem aos 11 ou 12 anos tem de ir para o ensino especial, porque não fala alemão, não fala francês, talvez fale inglês. Têm chegado muitos. Essas turmas estão cheias. Esses pais estão a destruir o futuro dos filhos. 

Os luxemburgueses estão a ficar cansados?

Temos de resolver os problemas comuns com solidariedade europeia. Em toda a Europa há reflexos nacionais. Quer-se as vantagens da União, mas resiste-se à partilha de problemas. Os problemas de Portugal ou da Grécia são piores para Portugal e para a Grécia, mas também são nossos. Temos de encontrar uma solução comum, senão também sofremos com eles. 

Há mais relatos de comportamentos xenófobos...

A xenofobia está em todo o lado, incluindo, suponho, em Portugal, porque em Portugal também há imigrantes. Mas penso que, no Luxemburgo, as pessoas entendem as dificuldades e as vantagens de vivermos com pessoas de diferentes nacionalidades. O problema é que há o sentimento de que o número está a crescer tanto que o país já não consegue oferecer trabalhos bons, casas decentes, educação correcta aos filhos de quem chega. E as pessoas começam a questionar: "O que está a acontecer aqui?"

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