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Comunidade portuguesa deveria pedir nacionalidade andorrenha, sem esquecer raízes
2010-03-05

A comunidade portuguesa que é residente de longa duração em Andorra deveria aceder à nacionalidade andorrana como passo para consolidar o processo de integração, defendeu o presidente do parlamento de Andorra.

Em entrevista á Lusa, Josep Dallères, que hoje recebe o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, analisou o processo de integração da comunidade portuguesa que hoje tem que esperar 10 anos para ter direitos económicos e 20 para poder aceder à nacionalidade andorrana.

Um processo por que a maioria não opta porque Andorra não permite a dupla nacionalidade e quem renuncie à portuguesa tem, comparativamente a cidadãos espanhóis ou franceses, um processo mais complexo para a voltar a reaver no futuro.

Daí que os cerca de 14 mil portugueses que vivem em Andorra não tenham voz activa na política ou governação, não podendo sequer votar nas eleições municipais.

Questionado sobre um possível cenário futuro de reciprocidade, Dallères sustentou que no caso de Andorra e Portugal (dada a pequena presença de andorranos em Portugal) seria sempre "uma reciprocidade de sentido único".

"Prefiro que essa comunidade, sem deixar as raízes portuguesas, se integre realmente aqui e forme parte do país e sejam andorranos e possam votar, não apenas nas municipais, mas em todas as eleições", disse Dallères.

Frisando que a questão da dupla nacionalidade não é permitida na Constituição, sublinhou que alterar o texto é complexo e que pensar nessa possibilidade é "pouco realista", já que os mesmos argumentos que levaram à sua proibição permanecem.

"Haveria sempre uma desproporção entre andorranos com uma só nacionalidade e andorranos com várias nacionalidades. Vejo-o difícil", disse.

Numa análise alargada sobre o sistema político e democrático andorrano, Dallères explicou que apesar de ter "uma longa tradição democrática", no Principado "não há uma longa tradição de partidos estruturados".

"Isso é muito mais recente. E com disciplina de voto no parlamento é ainda mais recente. Estamos agora nisso, a aprender isso", referiu.

E aproveita para deixar comentários gerais sobre a política que teme esteja a transformar-se em produto e a transformar cidadãos em consumidores.

"O que me dá medo é que dá a impressão que a política se está a transformar em mais um produto. A consumir-se como só mais um produto. A ser assim, estamos num sistema não de cidadãos, mas de consumidores", disse.

Dallères desafiou ainda os políticos a aplicarem verdadeiramente os princípios democráticos, que não se limitam às votações, e que devem incluir "ser capaz de dialogar" e "ter em conta as minorias".

"Isso está a falhar aqui e noutros países da Europa. Não chega ter 50,1 por cento. Não basta. Não chega para se governar", afirmou, considerando que mudar este estado de coisas obriga, tanto a empenho dos políticos, como da sociedade civil e dos media.

"O cidadão não tem que pensar na política apenas no dia das eleições. Tem que acompanhar e ver se os políticos fazem o que prometeram. E os políticos têm que falar com quem os elegeu", afirmou.

Jornal de Notícias, aqui.

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